Em história de única corrida, GP da Rússia foi das lágrimas por Bianchi à festa por primeiro título da Mercedes em 59 anos

No extremo oposto no quesito tradição em relação à Inglaterra e Itália, a Rússia recebe a F1 apenas pela segunda vez na história. A prova disputada em 2014 não teve muita emoção dentro da pista, mas foi marcada previamente pela tristeza em torno do acidente sofrido por Jules Bianchi em Suzuka. E, ao fim da prova, pela alegria em razão do título do Mundial de Construtores, logrado pela Mercedes

A temporada 2014 do Mundial de F1 marcou, além do domínio avassalador da Mercedes, também a descoberta de um novo eldorado para a categoria. Afinal, depois de muitas especulações, a Rússia finalmente tornou-se parte do calendário do Mundial. Mas não em um circuito comum. O balneário de Sochi, base dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, recebeu a principal classe do automobilismo numa pista projetada em meio ao Parque Olímpico: Um traçado bastante seletivo com retas, curvas de alta e média velocidades. Características perfeitas para que a Mercedes desse sequência à sua supremacia no Mundial, chegando à vitória com Lewis Hamilton.

O britânico, que viria a ser campeão do mundo ao fim da temporada, recebeu das mãos do excêntrico presidente Vladimir Putin o troféu pela vitória em Sochi. Nico Rosberg, depois chegar a assumir a liderança por alguns metros, errou o ponto de frenagem, passou reto numa curva e teve seu pneu furado. O alemão ainda conseguiu se recuperar ao longo da prova para terminar em segundo, enquanto Valtteri Bottas fechou o top-3 com a equipe Williams.

Foi um dia de sonho para a Mercedes, que voltou a comemorar a conquista do Mundial de Construtores da F1 59 anos depois.

Pilotos prestam homenagem a Jules Bianchi na Rússia (Foto: Getty Images)

Mas o GP da Rússia foi marcado também pela tristeza pelo gravíssimo acidente sofrido por Jules Bianchi uma semana antes, em Suzuka. Antes da largada, os pilotos do grid fizeram um minuto de silêncio em lembrança a Jules. Mas cerca de nove meses depois, o francês não resistiu à terrível lesão axonal difusa, causada pela brutal desaceleração no impacto com o guindaste no circuito japonês, e morreu aos 25 anos, em sua cidade natal, Nice.

A seguir, relembre alguns dos momentos marcantes da curta história do GP da Rússia de F1

TENSÃO E PROTESTOS

As semanas que antecederam a corrida em Sochi não foram fáceis. Havia um grande nível de tensão em razão de um conflito político na fronteira com a vizinha Ucrânia. Mas nem mesmo a derrubada do voo MH317, da Malaysian Airlines por forças ucranianas rebeldes com o uso de um míssil russo foi capaz de parar a F1.

Mesmo diante de várias sanções internacionais e críticas diretas a Putin, para Bernie Ecclestone, esporte não se mistura com política e, portanto, a corrida foi em frente, para a alegria do presidente russo. O mesmo ‘filme’ já foi visto outras vezes pela F1: seja durante as ditaduras na América do Sul, seja no horroroso apartheid na África do Sul ou então no conflito sócio-político em meio às denúncias de violação de direitos humanos no Bahrein.

Suntuoso cenário no balneário de Sochi para receber a F1. Mas o cenário de tensão política gerou críticas e protestos (Foto: Getty Images)

Evidente que, independente do caos político entre Rússia e Ucrânia, a corrida seria realizada. Afinal, além do dinheiro investido pelo país para a disputa do GP, houve um investimento maciço para a construção do circuito no Parque Olímpico, perto dos R$ 600 milhões.

SEGURANÇA REFORÇADA

Vladimir Putin sempre foi um apaixonado pela F1. Tanto que, nos tempos em que Vitaly Petrov era piloto da categoria, o presidente russo deu suas aceleradas no carro amarelo e preto da Renault. E obviamente, o mandatário estaria presente para acompanhar o evento no qual foi fundamental para leva-lo ao seu país: o GP da Rússia de F1 no Parque Olímpico de Sochi.

Mas a situação tensa no país e o medo de eventuais atentados fizeram com que houvesse um grande cordão de segurança, como é costume ver em aeroportos e grandes eventos lotados de autoridades, cercados por detectores de metais, guardas armados e cães de guarda.

