GPs ‘tapa-buraco’ de 2020 deixam lição: F1 precisa testar pistas novas mais vezes

As cinco pistas que surgiram no calendário da Fórmula 1 como solução à pandemia do coronavírus renderam boas corridas, em maior ou menor grau. A categoria precisa ler os sinais e entender que é hora de revezar pelo menos algumas corridas para criar variedade

O GP da Turquia da semana passada voltou a deixar clara uma tendência na Fórmula 1 2020. Uma vez mais, um traçado introduzido de última hora no calendário rende uma grande corrida. Já tinha acontecido em Mugello, Nürburgring, Portimão e Ímola, apesar de essas todas serem menos espetaculares do que a ação vista em Istambul. É uma tendência clara e que não pode ser ignorada para o futuro: a F1 precisa variar o seu calendário com pistas diferentes como forma de chacoalhar o campeonato e tirar equipes da zona de conforto.

É que as corridas boas não são consequência necessariamente de as pistas adicionadas serem as melhores de todas. Ímola, por exemplo, rendeu um monte de corrida chata depois das mudanças de 1994. O que parece tornar as corridas melhores é o puro fato de equipes e pilotos não saberem muito bem o que esperar. A pista italiana teve só um treino livre, assim como Nürburgring. Fica mais difícil acertar o carro e encaixar melhor a pilotagem, o que ajuda a criar uma disputa mais embolada. E com a vantagem de não precisar de artificialismos como, por exemplo, o grid invertido.

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Em Istambul, a F1 não estava pronta para o asfalto recapeado. Em Portimão, ninguém tinha muita ideia de como os pneus iam se comportar. Em Mugello, um pouco de sorte por acidentes generalizados. Somando essas três aos dois exemplos do parágrafo anterior, temos um quinteto de corridas que agradou bastante.

Portugal também rendeu corrida boa no Algarve (Foto: Mercedes)

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Contraste isso com corridas tradicionais do calendário. Barcelona, Spa-Francorchamps e Nürburgring renderam GPs chatinhos. São pistas já manjadas, principalmente a espanhola. Por mais que outras pistas recorrentes – Red Bull Ring, Silverstone e Monza – tenham rendido boas provas, fica claro que isso não é garantia alguma.

Se a F1 variar mais pistas e criar uma espécie de rodízio, teremos etapas surpreendentes com certa frequência. Até Barcelona pode ter alguma salvação se a categoria deixar de andar por lá duas vezes por ano, contando pré-temporada e GP. Misture corridas menos significativas com outras que pedem passagem e teremos um campeonato melhor.

Bom exemplo disso é a Fórmula E. Em seis anos de existência, 22 ePs diferentes já foram realizados. Foram 25 pistas diferentes, sendo que nenhuma delas figurou em todas as temporadas. As que chegaram mais perto disso, Tempelhof e Hermanos Rodríguez, surgiram em cinco dos seis campeonatos. As outras fazem rodízio enorme, o que tem pontos positivos e negativos. Por um lado, a FE não tem um traçado realmente icônico, que seja a cara do certame; por outro, a mudança constante de palcos abre caminho para surpresas e necessidade constante de adaptação da parte de equipes e pilotos. Dada a empolgação que a categoria elétrica consegue gerar desde a fundação, parece funcionar.

Mugello também, contrariando expectativas (Foto: Getty Images/Red Bull Content Pool)

É claro que trata-se de um exemplo extremo. A F1 não vai e nem deve ficar revirando o calendário ano após ano. Mas fica a provocação: e se a cada ano uns cinco GPs fossem trocados? É importante manter provas icônicas como GP de Mônaco, da Itália ou da Inglaterra, mas as menos tradicionais podem passar um ano fora sem fazer muita falta.

Como 2020 mostrou, variedade não falta. Indo além até mesmo das cinco corridas que surgiram no calendário por causa da pandemia do coronavírus, há opções aos montes. Sem cavocar muito, há Brands Hatch, Estoril, Valência, Kyalami, Buenos Aires, Indianápolis… E há ainda a opção de revezar pistas de rua, criando opções infindáveis em cidades ao redor do mundo.

O primeiro passo nessa direção pode ser dado já em 2021. Com o GP do Vietnã subindo no telhado por escândalo local de corrupção, a F1 mantém Algarve e Istambul de prontidão. Uma dessas duas pode surgir como substituta, ajudando o calendário a seguir com 23 etapas. E, claro, há ainda a possibilidade de a segunda onda da pandemia seguir causando problemas e forçar soluções parecidas com as vistas na temporada vigente.

No fim das contas, basta a F1 querer. Inovação é o que a categoria precisa, ainda mais quando isso aparenta cair no gosto do público. Já passou da hora de desenvolver um calendário menos estático e mais dinâmico.

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