GUIA 2021: F1 se prepara para duelo Hamilton x Verstappen em ano pandêmico e incerto

Ainda que a pandemia não tenha dado trégua, a Fórmula 1 elaborou um calendário longo e adaptou tudo que foi possível para garantir a realização do campeonato sem grandes contratempos. A expectativa é alta e é reforçada pela chance real de, enfim, testemunhar um embate entre os dois maiores talentos do grid

Os testes da Fórmula 1 no Bahrein (Vídeo: GRANDE PRÊMIO)

A FÓRMULA 1 QUE LARGA neste fim de semana no Bahrein não é a mesma que tentou correr na Austrália há pouco mais de um ano. Os efeitos prolongados da pandemia do novo coronavírus mudaram a percepção do campeonato e proporcionaram à maior das categorias a chance de se tornar mais humana. Em grande parte das decisões tomadas desde o cancelamento daquele GP em Melbourne, a F1 soube se posicionar e não teve medo do desconhecimento. Foi capaz de unir suas equipes em projetos para o desenvolvimento de aparelhos médicos no combate à Covid-19, convenceu os times de que uma redução de custos era possível e que a mudança no regulamento era inevitável. Aceitou prejuízos ao promover o retorno de antigos traçados e circuitos inéditos. Adaptou-se às circunstâncias de dar espetáculos a arquibancadas vazias, sobreviveu a um acidente pavoroso e, enfim, soube dar valor a um gigante Lewis Hamilton, apoiando as manifestações contra o racismo e mergulhando em uma iniciativa a favor de maior diversidade no esporte. A recompensa veio na pista, com um campeonato de grandes histórias. Por isso, o próximo capítulo é tão aguardado e já reserva surpresas.

Só que, antes de a nova temporada, é necessário dizer aqui que o movimento pelos direitos humanos e inclusão ensaiado pela F1 ainda está longe do ideal, ainda que chegue com uma proposta mais ampla em 2021. Dois exemplos comprovam: a condescendência no caso de assédio de Nikita Mazepin, estreante nesta temporada, mancha um trabalho corajoso iniciado no ano passado e envia uma mensagem muito errada. Também depõe contra o fato de que a F1 sucumbiu mais uma vez aos encantos de um novo e traiçoeiro deserto, ao aprovar o GP da Arábia Saudita, que entra no calendário no fim do ano. As graves denúncias de violações contra os direitos humanos daquele país são pesadas demais e não há pano que enxugue ou minimize uma escolha tão equivocada.

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A Red Bull pinta assustadora em 2021 (Foto: Red Bull Content Pool)

Dito isso, a mais importante série do esporte a motor mundial parte para uma temporada que ainda vive sob a tensa ameaça desse vírus que parece longe de dar trégua. Mesmo que os chefes do Mundial tenham sido capazes de elaborar um calendário longo e com 23 corridas, ainda há dúvidas sobre se será possível realmente manter o plano, uma vez que que a propagação do vírus segue firme em diversos países. E esse é só mais um tempero em um campeonato que começa com mais perguntas que respostas.

O entusiasmo por uma disputa bem diferente dos últimos anos foi impulsionado por uma pré-temporada das mais interessantes. A curta sessão de testes no Bahrein revelou uma face rara da Mercedes. A equipe heptacampeão surgiu frágil e envolta por dificuldades. Ao decidir por um projeto mais ousado, a esquadra de Toto Wolff entregou a Lewis Hamilton e Valtteri Bottas um carro nervoso e arisco. O recordista de vitórias na F1 teve trabalho em Sakhir, teve erros que há muito não cometia e deixou o país insular com a testa franzida.

Enquanto isso, a Red Bull se colocou impecável. O RB16B, embora seja um modelo apenas atualizado, se mostrou rápido e consistente. Os taurinos testaram tudo que queriam, sem contratempos. Foram velozes em ritmo de classificação e ainda mais em corrida. Max Verstappen liderou dois dos três dias de testes. O outro lado da garagem trouxe um Sergio Pérez completamente confortável no novo time. Conduziu uma intensa simulação de corrida e deixou a pista com um sorriso que mal conseguia disfarçar, assim como praticamente todo mundo entre os energéticos.

