GUIA 2022: F1 tem pré-temporada com muitas novidades e igualdade no grid

A Fórmula 1 encerrou uma das pré-temporadas mais imprevisíveis dos últimos anos, com muitas novidades nos carros e uma boa igualdade nos tempos. Ferrari e Red Bull mostraram o melhor desempenho, enquanto a Mercedes deixou muitas dúvidas por resolver. O resto do grid deixou boas sensações e devem ficar perto dos times do topo.

A F1 encerrou mais uma pré-temporada cheia de incógnitas por resolver. Com a chegada de um novo regulamento, as equipes trouxeram carros totalmente novos, com muitas novidades técnicas que surpreenderam durante os primeiros dias de atividades na pista. Os testes coletivos começaram durante a última semana de fevereiro, com três dias de provas no Circuito de Barcelona-Catalunha, na Espanha

As equipes mostraram seus carros com bastante mistério em fevereiro, mas das poucas novidades que foram vistas, algumas se destacaram. A equipe que mais ousou esse sentido foi a Red Bull, que mostrou um RB18 totalmente diferente no primeiro dia da pré-temporada, com uns sidepods inovadores que surpreenderam a todo o paddock. A Ferrari também foi um dos carros que mais chamou a atenção do pessoal do grid, além de uma Mercedes que só trouxe novidades para a pista na segunda semana de testes, no Bahrein. 

Na pista, os três primeiros dias em Barcelona deixaram muitas incertezas. O que foi chamado de shakedown deixou as primeiras sensações dos novos carros de 2022, mas com todas as equipes focadas em recolher informações e tentando entender o funcionamento das máquinas zeradas em quilometragem. Ninguém espremeu os carros até o máximo, tampouco tentou fazer simulações de classificação com bólidos que ainda tinham muito para oferecer aos seus pilotos. 

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A Red Bull finalmente mostrou o novo carro em público (Foto: Eric Calduch/GRANDE PRÊMIO)

Mesmo assim, quem liderou a tabela de tempos desses três dias em solo espanhol foi a Mercedes, com Lewis Hamilton fazendo 1min19s138 com o composto C5, a gama mais macia da Pirelli. A equipe campeã de Construtores de 2021 foi a única que colocou esses pneus, deixando também George Russell na segunda colocação com um tempo de 1min19s233. Seria o início de uma nova era de domínio da Mercedes? Tem quem pudesse ter pensado isso, mas no Bahrein todos esses pensamentos mudaram por completo.  

Quem deixou melhores sensações em Barcelona foi, sem dúvida, a Ferrari. A equipe italiana mostrou que tem um carro muito preparado para tentar chegar na luta pelas vitórias. Não teve problema nenhum em toda a pré-temporada, sendo o time que mais voltas conseguiu fazer: no total dos testes, foram 788 voltas completadas. A confiabilidade parecia mais que correta para a Ferrari, e os tempos por volta também davam essa esperança de que os trabalhos feitos em Maranello tinham sido ótimos nos últimos meses. Charles Leclerc foi quem registrou o melhor tempo com os pneus C3, fazendo 1min19s689 e fechando os testes na quinta colocação. 

Red Bull e McLaren também mostraram uma boa confiabilidade em Barcelona, e os tempos acompanhavam na parte alta da tabela. No fim desses primeiros três dias de atividades, a sensação geral era que o grid podia ter até quatro equipes na ponta: Mercedes, Ferrari, Red Bull e também a McLaren. Mas eram só os primeiros testes: ninguém colocou toda a potência em momento nenhum, e as surpresas chegariam duas semanas depois no circuito de Sakhir

Fernando Alonso dirige carro da Alpine no Bahrein (AFP)

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Em Barcelona também vimos algumas das equipes sofrendo demais com os novos carros. O esperado ‘El Plan’ de Fernando Alonso e Alpine não começou do melhor jeito: pouca quilometragem, tempos lentos em comparação aos melhores do grid e um problema final que deixou uma das imagens da pré-temporada, com Alonso parado no meio da pista e o carro soltando uma grande fumaça por um teórico problema hidráulico.

