‘Itinerante’, GP dos Estados Unidos tem história marcada por vitórias brasileiras, estreia de Vettel e até Minardi na 1ª fila

Ayrton Senna é o maior vencedor do GP dos Estados Unidos, ao lado de Michael Schumacher, ambos com cinco conquistas cada. Mas Emerson Fittipaldi, que lá venceu sua primeira prova na F1, e Rubens Barrichello, também já triunfaram em terras norte-americanas, sem falar de Nelson Piquet, que conquistou sua primeira vitória em Long Beach, na versão Oeste da corrida, em 1980

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É até meio chavão dizer que a história da F1 não casa bem com os Estados Unidos. Mas, quando se olha para trás, dá para perceber que não é bem assim. É fato que a trajetória norte-americana como sede do Mundial é das mais peculiares, e isso envolve, entre tantos fatores, a própria nomenclatura e a tradição de uma das mais importantes corridas do mundo.
 
A primeira que os Estados Unidos receberam a F1 foi em 1950, no primeiro ano de história da categoria. Não era uma corrida qualquer, mas simplesmente as 500 Milhas de Indianápolis. Aquela que é uma das principais provas do automobilismo mundial — e que completará 100 anos em 2016 — fez parte do calendário da F1 entre 1950 e 1960. 
 
Mas a prova só fazia parte do cronograma como forma de dar à F1 uma chancela de campeonato mundial, uma vez que a categoria só realizava corridas no continente europeu. Tanto que os pilotos, em sua extrema maioria, eram todos norte-americanos ou oriundos da antiga Indy.
Emerson Fittipaldi venceu sua primeira corrida na F1 em Watkins Glen (Foto: Getty Images)
O primeiro GP dos Estados Unidos propriamente dito aconteceu mesmo em 12 de dezembro de 1959, na última etapa daquela temporada, realizada no tradicional circuito de Sebring. A vitória naquela prova ficou com o lendário Bruce McLaren.
 
De lá para cá, o GP dos Estados Unidos foi realizado em 36 oportunidades, de maneira meio ‘itinerante’: além da prova em Sebring, uma corrida foi realizada em Riverside, 15 no circuito de Watkins Glen — onde Emerson Fittipaldi venceu pela primeira vez na F1 e, de quebra, garantiu o título póstumo a Jochen Rindt —, uma na escaldante Dallas, quatro em Detroit, três nas ruas de Phoenix, no Arizona, além do retorno da F1 a Indianápolis, entre 2000 e 2007. A partir de 2012, o GP dos Estados Unidos passou a ser realizado em Austin, no Texas.
 
Sem se apegar à nomenclatura tão somente, os Estados Unidos também tiveram as edições especiais Leste e Oeste. No Leste, foram cinco corridas em Watkins Glen e outras três em Detroit. Do lado Oeste, o circuito de rua de Long Beach, na Califórnia, recebeu a F1 entre 1976 e 1983. E foi neste período, mais precisamente em 1980, que Nelson Piquet conquistou sua primeira vitória na F1.
 
Os Estados Unidos também tiveram duas edições do inusitado GP de Las Vegas, que foi realizado em um circuito construído no imenso estacionamento do hotel-cassino Caesars Park, entre 1981 e 1982.
 
No que diz respeito ao GP dos Estados Unidos propriamente dito, o Brasil tem um enorme histórico. Só com Ayrton Senna, foram cinco vitórias, incluindo a célebre conquista em 1986, lograda em Detroit pouco depois de a Seleção Brasileira ter sido eliminada pela França na Copa do Mundo do México. Senna fazia novamente o Brasil sorrir, ainda mais depois de eternizar o gesto de empunhar a bandeira verde e amarela após o triunfo.
 
Senna divide com Michael Schumacher a primazia de ser o maior vencedor do GP dos Estados Unidos. A diferença é que o brasileiro alcançou suas vitórias em circuitos de rua, sendo três vezes em Detroit e outras duas em Phoenix. Por sua vez, Schumacher alcançou todas as suas conquistas no circuito meio-misto, meio-oval de Indianápolis. Michael poderia ter até vencido seis vezes lá, mas em 2002 optou por entregar a vitória a Rubens Barrichello — como retribuição por ter recebido do brasileiro a conquista no vergonhoso GP da Áustria — e eternizou aquela que foi a segunda mais curta diferença da história: 0s011.
Em 1981 e 1982, a F1 correu em um enorme estacionamento em Las Vegas (Foto: Forix)
Entre as equipes, curiosamente, nem Ferrari e tampouco McLaren lideram a lista de vitórias no GP dos Estados Unidos. Tal posição cabe à Lotus, que conquistou dez triunfos, logradas por alguns grandes nomes: Stirling Moss, Jim Clark, Jochen Rindt, Emerson Fittipaldi e o próprio Ayrton Senna.
 
