A DISPARIDADE DE FORÇAS entre as equipes de ponta e as do meio do pelotão nos últimos anos faz com que a F1 seja dividida em A e B. Na chamada ‘divisão principal’, estão as gigantes Mercedes, Ferrari e Red Bull, com poderio financeiro bem maior e capacidade de investir muito no desenvolvimento dos respectivos carros ao longo de todo o ano. Já a F1 B conta com todo o restante do grid pela primazia de ser a quarta força, ou a ‘melhor do resto’. Com orçamento robusto por ser uma equipe de fábrica, a Renault parece ser a que mais tem condições de fazer a transição de um grupo para outro, enquanto cinco das outras equipes lutam entre si em uma batalha que tende a ser ainda mais parelha em 2019.
Uma vez que os franceses contrataram Daniel Ricciardo a peso de ouro para liderar uma nova fase do time de Enstone no Mundial de F1, Alfa Romeo, Haas, McLaren, Toro Rosso e Racing Point chegam à nova temporada em condições quase de igualdade. A Williams, em grave crise técnica e administrativa, destoa deste grupo e tende a ser a lanterna, contrastando com os tempos em que foi a equipe a ser batida na F1. Quanto às outras, fica difícil dizer quem larga em vantagem para fechar o top-5 do grid em 2019.
Nico Hülkenberg lidera a F1 B sonhando em voltar a ser grande no Mundial (Foto: Renault)
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Quarta colocada no Mundial de Construtores do ano passado, a Renault viveu um ano inconstante e com resultados apenas razoáveis, sequer passando de um quinto lugar com Nico Hülkenberg e Carlos Sainz. O fato é que o time se beneficiou justamente da instabilidade das suas pares no pelotão do meio — como a crise financeira na antiga Force India — para abrir uma considerável vantagem na pontuação e terminar à frente.
Haas e Alfa Romeo são parceiras em comum da Ferrari e contam com o mesmo motor construído em Maranello, ainda que a montadora italiana, que sucede a Sauber como equipe no grid do Mundial, tenha um aporte financeiro muito maior, além de um piloto que pode fazer muita diferença:
Kimi Räikkönen.
Kimi Räikkönen é o trunfo da Alfa Romeo para se destacar no pelotão do meio (Foto: Xavi Bonilla/Grande Prêmio)
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Ainda como Sauber, a equipe de Hinwil evoluiu muito no ano passado, sobretudo com Charles Leclerc, mas até mesmo Marcus Ericsson conseguiu fazer algumas boas apresentações. Para 2019, o ‘Homem de Gelo’ chega como o grande trunfo da Alfa Romeo para tentar lutar com a Renault e ser a quinta colocada no Mundial de Construtores. Quanto a Antonio Giovinazzi, ainda paira uma certa desconfiança sobre o que o italiano vai poder fazer no seu primeiro ano completo na F1.
Enquanto a Alfa Romeo tem em Räikkönen tem um piloto capaz de fazer a diferença, a Haas aposta na continuidade com Romain Grosjean e Kevin Magnussen, que vão para o terceiro ano seguido juntos na equipe de Kannapolis. É inegável que a dupla compreende algum potencial, mas também é reconhecida pela enorme irregularidade. Tanto o dinamarquês como o franco-suíço alternaram exibições de alto nível com performances para serem esquecidas no ano passado.
A Haas foi a quinta colocada no Mundial de Construtores em 2018 (Foto: Haas)
O novo e belo VF-19 mostrou uma performance razoável nos testes, mas também apresentou alguns problemas, sobretudo de ordem elétrica. Claro que a pré-temporada serve para isso, para que os problemas aconteçam no inverno e não na temporada em si, mas é algo que preocupa às vésperas do início da temporada.
A Racing Point, que chega de vez a 2019 com sua identidade depois de assumir o lugar da Force India, é uma grande incógnita do pelotão intermediário. É inegável que o RP19 nasceu tendo o VJM11 como uma boa base. O modelo, diga-se, ajudou Sergio Pérez a faturar mais um pódio na sua carreira, o último da equipe anglo-indiana, no GP do Azerbaijão.
