FIA aceita protestos da Renault e pune Racing Point com perda de 15 pontos e multa

A FIA (Federação Internacional de Automobilismo) concordou com as justificativas da Renault ao protestar contra a legalidade dos dutos de freio do RP20, o carro da Racing Point copiado do Mercedes W10. Entre as punições, está uma multa de cerca de R$ 2,5 milhões

A sexta-feira (7) definitivamente começou quente em Silverstone. Nesta manhã, a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) confirmou que aceitou as alegações da Renault ao protestar contra a legalidade dos dutos de freios da Racing Point no RP20, carro de 2020 apelidado de ‘Mercedes rosa’ por ser praticamente uma cópia do Mercedes W10, modelo usado pela equipe hexacampeã do mundo no ano passado. A equipe, com sede em Silverstone, foi considerada culpada por ilegalidades no processo de design dos dutos de freios e foi punida, uma vez que a FIA entende que a Racing Point violou as regras e que o projetista principal do projeto do duto de freio do RP20 é a Mercedes.

Desta forma, a escuderia alvo dos protestos perdeu 15 pontos no Mundial de Construtores (sendo 7,5 para cada um dos carros a respeito do protesto no GP da Estíria) e ainda foi multada em € 400 mil (ou cerca de R$ 2,5 milhões), sendo € 200 mil (R$ 1,26 milhão) para cada um dos carros.

Segundo comunicado emitido pela FIA, o atual design do duto de freio dianteiro da Racing Point foi uma evolução do que a equipe usou do ano passado, mas entendeu que o conceito dos dutos dos freios traseiros do RP20 foi baseado no que a Mercedes produziu.

“Como os dutos de freio traseiros do RP20 não foram aplicados no RP19 em 2019, e os comissários acreditam que o esforço de projeto despendido pela Racing Point na adaptação dos dutos de freio traseiros projetados pela Mercedes para o W10 empalidece na comparação com o trabalho original da Mercedes, os comissários concluíram que o principal projetista dos dutos traseiros do RP20 foi a Mercedes, não a Racing Point”, salientou.

“A Racing Point teve a oportunidade tanto em 2019, quando foi comunicado às [equipes] participantes que os dutos de freio passariam a fazer parte das partes listadas [peças originais], como em 2020, durante a visita da FIA à sua fábrica, para esclarecer suas intenções a respeito dos dutos de freios, mas optaram por não fazê-lo”, explicou a FIA.

As punições dizem respeito a três finais de semana. A primeira vez que a Renault protestou contra a Racing Point foi pouco depois do GP da Estíria. As sanções aplicadas pela FIA à equipe de propriedade do consórcio liderada por Lawrence Stroll se referem à prova disputada no Red Bull Ring.

A FIA aceitou os protestos da Renault contra a Racing Point (Foto: Racing Point)

A Renault repetiu os protestos nos GPs da Hungria e da Inglaterra. Sobre tais etapas, a FIA acatou a manifestação da equipe de Enstone, mas decidiu impor somente reprimendas (advertências) à Racing Point.

“Como os detalhes da infração são os mesmos em cada caso, a razão por trás de cada decisão é a mesma. A respeito da punição, a visão dos comissários é de que a punição no GP da Estíria é proporcional à violação no processo de design do carro. Foi isso que levou à infração e uma reprimenda é suficiente para os GPs da Hungria e da Inglaterra”, informou a entidade que rege a Fórmula 1 no documento que torna público a sua decisão.

A Racing Point argumentou que o processo de design pode começar com informações externas. Mas os comissários da FIA responderam que as primeiras informações para desenvolver uma peça devem ser da equipe que vai continuar com o processo.

A FIA definiu que o que a Racing Point fez foi uma adaptação, mas não um projeto do zero, o que contraria o regulamento da Fórmula 1, entendendo que o esforço da equipe não foi o da Mercedes, de onde se origina o projeto dos dutos de freios. Assim, a entidade concluiu que a Racing Point obteve vantagem.

No entanto, a escuderia de Silverstone não vai precisar desenhar os dutos de freio porque a FIA entende que não faz sentido que a Racing Point “desaprenda” o que já se sabe, mas a organização julgou ser necessário punir de alguma forma para neutralizar a vantagem obtida.

