No esporte, temos a mania (que beira a obsessão) de analisarmos o momento. Isso acontece com jornalistas, com torcedores, com dirigentes, com os próprios atletas… Qualquer mínima evolução é tratada como a chegada ao ápice, qualquer pequeno deslize e o protagonista de tal queda vira escória.
Não pode ser assim.
Ao falarmos da Renault na Fórmula 1 em 2020, é preciso esse cuidado. Porque qualquer pequena melhora parece algo gigantesco, ainda mais quando se compara com o desastre que é a equipe há tantos anos.
Então quem se anima com os bons desempenhos das duas provas recentes disputadas em Silverstone não está proibido de ativar o modo empolgou – esse texto é só uma dica: faça isso ou com moderação, ou escondido, para não se decepcionar quando tudo voltar ao normal.
Aliás, é preciso lembrar que os resultados não foram tão excelentes: o quarto lugar no GP da Inglaterra para o australiano, tudo bem, foi sim, mas veio em meio ao caos dos estouros de pneus; de resto, Ocon foi sexto na mesma situação, e Ricciardo foi quinto na classificação para o GP dos 70 Anos, mas errou, rodou, e terminou só em 14°.
Tal classificação trouxe algo, aliás: aqui no GRANDE PRÊMIO, sempre publicamos o que os pilotos dizem após os treinos livres, a classificação e as corridas. São entrevistas concedidas aos assessores das próprias equipes – portanto, já com filtros, afinal nenhum time quer polêmica entregue de graça.
Mas, por vezes, alguns detalhes escapam, mesmo que subentendidos. Na classificação para os 70 Anos, Ocon ficou em 14°, nove posições atrás de Ricciardo. E falou: “A distância foi tão grande que é preciso investigar o motivo. Pode ser algo que não entendemos em relação ao carro. Ele parecia bom hoje, mas não consegui alcançar a velocidade quando precisava.”
Não foi forte o suficiente para a equipe barrar, mas a insatisfação apareceu claramente. Mais que isso, o francês mostrou que ainda há um caminho no entendimento da Renault em relação ao próprio carro. A dita evolução pode ser, também um acaso*.
*Afinal, Cyril Abiteboul ainda é o chefe por lá.
De qualquer forma, é importante notar que o time não dá vexame. Em um ano em que a F1 vê a Haas e a Alfa Romeo despencarem nas tabelas, muitos apostariam que seria o caminho tomado pelos franceses. Não foi e nada indica que será.
O carro tem seus momentos, Ricciardo consegue brigar com quem de fato deveria – afinal, é um dos melhores pilotos do grid -, e Ocon pode não brilhar, mas ao passar despercebido por tanto tempo todo final de semana, faz que nem árbitro de futebol: ninguém vai elogiar, mas se ninguém lembra de sua existência durante um jogo, quer dizer que vexame não deu, muito menos erros cometeu.
Que o momento seja de estabilidade. Meio do grid, poucas – ou nenhuma – quebras, Ricciardo indo além na base do talento e a equipe não errando em estratégias. Tempo ao tempo: se as coisas se mantiverem assim, sem crise, resistindo, quando Fernando Alonso chegar a evolução pode ser natural. Longo prazo, Renault, seus torcedores já entenderam que só assim os bons resultados virão.
Na verdade, a torcida é para que o sorriso de Ricciardo apague o amargor deste texto. Capacidade ele tem, é só a Renault ajudar.