A seguir, relembre alguns fatos históricos que marcaram o GP dos Estados Unidos:
 
A primeira vitória do Brasil na F1
 
Foi em 4 de outubro de 1970, em Watkins Glen, que o Brasil teve a chance de ver a bandeira verde e amarela pela primeira vez no topo do pódio da F1. Emerson Fittipaldi assumia naquela oportunidade o posto de primeiro piloto da Lotus depois da trágica morte de Rindt no fim de semana do GP da Itália, em Monza. Emerson assumiu a ponta da corrida na fase final ao superar o mexicano Pedro Rodríguez, da BRM, e abriu a trajetória de um dos países de maior sucesso na categoria. Foi a primeira de 101 vitórias já conquistadas pelo Brasil na F1. 
 
Com a vitória em Watkins Glen, Emerson fazia história duas vezes: além de ser o primeiro brasileiro a vencer na F1, Fittipaldi também garantia a Rindt, seu antigo companheiro de equipe, o título de campeão mundial, o primeiro post-mortem da história do esporte.
 
Quatro anos depois, na mesma Watkins Glen que o consagrou pela primeira vez como vencedor na F1, Fittipaldi sacramentava a conquista do bicampeonato mundial, já como piloto da poderosa McLaren.
 
 
Na ‘Praia Grande’, Piquet brilha com a Brabham e vence pela primeira vez
 
No GP dos Estados Unidos-Oeste, de 1980, Nelson Piquet brilhou muito nas ruas de Long Beach, na Califórnia, e venceu sua primeira corrida no Mundial de F1. Foi uma vitória estrondosa do piloto da Brabham, que marcou a pole-position, liderou todas as voltas da prova e ainda marcou a melhor volta daquela corrida. Foi o começo vencedor de trajetória de um dos principais pilotos daquela década e, por que não dizer, da própria F1 ao longo de sua história.
 
A conquista em Long Beach até hoje inspira gerações. Na temporada em que foi campeão da F-E em 2014/2015, o filho Nelsinho Piquet homenageou o pai e venceu na mesma pista onde Nelsão vencera 35 anos antes. E desde o ano passado, o caçula Pedro usa a mesma pintura eternizada pela Brabham-Cosworth BT-49 com o qual o patriarca Piquet brilhava na ‘Praia Grande’ da F1.

 

‘Leão’ não resiste à escaldante Dallas
 
O GP dos Estados Unidos realizado pela primeira e única vez em Dallas foi um dos mais difíceis para os pilotos naquela temporada de 1984. Fazia um enorme calor em 8 de julho daquele ano. Isso exigiu tanto dos pilotos como também dos carros, e muitos não aguentaram a intensidade de um clima tão quente no Texas.
 
Nigel Mansell conquistou pela primeira vez a pole-position na F1. Mas ao longo da corrida, o ‘Leão’, então na Lotus, não resistiu à pressão imposta por Keke Rosberg e foi ultrapassado. O finlandês conquistava sua terceira vitória na carreira. Apenas oito carros chegaram ao fim.
 
Sem combustível, Mansell desceu do carro e tentou empurrar a sua Lotus até cruzar a linha de chegada. Mas o calor era tão forte que o britânico não aguentou e desmaiou. Ainda assim, o ‘Leão’ conseguiu garantir um ponto ao completar aquela corrida em sexto lugar.
 
 
Após fracasso na Copa, Brasil volta a sorrir com Senna
 
Comandada por Telê Santana na Copa do Mundo do México em 1986, a Seleção Brasileira não era tão brilhante quanto em 1982, mas ainda assim permitiu ao povo sonhar com a conquista do tetracampeonato. Que não veio depois da eliminação contra a França nos pênaltis. O sonho da nova taça do mundo ficava adiado para a Copa da Itália.
 