No caso da punição com a perda de pontos, esta afeta somente a equipe no Mundial de Construtores e não influencia na tabela do Mundial de Pilotos. Sendo assim, Sergio Pérez e Lance Stroll permanecem com 22 e 20 tentos, respectivamente. Já a equipe, com a perda de 15 pontos, agora cai para 27. A principal beneficiada é justamente a Renault que, com 32 tentos, passa exatamente a Racing Point e sobe para a quinta posição no campeonato.

Os protestos da Renault resultaram em punição à Racing Point (Foto: Renault)

A decisão da FIA a respeito do caso começou a tomar forma na última quarta-feira, quando convocou representantes da Racing Point, Renault e Mercedes para uma reunião em Silverstone.

A performance da ‘Mercedes rosa’ da Racing Point chamou a atenção desde os testes de pré-temporada, em fevereiro, e causou celeuma entre as rivais por conta da semelhança do RP20 com a Mercedes W10, carro usado pela equipe de Brackley no ano passado. O bom rendimento se confirmou no começo da temporada, nos GPs da Áustria e da Estíria, os dois no Red Bull Ring. A Renault, depois de ter sido superada pela Racing Point no segundo fim de semana austríaco, entrou com o primeiro protesto, situação que foi repetida na Hungria e na Inglaterra.

A questão sobre como a Renault saberia uma informação tão específica como é o projeto de um duto de freio gerou desconfiança no paddock. Segundo publicou a revista alemã Auto Motor und Sport, por meio do jornalista Michael Schmidt nesta semana, ex-funcionários da Racing Point levaram o questionamento ao time de Enstone.

A Racing Point alegou ter 886 desenhos dos dutos de freios e que se baseou em imagens obtidas por fotógrafos na pista e nos boxes, o que é permitido pelo regulamento. A equipe de Silverstone ainda alega que adquiriu partes dos freios da Mercedes antes da FIA listar os dutos de freios como peças originais que devem ser produzidas pelos próprios times.

A equipe de Silverstone, de propriedade do consórcio liderado por Lawrence Stroll, garante que o RP20 é legal, em que pese a semelhança com o modelo hexacampeão em 2019 com a Mercedes.

“Durante uma visita a nossa fábrica, a FIA revisou toda a documentação sobre os nossos dutos de freio. No mesmo dia, compararam o desenho com o da Mercedes e fizeram seus comentários”, disse Andy Green, diretor-técnico da equipe.

Contudo, a informação de que a FIA inspecionou os dutos de freio foi negada por Nikolas Tombazis, ex-Ferrari e atualmente diretor-técnico da entidade. Green se defendeu e disse que o engenheiro de origem grega não esteve presente no momento da inspeção e que, depois deste encontro, a equipe enviou mais informações à FIA.

“Não se trata de esconder o desenho. Eles comentaram que a solução era igual à da Mercedes, e explicamos que isso é porque compramos dutos de ar de 2019, quando ainda era legal. Nossos advogados estão lidando com esse problema há algumas semanas e mandamos mais documentos para a FIA durante o fim de semana”, explicou.

Incerteza sobre apelação e inconformismo sobre atitude da Renault

A Racing Point deixou nos bastidores a intenção de apelar de uma eventual decisão negativa. A equipe tem até sábado de manhã para notificar a FIA sobre um possível recurso. Otmar Szafnauer, chefe da escuderia de Silverstone, falou sobre a punição sofrida e aproveitou para cutucar a Renault, a grande artífice dos protestos.

“Minha opinião é que a boa notícia do julgamento é que o carro é completamente legal do ponto de vista técnico, para que possamos continuar a operar os dutos de freio. É somente uma questão de processo que está nos regulamentos desportivos. Lemos os regulamentos e não há nada específico que diga que não podemos fazer o que fizemos. Outras equipes fizeram exatamente o mesmo, talvez menos do que fizemos ou até mais, de certa forma. Então, é um pouco desconcertante”, lamentou.

“No entanto, agora precisamos decidir se devemos apelar da nossa punição. Mas, como disse, a boa notícia é que podemos continuar usando o carro como está. Aqui e depois, é completamente legal. Existe apenas uma parte do carro que passou de uma parte não listada para uma parte listada, que são os dutos de freio”, explicou o dirigente.

“Eu estava na reunião do grupo de estratégia quando votamos a favor, passando de uma parte não listada para listada. Algumas equipes não queriam que isso acontecesse, e nós fomos o voto decisivo. Apoiei Cyril [Abiteboul, chefe da Renault] de todo o coração nisso. Iniciamos esse processo bem antes dos dutos de freio serem contemplados, passando de não listados para listados. Então, dói e me surpreende”, concluiu.

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