Fórmula 1 repudia declarações de Ecclestone sobre racismo e demarca distância
Bernie Ecclestone expressou o racismo estrutural em entrevista concedida à jornalista Amanda Davies, da emissora norte-americana CNN. O antigo chefão da Fórmula 1 afirmou que “muitas vezes afro-americanos são mais racistas que os brancos”. A declaração foi repudiada pela categoria, que afirmou que tal fala “não tem mais lugar na F1 ou na sociedade”
Jamais o debate sobre o racismo esteve tão presente no esporte a motor como nos últimos dias. No fim de semana passado, Lewis Hamilton, hexacampeão mundial de Fórmula 1, mostrou mais uma vez a sua consciência social e foi para as ruas de Londres protestar contra o racismo e a violência policial, na esteira do assassinato de George Floyd em Minneapolis, nos Estados Unidos, por Derek Chauvin, um policial branco. No fim da tarde de domingo passado, do outro lado do Atlântico, em Talladega, um nó de forca, símbolo racista, foi encontrado na garagem de Bubba Wallace, o único piloto preto no grid da Nascar. A reação da categoria foi imediata, com seus colegas de trabalho e o chefe de equipe, Richard Petty, expressando todo o apoio. Mas alguns ainda insistem em minimizar o racismo. Ou pior: acreditar que existe racismo reverso.
Em entrevista à emissora norte-americana CNN, o antigo chefão da Fórmula 1 minimizou o racismo sofrido pela população negra e criticou a iniciativa da categoria, impulsionada por Lewis Hamilton, na luta contra a discriminação racial. As declarações foram rebatidas pela Fórmula 1 por meio de comunicado enviado na tarde desta sexta-feira.
Ao falar sobre o assunto, Bernie ressaltou. “Não acho que vai fazer nem mal e nem bem para a Fórmula 1. Só vai fazer as pessoas pensarem, o que é mais importante. Em muitos casos, os afro-americanos são mais racistas que os brancos”, disse o britânico de 89 anos.
Luta de Hamilton e Bubba Wallace gera incômodo e expõe esgoto do esporte a motor
A jornalista Amanda Davies, que conduziu a entrevista com Bernie, contestou a afirmação do britânico, que não trouxe nenhuma evidência para a sua tese, a não ser dizer que “percebeu” tal situação ao longo dos anos.
“Ninguém se importou com essa questão antes. Acho que é importante, mas já existe há muito tempo e ninguém fez nada. Por que não fizeram alguma coisa há dois ou três anos? Estão ocupados tentando ganhar corridas, buscar patrocinadores ou algo do tipo”, acrescentou.
Ainda assim, Bernie elogiou a postura de Hamilton na luta contra o racismo. “Primeiro, ele é muito, muito talentoso como piloto, e agora parece ser extremamente talentoso quando está em pé e pode discursar. Esta última campanha que ele tem feito para os pretos é maravilhosa. Ele está fazendo um ótimo trabalho, e é gente assim que as pessoas escutam”.
O ex-piloto e ex-presidente emérito da Fórmula 1 também se posicionou contrário à derrubada de estátuas de personalidades com ligação histórica com o racismo, como mercadores de escravos. Recentemente, em protestos na Inglaterra, manifestantes derrubaram a estátua do escravocrata Edward Colston, em gesto que foi apoiado por Hamilton.
“É completamente estúpido. Acho que as pessoas precisam começar a ser ensinadas na escola. Então, eles crescem sem ter de pensar nessas coisas. Eles deveriam tê-las deixado lá. Leve as crianças da escola para olhar [para as estátuas] e dizer por que estão lá e o que as pessoas fizeram, o quão errado foi o que eles fizeram”, concluiu.
Comentários de Bernie “não têm mais lugar na F1 ou uma sociedade”
Na semana em que lançou a campanha #WeRaceAsOne (corremos juntos, em tradução livre), a Fórmula 1 se abriu para a diversidade e abraçou a luta contra as injustiças sociais, marcando posição firme contra o racismo e a homofobia. Ao repudiar as falas infelizes de Ecclestone, a categoria ratifica tal posicionamento.
“Em um momento em que a unidade é necessária para combater o racismo e a desigualdade, discordamos completamente dos comentários de Bernie Ecclestone, que não têm lugar na Fórmula 1 ou na sociedade”, explicou a categoria em nota.
A Fórmula 1 aproveitou a oportunidade para deixar claro que Ecclestone já não tem mais nenhum vínculo com a atual gestão, liderada pelo Liberty Media. “Ecclestone não desempenha nenhum papel na Fórmula 1 desde que deixou nossa organização em 2017, com o título de Presidente Emérito, vencido honorificamente em janeiro de 2020”.
🏁 O GRANDE PRÊMIO agora está no Comunidades WhatsApp. Clique aqui para participar e receber as notícias da Fórmula 1 direto no seu celular! Acesse as versões em espanhol e português-PT do GRANDE PRÊMIO, além dos parceiros Nosso Palestra e Teleguiado.