Mas Ayrton Senna tratou de dar um pouco de alegria ao povo brasileiro naquele fim de semana. O piloto da Lotus largou na pole e teve um bom carro em mãos para superar Jacques Laffite, da Ligier, e sair de Detroit com a vitória. De quebra, empunhou pela primeira vez a bandeira do Brasil ao conquistar a vitória, servindo como um alento depois de mais uma decepção do país com o futebol.
 
 
Alesi dá show, mas Senna vence nas ruas do Arizona
 
Nas apertadas ruas de Phoenix, no Arizona, Jean Alesi deu um show e impressionou não só Ayrton Senna, mas como todo o mundo da F1. Em uma aparição brilhante, o então jovem piloto da Tyrrell liderou por um bom tempo o GP dos Estados Unidos de 1990, brigando diretamente pela vitória contra o brasileiro.
 
Alesi segurou Senna enquanto pode, aproveitando dos trechos travados do circuito  urbano de Phoenix. O brasileiro estava na sua cola, cada vez maior no retrovisor. Mas o francês guiava com uma maturidade enorme, nem parecia que ele havia estreado em meados de 1989. 
 
Depois de muito pressionar, Senna aproveitou a força do motor Honda e colocou por dentro, no fim da reta oposta, para ultrapassar Alesi, que deu o troco na apertada esquina de Phoenix na sequência. Era gigante a prova do descendente de sicilianos. Aí, duas voltas depois, Senna aproveitou que Alesi não negociou bem a ultrapassagem na Brabham de Gregor Foitek e conseguiu finalmente ultrapassar, fechando a porta para não ser mais surpreendido por Jean. Ayrton partiu para uma grande vitória, que abriria caminho para a conquista do tricampeonato.
 
 
Épico: Minardi na primeira fila 
 
Foi algo histórico. Pierluigi Martini, praticamente uma bandeira da Minardi, conquistou, naquele mesmo fim de semana do GP dos Estados Unidos de 1990, a única primeira fila da história da equipe. Em um treino classificatório marcado pelo inacreditável, o italiano só ficou atrás do pole Gerhard Berger e bateu uma enormidade de nomes de peso. Para se ter ideia do quão louca foi a classificação, Senna, ‘Rei das Poles’, tinha conquistado só o quinto colocado, dividindo a terceira fila com Nelson Piquet.
 
Mas durou pouco a alegria na Minardi. Martini largou mal e despencou para sétimo lugar, recuperando em seguida duas posições. O italiano teve uma jornada difícil e, depois de chegar a andar em 11º, conseguiu se recuperar, mas terminou apenas em sétimo. A temporada 1990 começava razoavelmente bem pela Minardi pela classificação, mas era um resultado ilusório, já que o time de Faenza sequer chegou a pontuar naquele ano.
Pierluigi Martini largou na primeira fila do GP dos Estados Unidos de 1990 (Foto: LAT Photographic/Forix)
A retribuição de Schumacher
 
A década de 2000 foi emblemática para a F1 e também para a Ferrari quando se trata do GP dos Estados Unidos. Sonho antigo de Bernie Ecclestone, o Indianapolis Motor Speedway voltava a receber a F1 40 anos depois. Mas não se tratava necessariamente do circuito oval, mas sim de trechos do lendário ‘brickyard’ com um circuito misto construído no interior do oval. Schumacher aproveitou a grande fase da Ferrari e venceu cinco vezes entre 2000 e 2006.
 
Mas em 2002, a Ferrari estava vermelha de vergonha pelo escandaloso desfecho do GP da Áustria. Por isso, para tentar limpar a barra, Schumacher quis retribuir a ajuda recebida por Rubens Barrichello em Spielberg. Como algo friamente calculado, depois de dominar a corrida, o alemão emparelhou na grande reta dos boxes ao lado de Barrichello. 
 
Por uma irrisória diferença de 0s011, Rubens cruzou a faixa de tijolos na frente para ser o último brasileiro a vencer uma edição do GP dos Estados Unidos. Foi a segunda menor diferença entre dois pilotos na história da F1.
 
 
O famoso GP dos seis carros
 
Há quem diga que o episódio em questão tenha arranhado de vez a imagem da F1 nos Estados Unidos e tenha contribuído sobremaneira para a saída da categoria do país. Em 2005, a Ferrari, diferente dos outros anos, não tinha nem de longe o melhor carro. Mas tirou proveito de um inacreditável boicote para vencer novamente em Indianápolis com Schumacher.
 
