GUIA 2025: F1 chega aos 75 em ano que promete com Hamilton-Ferrari e Brasil no grid

No aniversário de 75 anos de existência, a F1 não poderia desejar mais. A temporada que começa na Austrália já se desenha grande por si só ao reunir dois ícones do esporte, na parceria entre Lewis Hamilton e Ferrari. Mas há mais: o Brasil de volta ao grid na figura de Gabriel Bortoleto, a McLaren e sua jornada de redenção, um multicampeão faminto, além de um pelotão que promete equilíbrio e algumas surpresas, em um grid renovado e mais jovem. E o GRANDE PRÊMIO dá o pontapé inicial da temporada 2025 com um guia aprofundado sobre tudo que é preciso saber do novo campeonato

ANTES DO APAGAR DAS LUZES no grid do Albert Park, a Fórmula 1 já sente uma mistura de sensações entre um passado romântico e uma inevitável ansiedade pelo futuro. Afinal, são 75 anos de uma existência bem-sucedida, apaixonante e que segue mais viva do que nunca. O lançamento conjunto de equipes e pilotos, realizado em fevereiro, em Londres, foi um retrato fiel do atual momento. Mesmo 70+, a maior categoria do esporte a motor continua relevante e atravessa agora um período ímpar em sua história, porque 2025 celebra não só os feitos e a aura de personagens tão cativantes quanto contraditórios, mas também trajetórias incríveis e largos números que a tornam uma das modalidades mais assistidas do planeta. E como presente de aniversário, a F1 ganha na temporada que tem largada na Austrália a promessa de enredos ainda mais arrebatadores. Seja na união de dois ícones do esporte, na invasão de talentosos novatos, no auge de um campeão fortíssimo ou na expectativa da volta do Brasil ao grid, sem contar uma potencial disputa altamente equilibrada e imprevisível.

No jornalismo, recomenda-se cautela ao usar termos como histórico ou épico, mas para a jornada que se inicia em vermelho não há adjetivos melhores do que esses pois descrevem com exatidão a parceria entre Lewis Hamilton e a Ferrari. Esse é o fato do ano e não dá para começar a falar do campeonato sem apontar o impacto da decisão tomada pelo maior vencedor da F1, ainda no início do ano passado — e diga-se, levou tempo para assimilar.

A verdade é que o heptacampeão precisava respirar novos ares. Ainda que tenha conquistado seus grandes números na Mercedes, Lewis já não vinha mais se sentindo feliz por lá. A ferida aberta em 2021 demorou a sarar e, quando finalmente o machucado fechou, Hamilton pareceu não reconhecer mais aquela estrutura antes tão bem azeitada. Houve ruídos aqui e ali, uma rachadura, um ressentimento e a mudança acabou sendo inelutável.

LEIA MAIS
GUIA 2025: Verstappen busca penta da F1 em tempos de desconfiança na Red Bull
GUIA 2025: FIA se enrola com asas flexíveis e cria caso em ano de poucas mudanças na F1
GUIA 2025: F1 abraça futuro e aposta alto em Bortoleto, Antonelli, Bearman e Lawson
+ GUIA 2025: Fórmula 1 inicia com muito barulho e pouca ação em embate FIA × pilotos

▶️ Inscreva-se nos dois canais do GRANDE PRÊMIO no YouTube: GP | GP2

Lewis Hamilton guiou uma Ferrari de corrida pela primeira vez em Fiorano (Vídeo: Ferrari)

Foi aí que o sete vezes campeão do mundo se jogou em uma aventura tão arriscada quanto heroica — aos 40 anos de idade. E a escolha, embora bombástica à época, se mostrou também a mais óbvia. Era simplesmente natural que, hora ou outra, o dono dos recordes mais importantes da F1 quisesse vestir vermelho. E a transformação só pode ser descrita como icônica. Porque Hamilton se tornou ferrarista e a Ferrari se rendeu a ele.

Lewis chegou vestindo um elegante e impecável sobretudo preto, terno e gravata no primeiro dia de trabalho. O cenário foi cuidadosamente montado em frente à casa de Enzo Ferrari e diante de um dos modelos mais icônicos dos italianos, a F40 — também a favorita do inglês. E a primeira foto, cheia de significados, causou alvoroço, bateu recordes e o público abraçou de vez a opção feita pela britânico. Se nada acontecer, apenas a presença de Hamilton já terá sido uma das experiências mais importantes da trajetória da escuderia italiana.

