F1 acerta em decisão ousada de querer resolver tudo de uma vez só em 2021

A Fórmula 1 apresentou nesta quinta-feira (31) o regulamento de 2021, que vinha sendo debatido há pelo menos dois anos. A grande novidade foi a adoção de um teto orçamentário, assunto dos mais controversos no paddock, mas o novo carro também chamou a atenção. No geral, a maior das categorias dá um interessante passo adiante e mostra coragem e ousadia ao propor um campeonato mais barato

Enfim, depois de quase dois anos de discussões e inúmeras reuniões, o Liberty Media, grupo proprietário da F1, a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) e as equipes foram capazes de encontrar um denominador comum quanto ao que a maior das categorias vai ser a partir de 2021. O revolucionário regulamento traz um interessante pacote técnico, esportivo e financeiro. No fundo, a cúpula da F1 obteve uma grande vitória ao convencer os times de que o campeonato tinha de ser financeiramente mais equilibrado e muito mais simples para continuar existindo. Os chefes não pouparam esforços e se lançaram em uma cruzada para mudar tudo aquilo que ainda falha no Mundial, apostando todas as fichas nestas novas propostas. E esse passo definitivo, embora até ousado demais, é acertado. 

 
Sem dúvida, o ponto alto do conjunto de regras apresentado pela F1 em Austin, onde a 19ª etapa da temporada 2019 será realizada neste fim de semana, é o teto orçamentário, um dos temas mais controversos do paddock. Há anos, as escuderias e os dirigentes discutem sobre limites de gastos, com enorme resistência das equipes de ponta. Agora, porém, há um entendimento, o que pode ajudar, a longo prazo, a reduzir o abismo que hoje existe entre as três principais escuderias e o restante do grid. Só que, mais do que a restrição de gastos, está a padronização de peças importantes e a proibição de certos materiais, considerados excessivamente caros. Ainda carece de uma melhor compreensão de como vai funcionar, especialmente o monitoramento dos gastos, mas é um ponto de partida dos mais essenciais para a construção de uma disputa mais próxima e acirrada.
 
O novo carro também ganha destaque, é bonito e tem um ar futurista, inspirado nos carros da Indy até. A F1 consegue tornar a configuração mais simples no papel, na medida em que descomplica a aerodinâmica. Existe uma volta ao passado com o efeito-solo e a vontade de eliminar qualquer recurso artificial para atingir a meta de facilitar as ultrapassagens, um dos problemas mais graves que a categoria enfrenta. A princípio, o objetivo de ter corridas mais dinâmicas tem grande chance de acontecer. 
A F1 apresentou como o carro de 2021 vai se parecer (Foto: Fórmula 1)
Então, diante do cenário que aguarda a F1 em 2021, os jornalistas do GRANDE PRÊMIO trazem também uma análise detalhada de tudo que foi apresentado no Texas. 
 
VICTOR MARTINS, Editor-executivo
 
Gostei bastante do novo carro. Não haverá as bargeboards laterais, as asas dianteiras vão ter três elementos básicos e a asa traseira também vai ser praticamente padrão, e se a princípio se imagina que a vida dos engenheiros e aerodinamicistas vai ser simplificada, é nessa hora que hão de surgir as mentes brilhantes capazes de fazer a interpretação correta do regulamento e achar uma saída que seja vitoriosa. Impor um limite de R$ 700 milhões também mexe com as principais equipes, mas ainda é um preço alto que vai permitir às atuais grandes terem uma vantagem sobre as demais, de modo que ainda não espero que Mercedes, Ferrari e Red Bull percam o prumo e o reinado, mas creio que equipes saudáveis como McLaren e Racing Point se aproximem da ‘F1 A’ – porque a Renault, com Cyril Abiteboul à frente, é capaz de se perder ainda mais.
 
Entendo que o Liberty Media e a FIA caminhem para reduzir o poder das equipes, sobretudo da Ferrari, e a mudança radical começa a colocar ordem na F1. A padronização de algumas partes e a permissão para copiar desenhos também me parecem uma boa decisão. Isso remete a uma ‘indynização’ da F1? É até compreensível quem pense desta forma. Mas considerando que a Indy tem lá seu trio-de-ferro e as corridas são, em sua maioria, imprevisíveis, a Fórmula 1 realmente encontrou um caminho interessante para trazer mais competição e, consequentemente, patrocínio e público.
 
VITOR FAZIO, Editor de F1
 
Já faz anos que se fala sobre a necessidade de mudanças na F1. A categoria perdeu relevância ao longo dos anos 2000 e, apesar de ainda ser um grande produto para seus fãs de longa data, acabou mergulhando na dificuldade de cativar novos públicos. Há quem diga que o esporte se tornou previsível demais, complexo demais. Dado este panorama, o novo regulamento de 2021 vai tentar algo ousado: resolver tudo de uma vez só.
 
O fundamental talvez seja a tentativa de facilitar ultrapassagens, uma nítida pedra no sapato desde o dia em que a F1 decidiu introduzir o DRS. É bom ver que a alta cúpula da categoria tenha investido tanto tempo em resolver algo que nunca recebeu a atenção devida. Só que, mesmo que os carros de fato se tornem mais fáceis de serem seguidos, isso sozinho não torna a categoria mais empolgante. É aí que entra a grande revolução da vez: o teto orçamentário, sonho de longa data para aqueles que cansaram das distintas realidades financeiras, da F1 dividida em gigantes e médias. Mesmo que só um desses dois itens funcione para valer, a categoria já pode estar em vias de entrar em uma nova era.
 