Ocorre que os pneus da Michelin apresentaram problemas ao passar em alta velocidade no trecho do oval que levava à reta dos boxes, o que causava muita insegurança aos pilotos em razão da proximidade com o muro. Ralf Schumacher, por exemplo, destruiu seu Toyota nesse trecho e foi impedido de correr, sendo substituído por Ricardo Zonta.
Só seis carros largaram em Indianápolis há dez anos (Foto: Getty Images)
As equipes clientes da Michelin, então, decidiram em conjunto pela saída da corrida tão logo após o cumprimento da volta de apresentação, incluindo o pole, Jarno Trulli. O que se viu depois disso foi uma imagem surreal. Debaixo de muitas vaias e protestos de quem pagou caro pelo ingresso, apenas seis carros — as Ferrari de Schumacher e Barrichello; as Jordan de Thiago Monteiro e Narain Karthikeyan; e as Minardi de Christijan Albers e Patrick Friesacher largaram e nessa ordem terminaram.
 
A F1 colecionava mais uma vergonha para sua lista nos anos 2000.
 
 
A estreia de Vettel na F1
 
A mesma Indianápolis que viu nascer grandes lendas do esporte foi palco da estreia daquele que viria a ser o grande nome da F1 na década seguinte. Em 2007, Sebastian Vettel era o terceiro piloto da BMW Sauber e começava a se destacar pelo seu bom desempenho durante as sextas-feiras de treinos livres. Até que uma quase tragédia o colocou no grid do Mundial.
 
Robert Kubica bateu de forma muito forte durante o GP do Canadá. Sem condições de correr em Indianápolis, os comandados de Mario Thiessen não tiveram dúvidas: Vettel estava escalado para o GP dos Estados Unidos no lugar do polonês. E o menino alemão não fez feio, muito pelo contrário.
O menino Vettel fez sua estreia na F1 no GP dos Estados Unidos de 2007 (Foto: BMW/AG)
Com uma performance bem longe de comprometer, Vettel fez história ao cruzar a linha de chegada em oitavo lugar e ser, à época, o mais jovem piloto a pontuar na F1, com 19 anos, 11 meses e 14 dias. Depois de Seb, que virou tetracampeão mundial durante sua laureada passagem pela Red Bull, apenas Daniil Kvyat e Max Verstappen, este com 17 anos, cinco meses e 29 dias, superaram o recorde de precocidade de Vettel nos pontos na F1.
 
 
F1 desbrava Texas e vê última vitória de ‘caubói’ Hamilton na McLaren
 
Em 2012, a F1 finalmente voltava aos Estados Unidos depois de uma ausência de cinco anos. O palco era o novíssimo Circuito das Américas, na bela e musical cidade de Austin, no Texas. O circuito, uma maravilha descrita pelos pilotos, tinha alguns trechos bem interessantes e inspirados em outras pistas do calendário, como a Becketts de Silverstone e a famosa Curva 8 do circuito de Kurtkoy, na Turquia.
 
A temporada tinha Sebastian Vettel como dono. O alemão teria de esperar mais alguns dias antes da batalha final contra Fernando Alonso para que a F1 conhecesse o novo tricampeão mundial.
O 'caubói' Lewis Hamilton comemora sua última vitória pela McLaren no GP dos Estados Unidos de 2012 (Foto: McLaren F1)
Vettel foi surpreendido com a ótima performance de Lewis Hamilton. O britânico, que havia assombrado o mundo do esporte ao anunciar a saída da equipe que o forjou para o automobilismo e assumir o lugar de Michael Schumacher na Mercedes, teve uma performance esplendorosa e não tomou conhecimento de Seb. Depois de um bom duelo, o então campeão mundial de 2008 cruzou a linha de chegada na frente em Austin. Hamilton se tornava o primeiro piloto a vencer uma corrida de F1 no Circuito das Américas justamente na sua última vitória pela McLaren.
 
Ao fim da corrida, uma comemoração no mínimo engraçada e bem pensada. Antes da festa do champanhe, ao invés do tradicional boné, a Pirelli entregou a Hamilton, Vettel e Fernando Alonso um típico chapéu de caubói texano, causando muitos risos e rendendo ótimas fotos da comemoração no pódio norte-americano.
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