E a Ferrari sabia o que estava fazendo e hoje tira proveito não só da trajetória em si, da bagagem técnica, mas principalmente da figura de Lewis e tudo que representa fora das pistas. De carisma incomparável, Ferrari-Hamilton não tem como dar errado. Inclusive, esse é um dos pontos que já valeria a temporada. Mas a Fórmula 1 tem mais a sorrir, porque o campeonato terá histórias que merecem ser acompanhadas de perto, nos detalhes.

Uma delas, no caso específico da audiência brasileira, tem a ver com Gabriel Bortoleto — um dos estreantes do ano. O piloto de São Paulo escreveu um capítulo vitorioso nas duas principais categorias de acesso à F1, com títulos logo no primeiro ano, reeditando a trajetória dos melhores nomes do esporte nacional na caminhada rumo ao Mundial. Também amparado pela experiência de Fernando Alonso, a quem entregou a gerência de sua carreira, Gabriel tratou de aproveitar a chance que surgiu, quando a Sauber decidiu apostar na juventude. Bortoleto se desligou da McLaren, onde participava do programa de desenvolvimento, para abraçar a ideia de recolocar o Brasil no grid — será a primeira vez desde Felipe Massa, há oito anos.

Gabriel Bortoleto levou o C45 à pista na sessão da tarde no Bahrein (Vídeo: Reprodução/F1)

Certamente, a estreia cobrará um preço alto, como tem feito com quem se aventura neste campeonato. Mas será fundamental jogar na balança que a Sauber ainda é a Sauber e tem sérias limitações, enquanto espera a chegada definitiva da Audi. Gabriel dá o pontapé inicial na categoria mais importante do esporte com a consciência do que é possível fazer, tendo também um companheiro forte em Nico Hülkenberg.

Mas se a equipe suíça, por ora, segue na lanterna, o outro lado dessa moeda também promete. A começar pelo campeão vigente. Max Verstappen chega a 2025 como o homem a ser batido — e aqui pouco importa se a Red Bull não for a primeira força do grid. Isso porque, na temporada passada, o tetracampeão deu aula de como se ganha um título, mesmo sem o melhor carro nas mãos. Verstappen soube tirar proveito da fragilidade de seus concorrentes e mostrou que, para vencê-lo, é preciso muito mais do que um equipamento sem falhas. Maduro, mas ainda com lampejos daquele Max mais inconsequente — às vezes, uma pitada de loucura faz bem —, o piloto taurino é o fiel da balança não só para os austríacos, mas também para os adversários. Os acontecimentos recentes ensinam: é imprudente subestimá-lo.

Também vai ser interessante seguir a relação com Liam Lawson. O neozelandês foi o escolhido para ocupar o lugar de Sergio Pérez, que, no fim das contas, não conseguiu segurar o assento por mais tempo. E a tarefa de Lawson será das mais ingratas, sim. Porque terá não só de dividir as garagens com um dos pilotos mais fortes do grid e que ainda detém toda a atenção da equipe, mas também terá de lidar com um Helmut Marko no volume máximo. E aqui ainda há um ponto intrigante: será que a Red Bull vai mostrar a mesma tolerância que teve com Pérez? Está aí mais um detalhe para a temporada 2025.

Max Verstappen e Lando Norris: um dos muitos motivos para não perder a F1 (Foto: Reprodução/F1)

Até porque os taurinos vão precisar mais do que nunca de um segundo piloto minimamente competitivo ao lado do neerlandês. A concorrência se fortaleceu neste fim de regulamento do efeito solo na F1, minando qualquer tipo de previsão. E neste cenário, a McLaren é quem toma o protagonismo. A equipe papaia sofreu em 2024, mas foi capaz de conquistar o Mundial de Construtores e encerrar um jejum que já durava quase 30 anos. Agora parece melhor preparada, sobretudo Lando Norris, de quem se espera ao menos boas largadas.

A impressão de que a esquadra de Andrea Stella já começa o ano um degrau acima vem da pré-temporada. Embora tenha terminado os dias no Bahrein longe da ponta da tabela, o desempenho em pista foi assombroso e deixou muita gente preocupada. O time laranja tentou esconder o jogo o quanto pôde, mas há pequenos detalhes que não passam ao largo dos olhos mais atentos. A performance nas curvas rápidas de Sakhir — antes um ponto fraco —, o equilíbrio geral e a fácil condução dos pilotos em diferentes configurações já são elementos suficientes para determinar: a McLaren entra favorita. A diversão aqui vai ser acompanhar as decisões da chefia, a relação entre Norris e Oscar Piastri e, acima de tudo, se as dolorosas lições do último ano foram compreendidas.