Mas, para fechar Barcelona, há de se mencionar mais duas equipes que passaram dias difíceis nos boxes do traçado catalão da F1. A Alfa Romeo chegou sem a pintura oficial da temporada e tendo grandes problemas de confiabilidade a todo momento. Com isso, só deu 175 voltas nos três primeiros dias de trabalho, sendo a segunda pior equipe do grid nesse aspecto. Valtteri Bottas só conseguiu completar 54 giros, metade do que andou qualquer um dos pilotos das equipes da frente. A situação era preocupante, e até alguns setores do paddock apontavam a que poderia ser a lanterna de 2022.

Só que quem foi o protagonista daqueles testes foi, sem dúvida, a Haas. A Rússia invadiu a Ucrânia no dia 24 de fevereiro, justamente no segundo dia de testes. A declaração de guerra que surpreendeu em todo o planeta teve um forte impacto na Fórmula 1 e, especialmente, naquele time. No último dia de atividades na Catalunha, a equipe de Guenther Steiner apareceu na pista com o carro branco, sem o patrocínio russo da Uralkali. Dias depois, o time confirmou a saída de Nikita Mazepin e seu patrocinador devido a esse conflito no leste europeu. Na pista, a escuderia não conseguiu andar muito: foram numerosos problemas mecânicos durante os três dias, somando o menor número de voltas entre os times do grid. No entanto, apesar dos problemas, a sensação do carro era boa, e algumas vozes falavam que, se a Haas solucionasse a confiabilidade, o carro poderia dar um passo à frente.  

Nikita Mazepin a bordo de uma Haas bastante diferente sem vestígio da Rússia (Foto: Haas)

Com duas semanas para analisar os dados obtidos em Barcelona e tentar melhorar o desempenho dos carros, as equipes chegaram ao Bahrein para mais três dias de testes. E, continuando com a tendência das semanas anteriores, quem começava com problemas era, de novo, a Haas. A equipe americana continuava ocupando as manchetes, desta vez com a demora na chegada dos equipamentos por um atraso do avião de carga. Por causa disso, o time não conseguiu andar durante a primeira manhã de atividades, tendo de recuperar essas quatro horas durante os dois dias seguintes. Além disso, antes de dar início aos testes de Bahrein, a equipe anunciou o substituto de Mazepin, confirmando a volta de Kevin Magnussen ao grid. Mesmo assim, foi o brasileiro Pietro Fittipaldi quem abriu os trabalhos do VF-22 no asfalto de Sakhir

Muitas das equipes do grid trouxeram novidades nos carros, especialmente focadas no assoalho e nos sidepods. Quem mais despertou interesse foi a Mercedes, que surpreendeu com laterais totalmente diferentes do resto do grid, com uns sidepods praticamente inexistentes e entradas de refrigeração bem mais estreitas. O design ousado e agressivo do novo W13 deu muito o que falar no paddock, e algumas equipes, como a Red Bull, especularam sobre a legalidade da peça. No entanto, foi a mesma Red Bull quem trouxe novidades no último dia de testes, com outro conceito agressivo de sidepods esculpidos. Foi nesta parte dos carros em que as equipes fizeram trabalhos totalmente diferentes, com muita variedade de conceitos no grid. 

Detalhes do carro da Mercedes quase sem sidepods e com a asa do retrovisor alongada (Foto: Reprodução/Ted Kravitz/Twitter)

Sakhir viu, de novo, um problema que as equipes não acharam solução até o momento. O chamado ‘porpoising’, os quiques dos carros nas retas, continuava afetando os pilotos. Esses saltos deixaram imagens surpreendentes, com os carros saltitando de um jeito que os pilotos já declararam que não é nada agradável de sentir. Alguns como Charles Leclerc, inclusive, falaram que ficaram “um pouco enjoados” com essas turbulências. Até o momento, ninguém encontrou uma solução para essa anomalia, que há de aparecer na primeira corrida do ano. 

As equipes se esforçaram ao máximo para tentar entender o funcionamento geral nos carros, além de buscarem uma ideia mais clara de qual é o desempenho das novas máquinas. Quem se destacou, em tempos e confiabilidade, foi de novo a Ferrari: muita quilometragem completada, nenhum grande problema mecânico e grandes tempos em simulações de corrida e de volta rápida.

Leclerc fez o terceiro melhor tempo da semana com os pneus C4, com 1min32s415. A sensação é de que os italianos podem chegar fortes à primeira corrida de 2022, já que mostraram ter um carro muito bem preparado, com confiabilidade e bom desempenho. Mas falta à Ferrari convencer que tem esse potencial real e que não é uma ilusão da pré-temporada, como já aconteceu na F1 anos atrás. 

