A história de um avô, 11 anos depois: a linha do tempo do mistério de Schumacher
Dezembro de 2013 é um mês que nunca mais terminou para Michael Schumacher. No aniversário de 11 anos do acidente de esqui em Méribel, nos Alpes Franceses, o GRANDE PRÊMIO faz uma linha do tempo dos acontecimentos
11 anos se passaram desde aquela gélida manhã de inverno nos Alpes Franceses nos últimos dias de 2013. Michael Schumacher era pai de dois filhos adolescentes e piloto recém-aposentado, pela segunda vez, que fazia a mesma coisa que na primeira retirada: vivia e curtia a vida de maneira particular e discreta, como sempre gostou, longe do olho público. Na década desde então, a situação clínica pouco mudou, mas a vida é diferente. Michael completa 56 anos de idade ainda nesta semana, tem dois filhos adultos e grande notícia a celebrar: será vovô pela primeira vez. Ainda que saído da circulação pública, a vida ao redor continuou girando.
Há 11 anos, Michael Schumacher quase morreu e a vida como conhecia, como a família e os amigos conheciam, mudou drasticamente. E no afã da solidariedade, o público pensou na história com olhos de lamento ao longo do tempo. Mas Michael, após um acidente que podia ter ceifado dele a vida, sobreviveu. Viu o filho mais novo seguir os passos dele no mundo da velocidade e a filha mais velha se converter em profissional de outro esporte e, mais recentemente, casar e agora gestar uma pequena Schumacher.
São 11 anos pensando no tempo que Schumacher não pôde ter. Nos lamentos da história que não se pôde contar e do que os olhos não enxergaram. Mas há beleza também em tudo que viu com o tempo comprado de um destino que quase foi tomado de si.
A linha do tempo do caso Schumacher
Era 29 de dezembro de 2013. Heptacampeão mundial de Fórmula 1, Michael Schumacher tinha completado um ano fora do esporte que o consagrou como lenda. Aos 44 anos de idade, o alemão dedicava a adrenalina a outra paixão: o esqui na neve. Era comum, nos tempos de Ferrari, ver Michael se aventurando nos eventos em Madonna di Campiglio, inclusive.
Naquele dia, Michael estava acompanhado do filho Mick, então com 14 anos, descia o Combe de Saulire, abaixo da montanha Dent de Burgin e da estação de esqui Méribel, no coração dos alpes franceses. Ao cruzar uma área externa sem muita segurança a mais de 100 km/h, sofreu uma queda e bateu a cabeça com violência contra uma pedra. O capacete, crucial para evitar uma morte instantânea, foi partido ao meio, deixando uma cena cheia de sangue.
Removido do local de helicóptero, foi inicialmente levado a um hospital na cidade de Moûtiers. Depois, foi transferido para o centro de traumatologia de Grenoble, especializado em acidentes de esqui. Com hemorragia cerebral, entrou em coma, e viu o estado de saúde se deteriorar rapidamente.
Após a primeira cirurgia, apresentou uma ligeira melhora, o que permitiu um segundo procedimento, removendo um hematoma e buscando aliviar a pressão intracraniana do piloto, que passou o aniversário de 45 anos na UTI.
Conforme os dias foram passando, fãs realizavam vigília na frente do hospital em Grenoble, mas a situação de mistério sobre o estado de saúde de Michael começaria. Primeiro, com um pedido da esposa Corinna para que a imprensa se retirasse do local. Em seguida, com repetidas notas de assessoria sem dar quaisquer informações sobre a situação.
Uma indicação de melhora surgiu em abril de 2014, quando a assessora Sabine Kehm divulgou que Michael apresentava “momentos de consciência e despertar“. Em junho, o alemão foi removido do coma e seguiu a recuperação com a transferência de hospital, deixando Grenoble e sendo internado em Vaud, na Suíça.
Porém, Grenoble não sairia de cena na história. A polícia francesa abriu investigação por conta de uma suspeita de roubo do prontuário de Schumacher, e que a ficha estaria sendo oferecida para a imprensa europeia pelo preço de € 50 mil. O rastreamento da polícia apontou para a Rega, empresa de ambulâncias aéreas que faria a remoção de Michael da França para a Suíça, em acordo que não foi adiante.
O principal suspeito de roubar o prontuário foi preso em Zurique, em agosto de 2014, mas cometeu suicídio logo em seguida. No mês seguinte, foi anunciado que Michael daria sequência à recuperação em casa, com a assessoria mencionando o termo “progresso” mais uma vez. Com Schumacher em casa, o mistério se intensificou e o conflito de informações também. O que partiu da família era em tom de otimismo, mas mencionando “longa luta” para se recuperar das sequelas. Na imprensa, a informação era de comunicação apenas com os olhos.
Em 2015, o estado de Michael seguia um enorme mistério, ao mesmo tempo em que o filho, Mick, iniciava os primeiros passos no esporte a motor. A Ferrari voltou a ser representada por um alemão, com a chegada de Sebastian Vettel na Scuderia. A família Schumacher, inclusive, parabenizou Vettel pela primeira vitória na equipe, no GP da Malásia, atitude que tirou lágrimas até do então chefe do time, Maurizio Arrivabene. O tetracampeão mundial, inclusive, tratou de destacar como Michael era seu herói pessoal, e o triunfo vestindo vermelho, um sonho realizado.
Em maio, a assessora Sabine Kehm voltou a dizer que a condição de Schumacher era melhor, mas, mais uma vez, sem dar grandes detalhes. Meses depois, Corinna Schumacher venceu uma ação na justiça alemã contra as revistas ‘Bunte’, ‘Freizeit-Revue’ e ‘Freizeit-Spass’ por violação de privacidade em relação a notícias publicadas sobre o estado de saúde de Michael.
