Empresa de vencedor da licitação do autódromo do RJ tinha conexões com ‘lavanderia russa’

A reportagem da ‘Agência Sportlight’ revela nesta quinta-feira (25) que a empresa Rio Motorpark, que havia vencido a licitação para a construção do Autódromo de Deodoro, possui conexão com paraísos fiscais que chegam a empresários envolvidos com a ‘Troika Laundromat’, como é conhecida a máquina de lavagem de dinheiro de magnatas russos

A esquisita história sobre a construção da pista de Deodoro ganhou um novo capítulo nesta quinta-feira (25). A Agência Sportlight, do jornalista Lúcio de Castro, publicou uma extensa reportagem em que revela que o histórico do principal elemento da Rio Motorpark, companhia que foi declarada vencedora — única a concorrer — da licitação para construção de um autódromo na região de Deodoro indicam uma ligação com a 'Troika Laundromat', a máquina de lavagem de dinheiro por trás de magnatas russos.
 
Com auxílio da base de dados de consórcios estrangeiros de jornalismo investigativo, a Sportlight apresenta o passado de JR Pereira, CEO da Rio Motorpark. O empresário, recebido há três meses por representantes do Governo Federal — portanto antes da revelação do resultado do ganhador da licitação —, não só tem ligações fortes com as Forças Armadas brasileiras. Há uma conexão iniciada em 2006 por uma empresa criada no Chipre, que virou um paraíso fiscal dos russos, chamada Depayens.
 
A Depayens teve como diretor justamente JR Pereira. E é possível identificar vasos comunicantes da Depayens com o caminho de Mark Kurtser, um dos maiores magnatas russos da atualidade, apontado por suas ligações na 'Troika Laundromat'.
 
Leia a reportagem completa na Agência Sportlight.
Projeto de autódromo no Rio de Janeiro (Foto: Divulgação/Rio Motorsports)

Na semana passada, a Justiça Federal do Rio de Janeiro suspendeu o processo de licitação do autódromo de Deodoro, promessa do presidente Jair Bolsonaro e do governador do RJ, Wilson Witzel, sob a justificativa de receber a Fórmula 1 a partir de 2021. A razão foi a falta de aprovação do estudo prévio de impacto ambiental no local.

O juiz Adriano de Oliveira França, da 10ª Vara Federal, responsável pela decisão, justificou a suspensão à falta de aprovação do estudo prévio de impacto ambiental na área imaginada para a construção da pista.
 
No dia 20 de maio, há quase dois meses, uma empresa chamada Rio Motorsports venceu o processo de licitação – sendo a única concorrente. 
Área destinada à construção do autódromo de Deodoro, no Rio de Janeiro (Foto: Divulgação)

Linha do tempo: como começou a história de levar a F1 para o Rio de Janeiro

Tudo começou no início do mês de maio, quando o presidente Jair Bolsonaro anunciou a assinatura de um termo de compromisso para levar a Fórmula 1 de São Paulo para o Rio de Janeiro, em um autódromo a ser construído na região de Deodoro. Na época, o mandatário assegurou que a etapa brasileira do Mundial já seria disputada na capital fluminense em 2020 – ignorando completamente o acordo vigente com Interlagos, que se encerra no ano que vem. Mais tarde, já no mês passado, o mesmo presidente, após encontro com o chefe da F1, Chase Carey, anunciou, novamente por conta própria, que a corrida será em 2021. Na sequência de sua fala, o dirigente americano não confirmou a informação.

Esse é apenas o episódio que abre a série que tenta mudar o palco do GP do Brasil no país. Um outro capítulo, ainda cercado de incertezas, tem a ver com o local, uma vez que não há um circuito capaz de receber a maior das categorias do esporte a motor no Rio


Desde a declaração de Bolsonaro, os trâmites para dar vida ao projeto foram acelerados. Apenas 13 dias depois do primeiro pronunciamento do presidente, a Prefeitura carioca confirmou que o consórcio Rio Motorsports havia vencido a licitação para a execução das obras da nova pista. O grupo, aliás, foi o único interessado na concorrência. 