Bernie Ecclestone teve todo o apoio de Vladimir Putin para levar a F1 para a Rússia (Foto: Divulgação/Twitter)

Inclusive, houve um temor de que o sinal de rádio das equipes, bem como o das emissoras de rádio e TV, sofresse com as interferências enquanto estivessem sendo feitas checagens pelo estafe de Putin. Tudo para evitar ao máximo qualquer tipo de ameaça contra o presidente. Mesmo as janelas de um prédio localizado em frente às arquibancadas foram todas fechadas para zerar o risco de um atentado. Já as emissoras de TV foram instruídas a filmarem Putin apenas de longe.

No fim das contas, o GP da Rússia foi uma das etapas mais tranquilas de 2014.

A SUPREMACIA HAMILTON

Lewis Hamilton foi praticamente perfeito no fim de semana do primeiro GP da Rússia da história. No sábado, o britânico assinalou com facilidade a pole-position em Sochi, enfiando exatos 0s2 em Nico Rosberg, com quem dividiu a primeira fila.

Na largada, o alemão tentou o bote e até colocou seu carro lado a lado com o de Lewis, mas errou o ponto de freada na saída da curva, teve de lidar com um pneu furado e caiu de segundo para último. Aí o caminho ficou fácil, muito fácil, para mais uma vitória de Hamilton na F1. Foi seu 31º triunfo na carreira.

O primeiro vencedor do GP da Rússia: com o triunfo em Sochi, Lewis ficou muito perto do bicampeonato (Foto: AP)

Hamilton só não chegou ao chamado ‘grand-chelem’ (pole, vitória, líder em todas as voltas e volta mais rápida) porque Valtteri Bottas anotou pela primeira vez na carreira a volta mais rápida de uma prova. Mas era o menor dos problemas, já que a Mercedes tinha muitos motivos para comemorar.

DEPOIS DE QUASE SEIS DÉCADAS, DE NOVO O TOPO

A dobradinha Hamilton-Rosberg em Sochi assegurou com muita antecedência o título do Mundial de Construtores. Foi uma campanha sem sustos. Um ou outro conflito interno entre seus pilotos e apenas três vitórias não-prateadas: os triunfos de Daniel Ricciardo em Montreal, Hungaroring e Spa-Francorchamps. Fora isso, só deu Mercedes.

As muitas corridas ao redor do mundo da F1 atual contrastam com um calendário muito mais enxuto baseado na Europa. O calendário do Mundial de 1955 teve apenas sete provas, sendo que as 500 Milhas de Indianápolis só foram disputadas por pilotos norte-americanos. O campeonato começou em 16 de janeiro com o GP da Argentina, que corou o mito Juan Manuel Fangio.

Festa do título de Construtores da Mercedes em 2014 (Foto: Mercedes)

O argentino venceu mais três corridas naquela temporada: Bélgica, Holanda e Itália. Com o Mercedes W196, Fangio garantiu o tricampeonato e levou a Mercedes ao seu último título na F1. O grande Stirling Moss, o maior dentre os pilotos que não foram campeões do mundo, fechou 1955 como vice.

Ao fim daquele ano, a Mercedes deixou o esporte. O hiato durou até 2010, quando a fábrica comprou a vitoriosa e surpreendente Brawn GP para formar novamente sua equipe, trazendo Nico Rosberg e Michael Schumacher. Depois de muito trabalho e milhões de euros investidos, os resultados começaram a aparecer em 2013 com a chegada de Lewis Hamilton, substituto de Schumacher. Mas foi depois da adoção dos motores turbo pela F1, em 2014, que a Mercedes impôs o mesmo domínio de quase 60 anos. Enfim, a Mercedes voltava ao topo da F1.

O MELHOR ORGANIZADO

A primeira corrida da F1 em solo russo foi alvo de muitos protestos e críticas antes de sua realização. Mas depois do evento em Sochi, o GP foi premiado pela FIA (Federação Internacional de Automobilismo) por ter sido o melhor organizado de 2014.

Trata-se de um troféu entregue pela entidade anualmente aos melhores promotores de GPs do Mundial de F1. Um ano antes, o prêmio fora conquistado pelo GP do Brasil. Mas o evento no Parque Olímpico de Sochi encheu de satisfação os dirigentes que regem o automobilismo mundial, que premiaram o GP da Rússia de F1.

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