Já em 2016, uma figura conhecida começou a surgir no noticiário: Willi Weber, ex-empresário de Michael, que revelou ser impedido pela família de visitar o antigo cliente, além de tecer duras palavras sobre o estado do heptacampeão. Com rumores pesando sobre uma possível piora, Jean Todt, então presidente da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) e ex-chefe de Schumacher na Ferrari, afirmou que o piloto estava na maior batalha da vida. A família seguiu forte na defesa do sigilo sobre a situação.
Sem grandes notícias, os anos seguintes foram mais calmos sobre a situação de Michael, enquanto Mick seguia crescendo no esporte a motor, chegando ao grid da F3 Europeia. A família voltou a ser alvo de manchetes após a compra de uma propriedade na ilha de Mallorca, na Espanha, em agosto de 2018. Rumores surgiram de uma possível mudança para maior privacidade, mas foi prontamente negada.
Em 2019, Michael completou 50 anos de idade. As visitas privadas de amigos como Jean Todt e Ross Brawn seguiam, sem maiores revelações. No meio de tudo isso, o filho Mick foi anunciado como novo membro da academia de pilotos da Ferrari, subindo para a Fórmula 2. Em setembro, o piloto foi internado em um hospital em Paris, na França. Apesar dos temores de uma piora, foi revelado que o “tratamento secreto” era um procedimento comum.
Em novembro, Corinna quebrou o silêncio sobre o estado de saúde do marido, afirmando que o sigilo foi um pedido do próprio ex-piloto, mas sem dar maiores detalhes, pedindo a compreensão dos fãs sobre o segredo. A entrevista gerou críticas de Willi Weber, com o empresário afirmando que ela tinha “medo da verdade”.
O mistério também impediu Michael de viver um 2020 que certamente seria marcante. Já que Lewis Hamilton igualou o número de títulos do piloto alemão, enquanto Mick se tornou campeão da Fórmula 2, ganhando passaporte para correr no Mundial no ano seguinte, trazendo o sobrenome Schumacher de volta ao grid da Fórmula 1.
Em 2021, veio o documentário ‘Schumacher’. A obra foi feita produzida por um estúdio alemão e lançada com exclusividade na Netflix em 15 de setembro, como celebração dos 30 anos da estreia do piloto na Fórmula 1. Com muitas entrevistas, o filme terminou com um emocionado depoimento de Corinna, que ainda sem dar muitos detalhes, afirmou que sente falta de Michael.
“Nunca culpei Deus pelo que aconteceu. Foi só azar, já que podia ter acontecido com qualquer um. Claro, sinto falta dele todos os dias. Mas não sou a única a sentir falta dele. As crianças, a família, o pai dele, todos ao redor. Todos sentem falta de Michael”, seguiu.
“Mas Michael está aqui. Ele está diferente, mas está aqui. E isso nos dá força”, considerou. “Estamos juntos, vivemos juntos em casa. Ele está em tratamento. Fazemos de tudo para melhorar a condição dele, para garantir que ele esteja confortável e para fazer com que ele se sinta em família, uma ligação”, frisou.
Em 2023, enquanto Mick deixou a Fórmula 1 após uma passagem apagada em duas temporadas na Haas, a família Schumacher só retornou aos holofotes por conta de mais um processo. Agora contra a revista alemã Die Aktuelle, que publicou uma “entrevista exclusiva” com o heptacampeão, mas com conteúdo gerado por inteligência artificial.
Duas grandes atualizações vieram a cabo na vida de Michael Schumacher ao longo do último ano. Uma delas a tentativa de extorsão da família, que tinha o objetivo de extirpar € 15 milhões (R$ 95,6 milhões, na cotação do começo de dezembro) com chantagens utilizando cerca de 1.500 fotos e 200 vídeos. O caso foi revelado pela promotoria alemã no último mês de setembro e entrou em julgamento, ainda em curso, neste dezembro.
De acordo com a investigação conduzida em conjunto na Suíça e na Alemanha, o mentor do plano foi Markus Fritsche, ex-segurança da família, que efetuou o roubo de fotos e vídeos, além de dados clínicos e prontuários médicos ao perceber que tinha sido afastado da proximidade com o heptacampeão mundial, o que acreditava ser indício de uma demissão. Que de fato aconteceu, em 2021. Em seguida, de acordo com a Justiça da Alemanha, recrutou Yilmaz Tozturkan, um amigo de longa data, e o filho de Tozturkan, Daniel Lins, um especialista em TI e que também prestava serviço à família. Os três estão atualmente presos.
Mais tarde, a investigação ainda sugeriu o envolvimento de uma enfermeira, que não teve o nome divulgado, mas que foi demitida pela família no fim de 2020, como possível facilitadora do roubo. Sabine Kehm falou que a enfermeira em questão foi “demitida por rendimento nos cuidados diários”.
A procuradoria pede quatro anos de prisão para os envolvidos, mas o julgamento ainda vai demorar mais algum tempo. Outras datas foram estabelecidas para a sequência da ação legal, com a última marcada para fevereiro de 2025.
A outra importante atualização do ano que passou é muito positiva. Gina-Marie, filha mais velha de Michael e Corinna, anunciou, no último dia 22 de dezembro, que está grávida. A sempre reservada amazona profissional, que se casou com o veterinário Iain Bethke em cerimônia realizada na Espanha, em setembro passado, fez questão de celebrar nas redes sociais que estava “impacientemente aguardando a chegada da nossa menininha”. A expectativa é que a primeira neta de Michael Schumacher nasça em abril de 2025.
A partir de agora, a história de Michael Schumacher é mais que a história de um piloto. Mais que a história de um pai. É também a história de um avô.
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