F1 vive ano surpreendentemente eletrizante e prova sucesso do regulamento de 2022
Pelotão agrupado, blocos de várias equipes dividindo forças e boas brigas entre pilotos. Tudo isso seria pouco para chamar o regulamento de 2022 de sucesso. Mas 2024 mostrou nova faceta
Alguns diferentes aspectos do plano que FIA e Fórmula 1 tinham, como conjunto, desde 2019 para as regras que estrearam em 2022, haviam entregado aparente sucesso nos primeiros dois anos. Mas havia um elemento, o mais importante deles no que diz respeito ao público, que se mostrava um fracasso retumbante: ausência de brigas por vitória. Finalmente, apareceram. É o melhor momento do regulamento atual.
Inicialmente, é preciso fazer um breve estudo de caso do que funcionou em 2022 e 2023. O conjunto de regras veio já sob o comando do teto orçamentário e passou a ser a primeira novidade técnica com possibilidades financeiras finitas para investimento das equipes. E assim foi. Ao menos na temporada 2022, nenhuma ilegalidade relacionada ao teto – os números de 2023 saem somente nos próximos meses. Um passo importante para o estado de estabilidade financeira, algo historicamente quase mítico para a F1.
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Na pista, a aproximação de blocos foi flagrante. Não há mais equipes nanicas na F1: todas competem entre si. Sim, há diferentes blocos na ordem de forças, mas são blocos robustos que lutam entre si com a possibilidade de brigar num nível diferente dado o destino de certo pacote de atualizações ou de as circunstâncias de uma pista.
A queda é inerente, como mostra sobretudo a desorganizada Alpine. Mesmo com forte dupla de pilotos e investimento de ponta, a queda com tamanho desarranjo é inevitável. A Haas, com maior estabilidade, melhora. Muitas vezes os balanços se dão dentro do mesmo campeonato, e um passo em falso é capaz de jogar a aparente sexta força para a penúltima posição na ordem natural, como foi o caso da RB na parte final antes das férias.
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Na frente, seja qual foi o argumento contemporizador, não há como fugir do fato de somente no último ano da era híbrida pré-mudança e 2022 houve um desafio real a quem saiu na frente. A Mercedes enfileirou todos os títulos de Construtores no período entre 2014 e 2021, com derrota somente no último Mundial de Pilotos. A Ferrari se aproximou em dado momento, mas não conseguiu manter a briga até o fim dos campeonatos em que cresceu, sobretudo 2017 e 2018.
Era impensável ver a poderosa Mercedes desabando por terra, com a derrota possível apenas com a ascensão de uma rival iluminada pela luz celestial do pote de ouro no fim do arcoíris. Agora, não.
A Red Bull saiu em disparada pela metade de 2022, após breve desafio da Ferrari, e enfileirou quantidade recorde de vitórias de lá, passando por todo o ano de 2023 até as primeiras cinco corridas de 2024. Quando mudou, mudou tudo.
A Ferrari, rival iniciou, ficou pelo caminho, enquanto a McLaren encontrou mapa da mina em que havia se perdido uma década atrás e passou a ter o melhor carro do grid. A Mercedes, perdida por completo há dois anos, repentinamente passou a deixar o time das bebidas energéticas no retrovisor. A Aston Martin voou no início do ano, e saiu de uma antiga ‘F1 B’ para segunda força do grid em dado momento. Em 2024, caiu, é verdade, mas mostrou que o norte do investimento feito nos últimos anos já encontrou certos nervos.
A F1, por fim, vive um momento mais aberto do que há muito tempo, talvez desde o início de 2013 – que em seguida se tornaria show de uma nota só da Red Bull e de Sebastian Vettel. Mas pouco importa. Essa F1 de hoje é totalmente diferente daquela e não indica que abrirá contagem para Red Bull se deixar nocautear ou qualquer rival assumir papel de domínio irrestrito.
Após 15 anos de longos domínios salpicados por breves duelos, finalmente a F1 oferece uma briga múltipla e desordenada que tanto procura, mas quase nunca encontra. É possível, até provável, que a situação seja encaminhada para o ano que vem, sob o mesmo conjunto de regras e segredos que deixaram de ser secretos, mas 2026 oferece outro mundo, outras regras e nova separação do pelotão.
Portanto, é hora de aproveitar. Exemplo disso é a audiência do mercado para o qual o Liberty Media, dono da F1, tem se curvado com poucos pedidos de contrapartida, o dos Estados Unidos. A média de audiência das corridas caiu levemente em 2023 na comparação com 2022 – especialmente a segunda metade da temporada. Em 2024, as corridas de Miami e Inglaterra, que contaram com derrotas de Max Verstappen e da Red Bull, atingiram recorde de audiência na TV dos EUA. Com o campeonato aberto, a expectativa é que a curva de audiência esquente nas dez últimas provas. No Brasil, provas como Mônaco e Canadá também renderam números altos em relação à média.
E o aumento da audiência nas provas recentes indica o que é definitivo para taxar o regulamento de sucesso. O pelotão, afinal, estava mais próximo desde 2022, permitindo brigas diretas de pista entre pilotos das mais diversas equipes, facilitando que os astros do espetáculo mostrassem as próprias habilidades. Mas o sucesso mesmo só vem com um elemento novo que apareceu em 2024: as brigas por vitórias.
Sem elas, pouco adiantaria cantar em verso e prosa o sucesso do restante. Mas o desafio real à Red Bull, até outro dia intocável, deu nova dimensão ao que é a F1 deste momento.
E é aí que pula o sucesso de mercado que também sorri para a questão das regras, mas com ou sem audiência animada o regulamento é sucesso esportivo, premiado com briga por vitórias e títulos. Que pena que tem data para acabar.
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