Imponderável rouba a cena, influencia diretamente em jejum da Mercedes e traz equilíbrio inesperado à F1

As três primeiras corridas da temporada 2018 da F1 foram melhores do que a encomenda. Mas não necessariamente pela natureza competitiva da categoria, mas por fatores fora da curva que proporcionaram jogadas inteligentes em termos de estratégia. Se antes a lógica era — e ainda é — de favoritismo da Mercedes, ao menos o início do campeonato equilibrou um pouco mais a ordem de forças na F1

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Nelson Rodrigues certamente escreveria que a temporada 2018 da F1 começou diretamente influenciada pelo Sobrenatural de Almeida. Foi assim, nas três primeiras corridas do campeonato, que o imponderável entrou em jogo, proporcionou disputas estratégicas e entregou etapas de qualidade bem acima do esperado. De quebra, embaralhou a ordem de forças do Mundial. Mesmo com o carro diva que já provou ter — de novo —, a Mercedes ainda demonstra ser a favorita aos títulos em jogo no campeonato. Mas amarga um jejum jamais visto na nova ‘Era Turbo’: o de três corridas seguidas sem vitória.

 
O melhor de tudo, principalmente para os fãs, é que os GPs da Austrália, Bahrein e China foram muito melhores do que se desenhavam. Para o Liberty Media, é um prato cheio e tanto mesmo diante de uma ainda notória dificuldade da F1 atual: as ultrapassagens, ou a falta delas.
 
Em Melbourne, por exemplo, a corrida tinha toda a cara cinzenta da monotonia com um Lewis Hamilton controlando a vantagem na liderança. Foi aí que o imponderável mudou a história da primeira corrida do ano com uma cena inacreditável: duas trocas de pneus da Haas, dois erros na fixação das rodas dos carros de Kevin Magnussen e Romain Grosjean. A posição em que parou o #8 do franco-suíço determinou primeiro o safety-car virtual e, em seguida, o SC propriamente dito.
O primeiro ato do Sobrenatural de Almeida: a parada  de Grosjean ajudou Vettel a vencer em Melbourne (Foto: AFP)
Inteligente, a Ferrari chamou Sebastian Vettel — que liderava a prova por ter retardado sua parada — para sua troca de pneus durante o período de bandeira amarela e conseguiu colocá-lo à frente de Hamilton no que chamamos de ‘undercut’. A manobra foi decisiva para a grande vitória de Seb e o primeiro revés da Mercedes no ano.
 
Nos dias seguintes ao GP da Austrália, surgiram até rumores infundados de uma conspiração envolvendo a Haas para favorecer a Ferrari. Bobagem, claro. A questão foi muito mais sobre sorte e azar, sobre agir no momento certo, no caso de Vettel, ou de se perder nos cálculos e se ver superada pela rival, como a Mercedes.
A quase tragédia no pit-stop de Räikkönen acabou decidindo o GP do Bahrein em favor de Vettel (Foto: AFP)
Duas semanas depois, Sakhir mostrou novamente a faceta das surpresas que o destino pode proporcionar. Destino que novamente ajudou a Ferrari na luta direta contra a Mercedes.
 
A corrida começou a se desenhar da seguinte forma: com a supremacia dos carros vermelhos no grid de largada, a Mercedes optou por uma estratégia de uma parada para Hamilton, punido em cinco posições por ter trocado o câmbio, largando com pneus macios e terminando a prova com os médios. A Ferrari fatalmente faria dois pit-stops com Vettel e Kimi Räikkönen: largada com os supermacios, troca para os macios e desfecho da corrida com os pneus vermelhos. Bottas, que largou em terceiro, adotou a mesma estratégia dos rivais de Maranello.
 
O jogo ferrarista se cumpriu com Vettel e Räikkönen fazendo a primeira troca para colocar os pneus macios. Mas a Mercedes, vendo que Hamilton rendia bem com os pneus médios, ‘marcou’ a Ferrari e antecipou a parada de Bottas, entrando na mesma estratégia de apenas um pit-stop adotada para Lewis Hamilton. A boa performance dos carros prateados com os pneus brancos indicava que Valtteri voltaria à frente de Vettel com a segunda parada do alemão.
Valtteri Bottas despontava para a vitória na China. Até que o imponderável trabalhou novamente contra a Mercedes  (Foto: Mercedes)
Foi quando o Sobrenatural de Almeida agiu novamente. Räikkönen foi o primeiro dos vermelhos a entrar nos boxes para fazer seu pit-stop para espetar novamente pneus supermacios. Aí veio a fatalidade e o atropelamento do mecânico Francesco Cigarini, gerando uma imagem chocante. O problema no pit-stop e a roda mal fixada levaram o ‘Homem de Gelo’ a abandonar a corrida, enquanto a direção de prova acionou o VSC para remover seu carro da pista. E a disputa, que sugeria até uma vitória da Mercedes, ganhou nova dinâmica.
 