Escuderia italiana liderou o ranqueamento de quilometragem nos testes de pré-temporada (Foto: Ferrari)

A Red Bull e a Mercedes também foram protagonistas, mas pelas novidades aerodinâmicas nos carros. Certo é que Max Verstappen fez a volta mais rápida dos testes, com 1min31s720. Foi o mais veloz com boa diferença, mas também foi o único que tentou fechar uma volta rápida com o composto C5 da Pirelli, o mais macio de todos. A Red Bull parece ter um bom carro, foi a quarta equipe que andou mais em toda a pré-temporada e, realmente, indica estar numa posição muito melhor do que os grandes rivais dos taurinos. 

A Mercedes sente não ter tido a melhor das pré-temporadas. A equipe campeã inclusive confessou por meio de Lewis Hamilton que “não vai competir por vitórias” no início da temporada de 2022. É uma tendência negativa que surgiu por parte de todos os funcionários da Mercedes, incluindo o chefe Toto Wolff e o segundo piloto, George Russell. Alguns rivais, como Carlos Sainz e Max Verstappen, não acreditam nesse discurso pessimista, mas a sensação é de que a Mercedes está um passo atrás em comparação a Ferrari e Red Bull. A confiabilidade se mostrou lá, só que o carro parece bem mais nervoso, sofrendo muito com o ‘porpoising’ e com um ritmo em curva rápida pior do que anos atrás. Será o fim da ‘Era Mercedes’? Difícil. Porque tão logo acerte tais questões, o time deve voltar ao topo das ações na F1.

Lando Norris foi o único piloto da McLaren que andou nos testes de Bahrein (Foto: AFP)

Os testes do Bahrein não foram, definitivamente, tranquilos para todo mundo. A McLaren foi quem mais sofreu. Primeiro com Daniel Ricciardo fora dos três dias de atividades por testar positivo para Covid-19, o que deixou só Lando Norris para fazer todos os trabalhos na pista. Mas o britânico também não conseguiu andar muito por causa de um problema no aquecimento dos freios dianteiros. Essa falha no MCL36 se deu nos três dias, fazendo com que o pessoal de Woking esteja com sentimento pessimista para a primeira corrida do ano. E Norris admitiu: a McLaren “está atrás de onde queremos estar”.

Tem alguém positivo, de fato, no paddock? Tem, sim, e especialmente uma equipe que ninguém esperava feliz. A Haas, que experimentou todo tipo de problemas durante a pré-temporada, acabou com um sorriso no rosto vendo os tempos competitivos que fizeram os dois pilotos. Kevin Magnussen liderou o segundo dia, para a surpresa de todos, enquanto Mick Schumacher fez o segundo melhor tempo da semana, de pneus C5, com 1min32s241. A confiabilidade não foi resolvida, com problemas mecânicos todos os dias e fazendo pouca quilometragem, mas a sensação é que, fazendo o carro se manter na pista, o desempenho será muito melhor do que no ano passado. 

Carro de Nicholas Latifi pegou fogo durante o segundo dia de teste (Foto: Reprodução)

E o resto do grid? Pois ninguém deixou uma sensação de ter feito um carro ruim a ponto de ficar na lanterna, mas também não se destacaram tanto pelos tempos por volta completados. Alpine, Aston Martin, AlphaTauri e Alfa Romeo superaram os percalços, não conseguiram colocar os carros nas primeiras colocações, mas deixaram a impressão de que estão prontas para acelerar no próximo domingo no Bahrein. Mostraram um bom desempenho, nada merecedor de grandes manchetes, mas com a certeza de que estarão bem no pelotão intermediário da F1. Mesma situação para a Williams, que apesar do espetacular incidente de Nicholas Latifi, com um incêndio iniciado nos freios traseiros, teve um desempenho bom e o carro parece pronto para voltar nas lutas com as demais.

No fim das contas, a pré-temporada mostrou que, no momento, não parece que a F1 tenha uma equipe dominante. Os tempos mostraram uma boa igualdade, com algumas surpresas que ainda faltam ver se se confirmam nos primeiros treinos em Sakhir. Red Bull e Ferrari parecem as mais fortes, Mercedes deixou algumas dúvidas, enquanto o resto do grid não parece estar longe desses equipes. Não está descartada a possibilidade de abrirmos a temporada com grandes surpresas. Regulamento novo e uma nova era dão esta ótima expectativa. 

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