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Lewis Hamilton teve de encarar até areia no Bahrein, mas o carro instável da Mercedes acabou por dar mais dor de cabeça ao heptacampeão (Foto: Mercedes)

As mudanças no regulamento foram apenas pontuais, mas determinantes para a performance geral dos carros, porque, apesar das regras obrigarem a manutenção do mesmo chassi e a redução do downforce, a parte aerodinâmica seguiu livre. A Mercedes, de fato, surgiu com uma traseira mais extrema. Já a Red Bull procurou soluções menos complexas, ainda que Hamilton tenha definido o carro como um “animal diferente” – como sempre, é imprudente ignorar a visão do campeão. É claro que é tentador colocar já os taurinos como favoritos, diante dos problemas apresentados pelo W12, mas é fundamental destacar o poder de recuperação dos alemães. Ainda assim, a temporada já tem uma grande história e uma enorme oportunidade.

Enfim, há uma possibilidade verdadeira do mundo acompanhar um duelo dos dois principais pilotos do grid. Max Verstappen viveu uma preparação forte e esbanjou consistência na pré-temporada. Muito amadurecido e pilotando o fino, o holandês é dono de si e já passou da hora de entrar em uma briga direta pelo título. E aquilo que parecia uma questão de tempo, finalmente, está aí. Com um carro competitivo nas mãos, Max está pronto. E é tudo que Hamilton precisa para seguir além de 2021.

Um novo ingrediente é entender que cada corrida será quase como uma decisão, não só pelo tempo de recuperação da Mercedes, mas, principalmente, pelas incertezas que ainda ronda o calendário. Não podia ser melhor, convenhamos.

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Daniel Ricciardo, a novidade da McLaren para 2021 (Foto: McLaren)

As ações no Bahrein, onde a F1 também inicia a temporada, esboçaram também outro elemento fundamental: a hierarquia de forças do pelotão intermediário. Certamente, é exercício inglório tentar determinar a ordem, especialmente em testes em que muitas foram as varáveis, como carga de combustível, desgaste de pneus, pacote aerodinâmico e por aí. Mas há uma certeza: a pontual alteração de regulamento e as mudanças de pilotos e fornecedores de motor ajudaram a tornar o bloco central dos mais interessantes, ao ponto de alguns chefes de equipe já projetaram uma aproximação perigosa com a dupla que ponteia o Mundial.

Isso porque McLaren, agora parceira da Mercedes e com Daniel Ricciardo, a Alpine, renovada e com um Fernando Alonso ávido por um novo ciclo na F1, além da AlphaTauri, baseada na juventude, apresentaram uma performance espantosa, tanto em velocidade quanto em consistência. O trio vem forte e vai incomodar.

Pouco atrás, está a Ferrari, que tenta se recuperar depois de um 2020 desastroso. A equipe italiana mexeu em tudo que pode na sua SF21 e acredita que jovem combinação entre Charles Leclerc e Carlos Sainz vai render bons frutos, ainda não seja exatamente neste ano. De qualquer jeito, o mais componente mais essencial para os ferraristas parece avançado: o motor apresentou uma melhor performance, e a pista barenita foi fundamental para essa comparação com a última temporada. A Alfa Romeo segue os passos da parceira técnica, enquanto a Williams também desenha uma forma de escapar da lanterna, onde a Haas está.

O único grande ponto de interrogação é a Aston Martin. O conjunto que traz de volta à F1 a marca icônica viveu dias tensos e de pouca atividade. A quebra do câmbio e os problemas no motor ligaram uma luz de alerta, especialmente na Mercedes. O carro da equipe inglesa é muito bonito e caiu bem a Sebastian Vettel, que agora tenta um novo recomeço. Mas terá de ter paciência.

Tudo isso para dizer que o bloco central, embora ainda cheio de mistérios, vem mais compacto que no ano passado, o que por si só já garante boas corridas.

E a chance de grandes provas é tudo que a TV aberta no Brasil deseja. Afinal, depois de 40 anos, o país vai deixar de acompanhar as etapas pela TV Globo, que desistiu dos direitos de transmissão. A Band aproveitou o recuo da emissora carioca e, dentro de um plano de negócios diferente da concorrente, investiu no campeonato, trazendo toda a equipe que a Globo tinha para a F1.  Além das provas na TV, os fãs ainda terão a chance de seguir a temporada pelo serviço de streaming da categoria, desejo antigo dos chefões.

Então, o 2021 da Fórmula 1 chega em um cenário ainda de preocupações com a Covid-19, mas também cheio de protagonistas, coadjuvantes de luxo e grandes histórias.

O GRANDE PRÊMIO preparou um GUIA 2021 com tudo que é preciso saber sobre a temporada que começa em 28 de março, que terá cobertura completa dos treinos livres, classificação e corrida. Tudo acompanhando ao vivo e em tempo real. Além disso, o GP faz a análise da definição do grid de largada no sábado e tem ainda o pré e pós-corrida no domingo, sempre no BRIEFING, na GPTV.

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