A Ferrari arriscou e decidiu não fazer o segundo pit-stop de Vettel. Com pneus macios muito mais gastos e com um stint de 39 voltas no total, Seb parecia presa fácil para um Bottas com pneus mais novos e resguardados, o que compensava a diferença de performance dos médios para os macios. No braço, no peito e na raça, o tetracampeão segurou o finlandês com valentia em um fim de corrida eletrizante. Pela segunda vez, a Mercedes perdia uma vitória que lhe parecia certa.
Daniel Ricciardo alcançou uma glória improvável e épica em Xangai (Foto: Getty Images/Red Bull Content Pool)
O terceiro ato do glorioso personagem de Nelson Rodrigues foi no último domingo em Xangai, na esteira de mais um fim de semana difícil para a Mercedes, às voltas com a diva que sente demais frio e calor e não consegue tratar bem dos pneus. A Ferrari nadava de braçada e tinha tudo para comemorar mais uma vitória, a terceira consecutiva com Vettel.
 
Se a Ferrari havia sido mestra em estratégia na Austrália e no Bahrein, a Mercedes foi mais esperta na China ao antecipar a parada de Bottas, que trocou os pneus macios pelos médios na volta 19 para ir até o fim da prova. Vettel parou uma volta depois. A cochilada da Ferrari se mostrou evidente porque Valtteri conseguiu voltar à pista bem mais rápido que o tetracampeão e não só descontou a diferença como fez o ‘undercut’ quando Seb voltou à pista.
 
Aí a vitória parecia destinada ao finlandês. Só que a Mercedes não contava que mais um fato fora do seu alcance colocaria tudo a perder. Em mais um golpe do destino, até mesmo a Ferrari, outrora brindada pela sorte, sucumbiu.
 
A desastrada tentativa de cumprir a ordem da Toro Rosso e inverter as posições na pista fez com que Pierre Gasly acertasse o carro logo do seu companheiro de equipe, Brendon Hartley, e espalhar um monte de detritos no trecho do haripin logo ao fim da longa reta chinesa. Foi a senha para a direção de prova acionar o safety-car. Quando a bandeira amarela tremulou em Xangai, Bottas, Vettel e Hamilton já haviam passado pela reta dos boxes. Verstappen e Ricciardo, não. A Red Bull deu o pulo do gato, chamou os dois ao mesmo tempo, na volta 31, e fez a parada decisiva: troca dos médios pelos pneus macios para ir até o fim da corrida. 
Próxima etapa da temporada vai ser em Baku, palco da melhor e mais insana prova em 2017 (Foto: Mercedes)
O que ficou é história e ainda está na retina. Verstappen, com toda a chance de vencer, já que estava à frente de Ricciardo, meteu os pés pelas mãos em manobras desastrosas de ultrapassagem contra Hamilton e Vettel. Muito mais cerebral, Ricciardo combinou pilotagem perfeita e arrojo na hora certa para passar Räikkönen, Hamilton, Vettel e, de forma espetacular, Bottas, para assumir a liderança na volta 45 e daí partir para coroar uma exibição primorosa no topo do pódio com o já popular shoey. Às rivais Mercedes e Ferrari, restou lamentar a falta de sorte.
 

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Foram três corridas em que, se desse a lógica, a Mercedes teria vencido. Mas aconteceu tudo errado para a equipe tetracampeã do mundo, que amargou uma seca jamais vista desde quando começou a dominar a F1, a partir de 2014. O cenário lembra muito, mal comparando, a temporada 1993, quando Ayrton Senna teve a ajuda dos céus, venceu os GPs do Brasil e da Europa e liderou de forma improvável após três corridas, ainda que o favoritismo fosse claro em favor de Alain Prost, o campeão daquele ano com a Williams 'de outro planeta'.

 
É claro que não vai ser sempre assim e vai ser inevitável que a F1 tenha corridas mais lógicas, sem tanta ação e surpresas. Mas a influência direta do imponderável torna a temporada muito mais emocionante, agitada e divertida, para deleite dos fãs e do Liberty Media, que vê um equilíbrio de forças muito além do imaginado. E se a próxima etapa da temporada, o GP do Azerbaijão, for do mesmo jeito que em 2017, certamente será motivo para um novo ato do Sobrenatural de Almeida na F1.
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