GUIA 2020: Williams tenta acertar lição de casa para espantar novo fracasso e sobreviver

Com futuro incerto na Fórmula 1 depois do anúncio de uma estratégia que pode culminar até com sua venda, a Williams acelera em 2020 literalmente em busca da sobrevivência

Se é verdade que pandemia levou muitas equipes da Fórmula 1 a um cenário completamente incerto sobre o futuro, a Williams mostra ter, dentre todas as dez integrantes do grid, a pior situação. A derrocada acentuada com a falta de resultados nos últimos anos atingiu em cheio os cofres da empresa fundada por Frank Williams e hoje comandada pela filha, a chefe-adjunta Claire. Funcionários tiveram seus salários reduzidos para enfrentar o período sem corridas, mas o buraco é mais fundo. Então, não houve outra alternativa: companhia baseada em Grove, na Inglaterra, lançou uma estratégia que traz como possibilidades a venda parcial ou até total das ações para um novo investidor. Desta forma, há grande possibilidade de um dos nomes mais vitoriosos da história da Fórmula 1, com nove títulos do Mundial de Construtores e 114 triunfos na categoria, simplesmente desaparecer.

A justificativa-matriz para a decisão tomada pela cúpula da Williams Grand Prix Holding é salvar a equipe que virou símbolo de domínio nos anos 1990 e também o emprego das centenas de funcionários. É preciso, mais do que nunca, um grande investidor capaz de preencher o vazio financeiro causado pelo prejuízo recente de R$ 67 milhões e reconduzir a equipe à glória na F1, seja com o nome Williams ou qualquer outro.

Mas a situação é bastante complexa, ainda mais porque, na esteira da definição da nova estratégia de mercado, a Williams perdeu seu principal patrocinador, a empresa chinesa de tecnologia e de bebidas ROKiT que, segundo a imprensa britânica, vai estampar suas marcas nos carros prateados da Mercedes. É em meio a toda essa incerteza sobre o futuro que a Williams segue para a Áustria para tentar fazer com que 2020 seja mais animador do que a última temporada. Difícil, por todas as circunstâncias. Por outro lado, há quem entenda que é impossível ser pior.

Quando simplesmente aparecer na pista é considerado uma evolução — e das grandes —, é aí que o caos anterior fica claro. É quando se percebe que a situação era desesperadora. É o momento em que o fundo do poço fica cristalino — mas, ao menos, surge também uma maneira de se escapar dele.

Foi o que a Williams percebeu na já distante pré-temporada 2020 da Fórmula 1. No mês de fevereiro, em Barcelona, o time conseguiu fazer o shakedown e comparecer a todos os testes, sem dar vexame, com o carro andando um bom número de voltas, sem reclamações escancaradas de pilotos. Parece pouco, mas há de se comparar: quando se pensa em 2019, tudo ocorreu de forma contrária. Evolução.

Se o objetivo da equipe de Grove é espantar um novo fracasso, como a lanterna disparada do Mundial de 2019, com só um ponto conquistado — e ainda após punição aos dois pilotos da Alfa Romeo, Kimi Räikkönen e Antonio Giovinazzi no GP da Alemanha —, é necessária que essa evolução ocorra. Mas até que ponto ela é possível?

George Russell é o jovem líder de uma equipe que pode estar com os dias contados na Fórmula 1 (Foto: Williams)

Porque as palavras vêm fácil: tem de ser melhor. Mas o quanto melhor fará com que as críticas cessem? Andar mais rápido, mas não o suficiente para sair dos último e penúltimo lugar do grid fará isso? Revezar com outra equipe é o suficiente? Ou é necessário, sim, avançar a ponto de entrar na briga do meio do grid?

Os responsáveis por dar essa resposta formam uma mistura curiosa: um experiente na categoria, outro novato — mas quem vai para sua segunda temporada na F1 é mais novo que o estreante. George Russell, 22 anos, segue na Williams, mas agora com Nicholas Latifi, 24, como companheiro.

Para Russell, que sofreu tudo que a Williams passou ano passado, os números da pré-temporada foram minimamente animadores: com 394 voltas, foi o 10° a mais andar em Barcelona. Ou seja: já chega entendendo o carro, diferentemente de 2019, quando perdeu dois dias — já que não havia carro pronto – além disso, o FW43 rodou 1s295 mais rápido em sua melhor volta que o seu antecessor em 2019.

O prodígio britânico viveu um ano de dura lapidação do talento ao correr na pior equipe da Fórmula 1 na atualidade, mas tem no seu horizonte a chance de ascender à melhor do grid. Neste hiato provocado pela pandemia, o nome de Russell apareceu com destaque na imprensa europeia como um dos candidatos a ocupar um lugar na Mercedes em 2021. Além de George — prestigiado por Toto Wolff, diga-se —, Valtteri Bottas e até Sebastian Vettel entraram nos rumores a respeito do mais cobiçado cockpit do Mundial. Mas se Bottas é o presente e Vettel parece ser irreal, Russell é o futuro e, talvez, o mais preparado para assumir a vaga de Hamilton quando o hexacampeão encerrar sua trajetória.

Em que pese a dúvida sobre o potencial da Williams neste 2020 incomum, está claro que Russell tem pela frente um ano fundamental para as suas pretensões de um dia virar titular da Mercedes.

 Nicholas Latifi chega impulsionado pelo dinheiro do pai bilionário (Foto: Williams)

Já Latifi não tem muitos motivos para cobrança: não só é novato, como não está na F1 exatamente por seu talento, mas também por trazer dinheiro para um equipe necessitada. Então a tendência é de tom mais ameno — principalmente se a Williams não andar em último constantemente.

No final do episódio especial de sua equipe em ‘Drive to Survive’, o nono da segunda temporada, Claire chegou a dizer: “Na Williams somos guerreiros. Não vamos desistir”. Mas o desenrolar de uma gestão bastante questionável forçou aquela que é uma das mais tradicionais equipes do automobilismo a rever os planos de jamais um dia ser vendida.

Assim, o fã da Fórmula 1 precisa estar preparado para o pior: aquela equipe de Alan Jones, dos grandes embates entre Nelson Piquet e Nigel Mansell, do ‘carro do outro planeta’, da suspensão ativa, do domínio nos anos 1990 e do sopro de esperança que se tornou com a aliança com a BMW na década de 2000 caminha para o seu fim.

Se é verdade que 2020 até agora trouxe poucas boas notícias e outras tantas tristes, que a Williams, se realmente se despedir da Fórmula 1 neste ano, que esta despedida seja digna da sua história vitoriosa. Porque essa história, nos livros, nos vídeos e nos corações dos fãs, jamais vai morrer.

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