A Racing Point andou pouco nos testes de pré-temporada (Foto: Racing Point)
São novos tempos para a equipe de Silverstone, que não vive mais os perrengues de dias incertos e sem dinheiro na época da Force India. Tudo graças a Lawrence Stroll, responsável por liderar o consórcio que comprou o time das mãos de Vijay Mallya. Como consequência, o empresário promoveu a titular seu filho, Lance Stroll, aliviado por deixar a Williams e se unir a uma equipe com a capacidade de lutar por melhores resultados.
E ao mesmo tempo em que o jovem canadense chega com um ponto de interrogação sobre seu real potencial, Pérez é a referência em termos de experiência e resultados, conhecedor dos membros da equipe — vai para seu quinto ano em Silverstone — e com a capacidade de garantir resultados bem relevantes. Um pódio ou outro sempre acaba sobrando para o mexicano de Guadalajara.
A McLaren chega rejuvenescida para tentar voltar a brilhar na F1 (Foto: McLaren)
Em contrapartida, a McLaren vai para 2019 com uma dupla totalmente nova. Livre da pressão imposta apenas pela presença de Fernando Alonso, o time de Woking chega mais leve com a chegada dos jovens Carlos Sainz e Lando Norris. O espanhol não é de todo inexperiente, vai para sua quarta temporada na F1, mas carrega sobre os ombros a pressão de ser o líder de uma McLaren ávida a reviver seus tempos de glória, ou pelo menos de chegar perto.
Sainz, de 24 anos, vai formar dupla com outro prodígio britânico, Lando Norris, de 19. Talento não falta aos pilotos, ao contrário, mas a grande questão é se ambos vão ter um equipamento confiável nas mãos para frequentar o top-10 e quebrar um jejum de pódios que já dura cinco anos, algo incompatível com a história da McLaren.
Ao menos nos testes de inverno, o novo MCL34 empurrado pelo motor Renault fez um bom papel, a ponto de liderar dois dias na segunda sessão em Barcelona. Evidente que os tempos de volta costumam enganar, mas o carro laranja mostrou não apenas velocidade, como também confiabilidade.
A Toro Rosso aliou confiabilidade e velocidade nos testes de inverno da F1 (Foto: Getty Images/Red Bull Content Pool)
Por fim, a Toro Rosso. O time de Faenza chega à 14ª temporada na F1 com uma dupla de pilotos que traz um velho conhecido e uma boa promessa do automobilismo. Se já é raro alguém ter uma segunda chance, Daniil Kvyat mostrou que é possível voltar ao grid com uma terceira oportunidade depois de ter sido rebaixado pela Red Bull e dispensado pela mesma Toro Rosso antes mesmo do fim da temporada 2017. Pouco mais de um ano depois, o ‘Torpedo’ volta, evidenciando também a ineficácia do programa de jovens da Red Bull em revelar talentos nos últimos tempos.
Para completar a dupla, a Toro Rosso tentou Dan Ticktum, da F3, mas o piloto não conseguiu obter a superlicença. Então, os taurinos tiveram de sair ao mercado para contratar outro renegado do programa de jovens. Alexander Albon, piloto anglo-tailandês, foi um dos destaques da temporada passada na F2 com quatro vitórias e o terceiro lugar no campeonato. O jovem de 22 anos foi contratado para disputar a Fórmula E pela Nissan, mas o desespero da Toro Rosso ao ter um bom e jovem piloto levou a Red Bull a abrir a carteira e bancar a rescisão do contrato com a equipe japonesa, garantindo a estreia de Albon na F1.
Na pré-temporada, o STR14 fez um bom papel, apresentou velocidade e
foi um dos carros mais confiáveis do grid, com 932 voltas completadas ao todo. O motor Honda não exibiu grandes problemas e mostrou evolução, sendo um grande trunfo para a equipe italiana poder se destacar em meio a um pelotão dos mais equilibrados. Entretanto, o time vai ter trabalho para preencher uma grande lacuna deixada com a saída do diretor-técnico James Key, que deixou a Toro Rosso para reforçar a McLaren, uma das adversárias diretas na equilibrada e imprevisível batalha na F1 B.