Porque as rivais estão à espera de um vacilo. A Ferrari chega encorpada, mas deixou os testes com a sensação de que a SF-25 ainda precisa de mais alguns quilômetros, muito embora a dupla Hamilton e Charles Leclerc reserve um capítulo à parte. Enquanto isso, a Mercedes se apresentou muito bem em Sakhir e jogou no ar a impressão de que, enfim, foi capaz de se acertar com o conceito do efeito solo. Mas aqui há um detalhe dos mais borbulhantes: a relação entre George Russell, agora verdadeiramente líder do time, e o novato Andrea Kimi Antonelli — prodígio de um Toto Wolff que ainda não aceitou a separação do heptacampeão.

E falando em novatos, esse também é um tema que merece um episódio inteiro. Além de Bortoleto, Antonelli é um dos mais badalados estreantes. E embora queira se afastar da ideia de substituir um heptacampeão, o italiano de 18 anos vai atrair holofotes por onde passar. Esse será um dos arcos mais fascinantes da F1 2025, assim como o de Jack Doohan, mas provavelmente por razões diferentes. O filho do multicampeão da Motovelocidade já enfrenta a tensão de ter no encalço o reserva Franco Colapinto — que conquistou a simpatia de Flavio Britore. Não bastasse a estreia, ainda parece em contagem regressiva para a demissão. Outro que também terá um olho sobre si é Isack Hadjar. Um dos maiores talentos da Academia da Red Bull nos últimos tempos, o vice-campeão da F2 não terá tempo de descanso e começa também a temporada sob a cobrança constante do temido conselheiro dos energéticos.

F1 2025, BAHREIN, SAKHIR, TESTES, PRÉ-TEMPORADA, JACK DOOHAN, OLIVER BEARMAN, GABRIEL BORTOLETO
A invasão de novatos: Jack Doohan, Oliver Bearman e Gabriel Bortoleto (Foto: Sauber/Clive Rose/Getty Images)

De toda a forma, é um bálsamo perceber que, enfim, a Fórmula 1 começa a se renovar. Além dos 4 estreantes e 2 novatos (Lawson e Oliver Bearman), o grid também acompanhou mudanças extremas, como a de Hamilton, claro, mas Carlos Sainz também representa uma alteração intrigante no equilíbrio de forças no grid, porque o espanhol será um ponto forte de uma Williams que tenta se reerguer. Esteban Ocon será outro fator na Haas, enquanto Hülkenberg terá a missão de conduzir a Sauber a um novo patamar antes da Audi. Quer dizer, só essa intensa movimentação das peças no tabuleiro do grid já seria motivo o bastante para seguir e festejar a F1.

No entanto, há uma ressalva importante e que não pode ser ignorada. A postura cada vez mais opressora da Federação Internacional de Automobilismo também será parte do enredo. Na calada da noite, o sempre controverso presidente Mohammed Ben Sulayem propôs adendos ao regulamento e seu pedido foi aprovado sem discussão. Trata-se da regra contra os palavrões, protestos e manifestações. Dessa maneira, quem for pego estará sujeito a multas e até mesmo suspensão. Esse é um ponto de extrema atenção. Afinal, parece uma clara retaliação às críticas feitas pelos astros do grid.

Portanto, também é hora de resistir. E como diria Fernanda Torres, vamos sorrir, sim! Sorriam! A Fórmula 1 também merece.

O GRANDE PRÊMIO dá início neste 10 de março ao GUIA da temporada 2025 da F1. Nos próximos dias, levaremos ao ar análises aprofundadas, previsões e tudo que é preciso saber antes do sinal verde para o primeiro treino livre do GP da Austrália. Também preparamos um vídeo especial sobre os principais pontos do campeonato e o impacto da volta do Brasil ao grid, com Gabriel Bortoleto. O programa vai ar na terça-feira, a partir das 18h, no canal do GP no YouTube e também na GPTV. Não perca e aproveite!

*Arte: Thiago Rocha

Chamada Chefão GP Chamada Chefão GP 🏁 O GRANDE PRÊMIO agora está no Comunidades WhatsApp. Clique aqui para participar e receber as notícias da Fórmula 1 direto no seu celular! Acesse as versões em espanhol e português-PT do GRANDE PRÊMIO, além dos parceiros Nosso Palestra e Teleguiado.