GUIA 2019: Mudanças internas, revanche e carros muito diferentes: como Mercedes e Ferrari retomam duelo na F1

Os oitos dias de testes de pré-temporada da F1, em Barcelona, deixaram algo muito claro: a batalha do título novamente será protagonizada por Mercedes e Ferrari. A primeira liderou em termos de confiabilidade, enquanto a segunda foi veloz – a mais veloz. Mas ambas chegam com grandes desafios pela frente: a primeira carrega a pressão e a cobrança por manter a excelência, enquanto a segunda segue na perseguição incômoda para sair de um jejum de títulos que já dura mais de dez anos

GUIA 2019

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NEM SEMPRE OS resultados dos testes de pré-temporada refletem com exatidão aquilo que vai acontecer mesmo quando as cinco luzes se apagarem no grid de largada, mas nos últimos anos não tem sido difícil de avaliar, ao menos, a condição dos favoritos. A Mercedes, que domina a F1 desde 2014, mal consegue esconder o jogo. E de novo, surge muito forte, com um carro de alta confiabilidade e potencial, mas que, ainda assim, se viu atrás da rival italiana. A Ferrari, por sua vez, apareceu com linhas mais ousadas em um pacote que parece funcionar de forma mais eficaz. Fechou as atividades espanholas na ponta da tabela, exibindo velocidade e deixando a entender de que possui um carro melhor do que sua principal adversária.  
 
É bem verdade que a esquadra alemã levou mais tempo desta vez para entender o carro muito diferente que criou. O W10, embora tenha traços mais conservadores que seus rivais, possui um pacote aerodinâmico distinto e mais complexo. O carro segue tendo a maior distância entre eixos do grid, além permanecer mais no chão, sem uma diferença de altura entre a parte dianteira e a traseira, como gostam Ferrari e, principalmente, Red Bull. Mais do que uma evolução do modelo de 2018, a equipe trabalhou em soluções diferentes dentro do novo regulamento. Durante os testes, os atuais campeões priorizaram os long runs, maior carga de combustível e compostos médios e macios na primeira semana. Depois, optaram por um conjunto de peças totalmente novo, da asa dianteira à traseira, passando pelo assoalho e os defletores laterais. 
 
Na pista, foi fácil perceber um maior downforce, mas também foi possível observar o maior trabalho por parte dos pilotos para conseguir o melhor desempenho em curvas mais velozes. Em curvas de baixa, a performance deu um passo à frente. Só que a Mercedes deixou a pré-temporada com a imagem de que ainda precisa de um ajuste fino para alcançar a adversária vermelha. 
Lewis Hamilton (Foto: Reprodução/Twitter/F1)

Não à toa, Lewis Hamilton, em sua primeira impressão do novo W10, afirmou "que o carro pareceu muito diferente" do modelo de 2018. E "que a Mercedes ainda tinha muito o que entender". O inglês também reconheceu o melhor conjunto dos rivais e chegou a falar em uma diferença de 0s5. É claro que a análise caiu por terra quando, no último dia de testes, o pentacampeão foi apenas 0s003 mais lento que Sebastian Vettel, usando os mesmos compostos C5 – a versão mais rápida e macia da Pirelli.

 
Mas fica ainda a frase do dia final em que atendeu aos jornalistas: "Essa temporada parece que será a mais difícil de todas. Um grande desafio para nós."
 
"Mas não nos importamos com desafios", emendou Lewis. Verdade. A Mercedes tem a seu favor o fato de ser uma equipe eficiente e muito unida. A velocidade no desenvolvimento do carro é a principal arma, aliada a enorme capacidade técnica de seus engenheiros e do próprio Hamilton, que vive o auge de sua pilotagem na F1 e tem a equipe toda para si. Além disso, o comando da esquadra alemã nas mãos de Toto Wolff faz com que o clima dentro das garagens sinta a pressão na medida certa, sem interferências externas. 
 