A publicação no Diário Oficial do Rio de Janeiro, entretanto, veio confusa e sem qualquer explicação sobre como o projeto será financiado. Além disso, deu-se somente um dia depois de o Ministério Público Federal pedir que o processo licitatório fosse adiado devido à ausência de um estudo de impacto ambiental na região de Deodoro

A empresa

O Rio Motorsports tem à frente uma empresa homônima sediada na cidade de Dover, no estado americano do Delaware, cuja reputação é de um estado com amplo sigilo sobre a operação de empresas. José Antonio Soares Pereira Júnior, conhecido como JR Pereira, é quem está na linha de frente e é o presidente do grupo. Um outro componente é Luiz Fernando Mendes de Almeida Junior. Que, segundo revelação do Panama Papers — conjunto de documentos que revelou milhares de companhias em paraísos fiscais —, teve uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, a Kennedia Management. A empresa foi aberta no começo de 2014 e encerrada antes do fim de 2015.

O nome de JR Pereira também aparece em uma dívida milionária com a União, mas por outra empresa. Segundo informações da Folha de S.Paulo, Pereira foi responsável por uma companhia chamada Crown Telecon, que faliu e deve quase R$ 24.7 milhões à União. José Antonio fez carreira nos EUA na área de segurança e defesa. Foi assim que fez contato com as Forças Armadas/militares brasileiros e chegou em Bolsonaro.

Só que o nome do empresário está também ligado à Crown Assessoria e Consultoria Empresarial S.A, em que é sócio, segundo informações do portal G1. De acordo com a matéria publicada pelo G1, essa foi a empresa que prestou consultoria e ajudou a elaborar os estudos que deram origem ao edital de licitação para a construção do autódromo de Deodoro – licitação ganha pelo consórcio presidido por JR Pereira.

Assim, estão claramente feridos os princípios de impessoalidade, moralidade e igualdade previstos no artigo 3º da Lei das Licitações, já que JR Pereira já sabia de antemão, via Crown, como seria a licitação para sua outra empresa, a Rio Motorsports.

A defesa dos envolvidos

A Prefeitura do Rio de Janeiro negou irregularidades no processo. Garantiu que a licitação foi baseada em um procedimento de interesse (PMI) e que, neste caso, é permitido que a empresa que fez o estudo que fundamenta o edital possa participar da concorrência. O Rio Motorsports também negou qualquer ato ilegal. Ambos ainda afirmaram que o capital social no valor de 10% só precisaria ser comprovado no momento da assinatura do contrato, mas que isso ainda não aconteceu.
O autódromo de Deodoro no Rio de Janeiro (Foto: Divulgação)

Outro capítulo 

O processo de licitação vencido pelo Rio Motorsports também chamou a atenção do Ministério Público do Rio de Janeiro, que apura se houve um procedimento irregular. De acordo com reportagem de O Estado de S.Paulo do último sábado, o MP-RJ investiga um possível direcionamento para uma empresa específica na concorrência pela construção do autódromo.
 
Em documento ao qual o Estadão obteve acesso, o Ministério Público Federal indicou que o edital de concorrência foi alterado, de modo que a versão final “demonstra que a licitação é direcionada para empresa específica”. O órgão já pediu à Justiça Federal do Rio a suspensão da contratação e enviou Ação Civil ao Ministério Público Estadual.

Segundo o Ministério Público Federal, a primeira minuta do edital lançado pela Prefeitura do Rio de Janeiro previa que a equipe a ser contratada para a elaboração dos projetos da obra de construção do autódromo deveria possuir, entre outros itens, experiência na elaboração do Estudo de Impacto Ambiental.

A Prefeitura do Rio de Janeiro também respondeu a reportagem do Estadão e argumentou que o processo licitatório foi realizado de acordo com o previsto no edital. "O edital resultou de uma PMI (Procedimento de Manifestação de Interesse) lançada em 2017, com audiência pública em 23/11/18 e foi analisado durante aproximadamente cinco meses pelo Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro (TCM)”, informou a Prefeitura em nota. O órgão também afirmou que “a Comissão de Licitação adotou integralmente todas as orientações sugeridas pelo TCM".
 
O Rio Motorsports, também procurado, se defendeu e argumentou que não foi notificado pelo Ministério Público Federal para prestar esclarecimentos a respeito do processo de licitação.

Como citado acima, nesta reportagem, o processo de licitação está suspenso.

 

 
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