A pulga atrás da orelha do dia foi a decisão de aumentar o calendário, que agora pode chegar a um total de 25 provas. Por mais que a F1 esteja determinada a explorar novos mercados e se firmar como produto global, há uma nítida contradição nas narrativas. Afinal, como um esporte que diz se preocupar tanto com o meio-ambiente e com um corte de gastos se permite aumentar o já infindável calendário?
A F1 apresentou como o carro de 2021 vai se parecer (Foto: Fórmula 1)
FERNANDO SILVA, Editor de F1
 
A F1 ouviu a voz dos fãs e finalmente tirou do papel o seu projeto de revolucionar o esporte a partir de 2021. Com a coragem de mexer no ponto mais polêmico das mudanças previstas, o orçamento das equipes, o Liberty Media e a FIA abrem a possibilidade de tornar a categoria um pouco mais competitiva e justa. Em termos de divisões A e B da F1, era mais do que necessária uma ação efetiva para acabar com o sistema de castas que vigora atualmente no Mundial.
 
Louvável a posição das equipes em si na aprovação das regras que logo vão estar em vigor. Gesto que chega até a ser uma surpresa, já que a discórdia é reinante na F1. No fim das contas, todos perceberam que é preciso engolir as diferenças e se unir para entregar uma categoria melhor do ponto de vista esportivo, financeiro, sustentável e, principalmente, de melhor espetáculo para o público.
 
A F1, assim, dá o passo decisivo para se renovar, permanecer relevante e voltar à condição de vanguarda tecnológica para a indústria automobilística.
 
PEDRO HENRIQUE MARUM, Editor de Fórmula E
 
Em linhas gerais, a FIA e a F1 acertam com o novo regulamento. A restrição financeira – relativa somente aos gastos voltados para o desempenho – não são proibitivos para as equipes menores e aspirantes a ingresso no Mundial, mas ainda mantém as fábricas maiores com perspectiva de sair na frente e controlar as ações contanto que não gastem mal e desordenadamente. É fundamental para abrir portas numa F1 que quer voar para ampliar a moldura onde está posta.
 
A preocupação com a parte ambiental é interessante também. Há gente que ainda olha quase que com asco para tradicionais organizações olhem para o mundo com olhos do Século XXI. Olhar feio para a F1 pensando em cuidar do seu futuro ao passo em que se preocupa com o mundo diz mais sobre você que sobre o campeonato, vale dizer.
 
A asa móvel é algo que segue a postos, embora o Mundial aposte na ciência para afirmar que as ultrapassagens poderão ser feitas sem o auxílio da traquitana eletrônica. A ver se funcionará, porque a permanência do DRS manda recado que não há tanta certeza assim.
 
Após passar dois anos prometendo mudanças drásticas e profundas nas fundações, F1 e FIA entregaram um plano que faz justamente isso, caso, claro, seja seguido à risca e não seja minguado pelas fábricas maiores. 2021 é, de fato, o marco-zero da aceitação do novo mundo por parte da F1. A resposta sobre sucesso ou fracasso ainda vai demorar a sair, mas a tentativa é necessária.
 
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GABRIEL CURTY, Editor de Indy
 
O grande destaque do regulamento de 2021 fora o design do carro é o teto orçamentário. Ainda que não seja uma forma de equiparar todo mundo, ao menos diminui bastante a disparidade entre o que gastam, por exemplo, Ferrari e Haas. O valor ainda é alto e os times poderosos devem passar bem o teto somando os gastos que não entram em performance, mas é uma medida bastante interessante pensando em competitividade.
 
Também na parte de competitividade, é bola muito dentro tornar os carros mais simples e mais lentos. É óbvio que velocidade é fundamental na F1, mas zero problema em tirar 3s, 4s para aumentar o número de ultrapassagens e de disputas mais acirradas. Afinal, queremos corridas mais movimentadas, né? E que a F1 A tenha as manobras que a F1 B já tem.
 
GABRIEL CARVALHO, Repórter do GP
 
A F1 desenha uma nova identidade para 2021 se baseando no show e bastante nas categorias americanas. A nova asa dianteira e o novo desenho do carro em si foi inspirado no modelo da Indy, categoria que é mais equilibrada e vê o piloto fazendo diferença na frente do carro. O fim dos bargeboards promete encorajar os competidores na disputa, com mais batalhas lado a lado e até batendo roda. Por mais que a comparação seja estranha, o desejo é de ter algo parecido com a Nascar.
 
No meio de tantas inovações e evoluções tecnológicas, a F1 se encontra com aspectos mais simples e mais democráticos, que ganha torcida para que tenha um impacto na melhora da categoria. A mudança de 2021 é a maior prova da nova identidade americanizada que o Liberty Media planeja introduzir.

A Fórmula 1 desembarcou no EUA neste fim de semana para o GP em Austin, no Texas. O GRANDE PRÊMIO acompanha tudo AO VIVO E EM TEMPO REAL
 

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