Entre altos e baixos, Stroll evolui, mas precisa amadurecer para chegar ao topo

Sorriso no sábado, decepção no domingo: no GP da Turquia, Lance Stroll mostrou claros sinais de evolução, mas ainda tem muito o que aprender para alcançar o topo da Fórmula 1 e fazer a fama de "piloto pagante" sumir de vez do currículo

O GP da Turquia teve todos os elementos de surpresa possíveis. Uma pista recapeada às pressas poucas semanas antes da corrida e chuva. Com isso, o grid de largada ficou bagunçado e viu um surpreendente Lance Stroll abocanhar a primeira pole position da carreira — a primeira de um canadense na Fórmula 1 desde 1997 —, mas o domingo não foi tão generoso com o piloto da Racing Point.

Apesar de largar bem e manter a liderança da prova por muitas voltas, Stroll se queixou de muito desgaste nos pneus intermediários conforme a pista ia secando. Com duas visitas aos boxes e ainda reclamando deste problema nos compostos, o piloto de 22 anos despencou no pelotão, foi superado pelos rivais e terminou em nono. Uma decepção após um promissor início de fim de semana — ainda mais vendo o companheiro Sergio Pérez subir ao pódio com a segunda posição.

Na segunda-feira após a corrida, a Racing Point foi até as redes sociais e apressou-se em defender Stroll de maneira oficial: um dano na parte inferior da asa dianteira causou significativa perda de downforce, causando o excessivo desgaste nos pneus. Logo, podemos deduzir que não foi necessariamente culpa do piloto.

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O impensável aconteceu! Lance Stroll foi pole em Istambul (Foto: Racing Point)

O GP da Turquia parecia ser a grande virada para Stroll na temporada 2020. Depois de começar bem o ano, sendo frequente na zona de pontuação, conseguiu um excelente terceiro lugar no GP da Itália, em Monza. Ali, naquele momento, a decisão em mantê-lo para 2021 parecia justa, ainda mais com resultados oscilantes de Pérez. Desde então, no entanto, o canadense entrou em uma espiral negativa, polêmicas e virou alvo de críticas de jornalistas e até mesmo de companheiros de grid.

Após o pódio em Monza, Stroll abandonou três vezes, se ausentou em uma corrida e, por fim, a etapa turca. Neste período, é verdade, podemos eximir de culpa o piloto nos abandonos no GP da Toscana — causado por um furo de pneu — e na Rússia — abalroado por Charles Leclerc ainda na primeira volta.

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O problema do jovem piloto começa no GP de Eifel. Sentindo-se mal, não participou do terceiro treino livre e foi substituído por Nico Hülkenberg. O canadense e a equipe disseram que era uma gripe, que ele estava com dor de estômago, desmentindo contágio pelo novo coronavírus, mas o caso de Covid-19 foi revelado apenas dez dias depois. A indignação no paddock foi notória, ainda mais pela ausência de informações à Federação Internacional de Automobilismo, que advertiu os envolvidos no triste circo.

Para piorar, Stroll voltou a correr no GP de Portugal e teve um dos piores finais de semana da carreira. No segundo treino livre, acidente com Max Verstappen. Na corrida, uma absurda tentativa de ultrapassagem em Lando Norris que rendeu punição antes de abandonar. Os dois companheiros de grid não pouparam nas ofensas, claramente irritados com as situações protagonizadas pelo canadense.

No GP da Emília-Romanha, houve aquele momento em que perguntamos o que acontecia com Lance. Ele alcançou o teto na Fórmula 1 e não tinha mais espaço para evoluir? Seu grande destaque na corrida foi atropelar um mecânico da Racing Point durante o pit-stop e terminar em 13º, pouco ajudando a equipe na briga pelo terceiro lugar no Mundial de Construtores.

Mecânico de Lance Stroll foi derrubado em pit-stop em Ímola (Foto: Reprodução/TV)

A semana foi de questionamentos sobre a má fase de Stroll. A Racing Point tinha errado em manter o piloto e mandar embora Sergio Pérez? Neste momento, o mexicano tinha embalado uma sequência de bons resultados e era quem carregava a equipe nas costas contra as rivais Renault e McLaren. A falta de ajuda fez chover críticas direcionadas ao canadense até o GP da Turquia.

Stroll é um caso curioso na Fórmula 1. Para você acompanhar a categoria, parece que é preciso amá-lo ou odiá-lo, não existe um ponto de consenso, uma parte intermediária da discussão. Quem ama, é fanático. Quem não gosta, gasta o dedos com ofensas. Tudo por um simples motivo: tem um pai bilionário que, por sinal, é o dono da equipe que o emprega. A situação inusitada divide opiniões dos fãs da F1 e gera um interminável debate.

A verdade é que não sabemos se houve uma mudança de mentalidade ou foi o casamento perfeito dos elementos discritos no início do texto, mas o piloto da Racing Point alcançou seu melhor momento na carreira justamente em uma das situações mais difíceis que já vivenciou — não apenas na pista, mas também fora dela. Diante das adversidades da falta de aderência e da chuva, pressionado pela falta de resultados, Stroll brilhou e foi o que sempre cobrou-se: eficiente.

Stroll liderou boa parte da corrida, mas despencou e foi nono na Turquia (Foto: Racing Point)

Se na corrida não teve a mesma sorte e viu a encaminhada vitória se perder, nunca saberemos de fato se teve ou não culpa, mas mostrou evolução. Liderar e encarar pilotos mais capacitados, com carros superiores, mostrou que houve algo de positivo para tirar do fim de semana na Turquia. O resultado final talvez não mostre o verdadeiro potencial de Lance, mas ter o momento de redenção o tornou um dos grandes personagens da etapa por algo positivo. Isso já é louvável se considerarmos a forma com que ele apareceu na mídia durante as últimas semanas.

Ainda há, no entanto, uma brecha na subida de Stroll. Ter uma pole é um belo feito, ainda mais sem ter um dos melhores carros do ano, mas é preciso mais do que isso para chegar ao topo e, principalmente, se manter lá. A grande derrota do canadense na Turquia talvez tenha sido ver o companheiro Sergio Pérez alcançar o pódio e manter a ótima fase que vive, chegando ao quarto posto no Mundial de Pilotos, enquanto se mantém estacionado em 11º. Ainda há uma longa jornada até chegar na parte de cima, mas o primeiro passo já foi dado, considerando que esta é sua melhor temporada na F1.

Para o próximo ano, a grande missão será evoluir ainda mais. E ter o tetracampeão Sebastian Vettel ao lado não vai ajudar. Lance, como “dono da equipe”, vai precisar mostrar que não está lá apenas pelo dinheiro do pai. Tirar o espaço de um bom piloto como Sergio Pérez só aumenta a pressão, mas se tirar exibições interessantes como mostrou na Turquia, talvez a fama de piloto pagante desapareça de vez.

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