Talvez o único ponto de interrogação da estrutura prateada seja Valtteri Bottas. O finlandês de 29 anos começa o ano sob pressão e sob a sombra de Esteban Ocon. A verdade é que Bottas viveu um campeonato fraco em 2018 em que não obteve sequer uma vitória. Conta a favor a submissão que demostrou nos momentos em que precisou bancar o segundão, mas só isso não deve garantir o lugar em 2020, ainda mais tendo um rápido jovem à espreita. Valtteri mudou os treinos e procurou se fortalecer mentalmente para tentar impor alguma resistência com relação a Hamilton. É a única chance. 
O complexo carro da Mercedes ganhou um pacote novo logo na segunda semana de testes (Foto: Xavi Bonilla/Grande Prêmio)
A revanche e o passo à frente
 
De fato, a avaliação de Hamilton pode estar correta. A Ferrari chega com um carro consistente e veloz, pronto para tentar dar o troco na Mercedes. Ainda que pesem os problemas eletrônicos/elétricos e de refrigeração do motor, a SF90 tem um pacote aerodinâmico forte e eficiente, e se comporta bem em curvas de média e alta velocidade. Se a Mercedes faz seus pilotos trabalharem mais, a Ferrari é mais fácil de conduzir, e isso ficou muito claro no sorriso de Vettel nas duas únicas vezes em que falou à imprensa durante os testes. “No geral, o carro está muito bom. Nós exploramos muitas coisas diferentes. No fim, a chave para o sucesso é a velocidade”, disse.
 
E velocidade é o que parece ter essa SF90 – a principal marca: a estabilidade aerodinâmica, como confirmou o chefe Mattia Binotto. O tetracampeão terminou a pré-temporada com o melhor tempo em 1min16s221, usando os compostos C5. Mas também vale destacar que a equipe foi consistentemente melhor que a rival prateada em ritmo de corrida. No penúltimo dia de testes, Valtteri Bottas e Charles Leclerc foram os responsáveis por uma simulação de corrida. E mesmo com pneus mais duros, o monegasco foi entre 0s1 e 0s3 mais rápido que o finlandês da Mercedes. Vettel chegou a andar na casa de 1min16s7, utilizando os compostos C3 – os macios amarelos.
Sebastian Vettel (Foto: Xavi Bonilla/Grande Prêmio)

Portanto, é difícil argumentar contra os números. A Ferrari começa, sim, o ano com um carro melhor acertado do ponto de vista do conjunto. Só que a equipe italiana ainda precisa lidar com a tensão dentro de suas garagens. Em 2018, a esquadra vermelha também construiu e soube desenvolver de forma eficiente a SF71H, tanto que chegou a ter o melhor modelo do grid. Mas os erros de Vettel e da própria Ferrari acabaram por limar as chances de disputa pelo título, aliada a uma pilotagem inteligente e segura de Hamilton.

 
O então chefe Maurizio Arrivabene pagou o preço pelo fracasso. Foi demitido no início deste ano, levando consigo profissionais que lhe eram leais. Para o lugar de comando, a equipe posicionou Mattia Binotto, engenheiro que está a mais de 25 anos em Maranello. Ou seja, do ponto de vista técnico, nada muda na Ferrari. Binotto é conhecido pela competência e pela calma com que lida com as situações difíceis. Agora, ele também conduzirá o dia a dia da escuderia, e isso leva-se em conta o gerenciamento da dupla de pilotos.
 
Vettel segue como primeiro piloto, não há dúvida. Mas a opção pelo jovem Leclerc pode colocar os italianos em apuros também. A Ferrari tomou uma decisão ousada e que não é muito de seu feitio. Ou seja, promover alguém tão jovem. Isso, porém, já mostrou como uma tática acertada no passado e pode, de fato, ajudar o time. Dono de um grande talento e uma personalidade dócil, Charles é o frescor que Maranello precisava. Sem dúvida, vai tirar Seb da zona de conforto e pode ser um aliado mais forte na disputa contra um Hamilton cada dia melhor. 
Sebastian Vettel tem ano decisivo pela frente (Foto: Ferrari)
Como o próprio alemão falou, "a Ferrari agora tem todos os ingredientes". É verdade.  

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