GP do Brasil vê Liberty “sem conhecimento” e iludida com fala de Bolsonaro sobre RJ

Ao GRANDE PRÊMIO, Tamas Rohonyi disse que as negociações sobre a renovação de contrato da F1 com São Paulo “estão andando”. Por outro lado, o brasileiro de origem húngara diz que há gente no Liberty Media que acredita que vai ter corrida no Rio de Janeiro no ano que vem: “Tem de ser muito ingênuo para pensar isso”

O cancelamento do GP do Brasil de Fórmula 1 em 2020 é fato consumado e representa também um enorme ponto de interrogação sobre o futuro do evento em São Paulo ou mesmo no país. O contrato assinado pela capital paulista com a categoria vai até o fim desta temporada, de modo que não há nenhuma garantia de que a F1 volte a correr em Interlagos num futuro próximo. O Liberty Media, empresa dona da competição, negocia com governo do estado de São Paulo e a prefeitura local, mas também conversa com o Rio de Janeiro, que acena com a construção do autódromo de Deodoro, orçado em cerca de R$ 800 milhões, na Floresta do Camboatá, e que tem o apoio do presidente da república, Jair Bolsonaro.

Em entrevista exclusiva ao GRANDE PRÊMIO no último fim de semana, Tamas Rohonyi, promotor do GP do Brasil e responsável pelo principal evento do esporte a motor no país desde 1980, revelou que, mesmo com a proposta fluminense para voltar a receber a prova, as negociações do Liberty Media com a capital paulista “estão andando”. E ainda acredita que “a tendência seria renovar com São Paulo”.

Mas o brasileiro de origem húngara explica que parte da cúpula que detém os direitos comerciais da Fórmula 1 aposta que o Rio de Janeiro vai ser o novo destino do GP do Brasil. Quando questionado se São Paulo poderia ter o contrato renovado por mais um ano, como aconteceu recentemente com Hungria e Itália, países sem condições de viabilizar seus respectivos GPs com público em 2020 por conta da pandemia do novo coronavírus, Tamas explica que a situação paulistana é diferente e pouco otimista neste aspecto.

Tamas Rohonyi, Chase Carey e João Doria em reunião durante negociações para renovação da F1 com São Paulo em 2019 (Foto: Rodrigo Berton/Grande Prêmio)

“Poderia até sair [a renovação], mas aí entraria em um outro campo de discussão, que é o plano da FOM (Formula One Management) com relação ao GP do Brasil. Vocês acompanham muito bem a situação. Ainda tem gente em Londres, na sede da FOM, que acredita que no ano que vem vão correr no Rio de Janeiro. Tem de ser muito ingênuo para pensar isso…”, cravou Rohonyi.

A situação da proposta do Rio de Janeiro tinha um entrave que foi desfeito semana passada, quando Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, acolheu pedido da prefeitura municipal para a realização da audiência pública virtual para discutir o relatório de impacto ambiental da construção do autódromo de Deodoro. A audiência está marcada para 7 de agosto, às 19h (horário de Brasília), e representa um passo fundamental para que o consórcio Rio Motorsports consiga a emissão da licença prévia e possa assinar o contrato para executar a obra.

Contudo, mesmo que o Rio de Janeiro consiga avançar com a proposta e firme contrato com o Liberty Media para ser novamente sede do GP do Brasil de Fórmula 1, nada garante que o autódromo vai ficar pronto em tempo hábil para realização do evento já no ano que vem, como é o desejo das autoridades locais.

Há décadas atuando no meio da Fórmula 1, Rohonyi, presidente da International Publicity, sabe bem que um autódromo de grande porte e homologado para receber uma etapa do Mundial de Fórmula 1 leva, pelo menos, cerca 20 meses para ser construído. Portanto, na sua visão, mais do que a proposta ser considerada irreal por si só é o fato desta ser levada a sério por parte do Liberty Media.

“É fisicamente impossível construir um autódromo em qualquer lugar do mundo, qualquer lugar, em dois ou três anos. E é aí que eu não entendo a postura dos atuais proprietários da F1 [Liberty Media]. Eu não sei se eles entendem exatamente o que é necessário para montar um evento do campeonato mundial”, bradou o empresário.

“Se você perguntar para uma grande e poderosa construtora se faz as obras em, digamos, 14 meses, a resposta até pode ser sim, mas aquilo certamente não será um autódromo. Eles vão ter de transformar um lugar adequado para receber a corrida”, explicou.

Futuro do GP do Brasil está em xeque diante de impasse sobre renovação de contrato (Foto: Getty Images/Red Bull Content Pool)

A ilusão de Chase Carey com Jair Bolsonaro

Em 24 de junho de 2019, Chase Carey, dirigente máximo da Fórmula 1, esteve em Brasília e se reuniu com Jair Bolsonaro, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, e o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). Após o encontro, o presidente da república afirmou que o GP do Brasil tem “99% de chance” de voltar ao Rio de Janeiro já em 2020. Depois, recuou e afirmou que se referiu a 2021, mas o executivo norte-americano reforçou que não há acordo.

No entanto, a frase dita por Bolsonaro parece ter mexido com Carey, revelou Tamas, que se encontrou com o dirigente dias depois para discutir a renovação, ainda emperrada, de São Paulo com a Fórmula 1. Neste encontro, o promotor do GP do Brasil revelou espanto por notar que o chefão da categoria confia no que disse o presidente da república.

“O que eu sei é que tivemos uma reunião com o governador (João) Doria quando Chase Carey esteve em São Paulo. O governador disse: ‘Chase, essa história de construção de um autódromo no Rio é uma fantasia. Eu conheço um pouquinho as condições deste país e do Rio, e não consigo entender como você acredita nisso’”, recordou.

“E aí Chase, curiosamente, deu uma justificativa que… não é totalmente sem fundamento: ‘Se o presidente da república me diz que tem 99% de certeza que vai acontecer no Rio, quem sou eu para duvidar?’ Mas por aí se vê que ele não tem o conhecimento nem discernimento suficientes para entender. E confesso a você que, a partir disso, eu que não entendo”, complementou Tamas Rohonyi.

Na mesma ocasião daquele encontro, João Doria, governador de São Paulo, chegou a dizer que a ideia era assegurar a permanência do GP do Brasil em Interlagos pelo menos até 2040. Mas o cenário de crise provocado pela pandemia, que culminou com o cancelamento do evento neste ano, mostra que as intenções do político tucano ainda estão bem longe de se concretizar.

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