Verstappen é bicampeão mundial de F1 após vitória e confusão no fim do GP do Japão

O GP do Japão contou apenas com cerca de 50% das voltas planejadas, mas teve acidentes, trator na pista e três horas de duração. No fim, Max Verstappen venceu e, com uma definição de punição a Charles Leclerc depois da bandeirada, conquistou o bicampeonato da F1 em Suzuka

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Uma bagunça absoluta. O GP do Japão deste domingo (9) representava o retorno da Fórmula 1 ao país após dois anos seguidos em que o evento não aconteceu por conta da pandemia do coronavírus, mas era o momento de acabar com o hiato em Suzuka. Só que a chuva estava com hora marcada e, conforme esperado, apareceu para fazer parte do show. Desde a largada estava na cara que haveria muito pano para manga em Suzuka. No fim das contas, Max Verstappen foi quem sobreviveu nas condições dadas e venceu a corrida. A 12ª da temporada 2022 para ele. E, com o rebuliço do fim da prova, a confirmação daquilo que todo mundo sabia: o bicampeonato mundial.

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A vitória parecia não valer o título mundial. Matematicamente, Verstappen não garantia o título com a vitória e Charles Leclerc no segundo lugar, já que não fez a melhor volta da corrida. Leclerc recebeu a bandeirada em segundo, mas havia um importante detalhe. Na última volta, era atacado por Sergio Pérez e, na sanha de se defender, saiu da pista com a Ferrari e voltou em segundo. Parecia dramático, mas rapidamente veio a decisão da direção de prova: Leclerc perdia o lugar para Pérez. A definição veio durante as entrevistas dos três primeiros. Assim, de maneira confusa e impressionante, o título estava definido a favor de Max.

Fora do pódio, Esteban Ocon ficou na quarta colocação após segurar Lewis Hamilton por muitas voltas. Sebastian Vettel foi sexto colocado, enquanto Fernando Alonso, George Russell, Nicholas Latifi e Lando Norris fecharam o top-10.

Pierre Gasly passa muito próximo a trator na pista em Suzuka (Vídeo: Reprodução/F1)

Mas voltemos à largada. Por que falar nela? A chuva, que era uma garoa até minutos antes da partida dos carros, ganhou força, criou alguns bolsões na pista e, mais do que tudo, misturou-se com uma série de eventos logo na primeira volta. Sebastian Vettel tocou Fernando Alonso e rodou, enquanto Carlos Sainz escapou sozinho na chicane e deu uma pancada no muro, abandonado a prova e jogando uma placa de publicidade na pista. Pierre Gasly passou por cima dela e ficou coberto pelo placa de maneira totalmente incomum. Alexander Albon perdeu potência nos primeiros metros e foi mais um que teve de parar, enquanto Guanyu Zhou rodou no meio da pista.

O safety-car foi chamado ainda na primeira volta e, enquanto os pilotos ainda contornavam a pista atrás do carro de segurança, a direção de prova permitiu a entrada de um trator para retirar a Ferrari de Sainz. Sim, um trator coexistiu com os demais carros. Sim, em Suzuka, na mesma pista onde um incidente similar causou a morte de Jules Bianchi, oito anos atrás. Gasly ficou possesso. “Eu poderia ter me matado, isso é inaceitável”, esbravejava no pit-lane. A FIA se defendeu prontamente e acusou o piloto de estar rápido demais. A bandeira vermelha veio após só uma volta.

Entre tentativas e desistências, a corrida retornou apenas duas horas depois, quando o relógio já fazia a contagem regressiva para o fim da prova. Assim como na semana anterior, a prova terminaria não pelo número de voltas, mas no tempo. Ainda havia 48 minutos pela frente quando os carros voltaram à pista.

A Fórmula 1 continua em duas semanas, entre os dias 21 e 23 de outubro, direto de Austin, no Texas, com o GP dos Estados Unidos.

Max Verstappen ainda não é campeão mundial de F1 (Foto: Red Bull Content Pool)

Confira como foi o GP do Japão:

Chuva ou seco? Era a grande pergunta que permeava as horas anteriores à largada do GP do Japão. O que se sabia era que o risco era real, a previsão do tempo apontava já há alguns dias. Mas e aí? Não teve chuva pela manhã na região de Suzuka, na Prefeitura [espécie de divisão por estados no Japão] de Mie. Assim que o horário de 12h locais [0h de Brasília, GMT-3] abriu a tarde, uma chuva leve passou a cair na pista. Ainda faltava duas horas para a largada.

De um jeito ou de outro, o grid estava confirmado. Max Verstappen era o pole-position e carregava o vice-líder da F1, Charles Leclerc, na segunda colocação. Era importante porque, com Leclerc em segundo, Verstappen tinha de vencer a prova e conquistar a volta mais rápida para confirmar o título.

Depois dos dois, estavam os companheiros: Carlos Sainz e Sergio Pérez. Esteban Ocon, Lewis Hamilton, Fernando Alonso, George Russell, Sebastian Vettel e Lando Norris fechavam o top-10. Uma hora antes da largada, Pierre Gasly foi punido após a AlphaTauri resolver trocar a asa dianteira e caiu do 17º lugar para direto do pit-lane. Kevin Magnussen, Lance Stroll e Nicholas Latifi subiram um posto, com isso.

Max Verstappen e Charles Leclerc na largada do GP do Japão (Foto: Red Bull Content Pool)

A chuva não parou e, pelo contrário, até ganhou em intensidade em dado momento após quase uma hora, mas voltou a virar garoa quando os carros já estavam no grid. Era possivelmente razoável largar com a água que aparecia na pista naquele momento. E o ok estava dado: haveria largada normalmente e parada, com os pneus intermediários como a escolha correta.

Uma vez que as luzes se apagaram, anarquia absoluta na pista. Leclerc atacou Verstappen, mas o líder da corrida usou bastante do carro e se defendeu bem para manter a liderança. A realidade é que a chuva voltou a ganhar força nos cinco minutos antes da largada e, pelo pelotão, o esse fator misturado com a partida dos carros misturou tudo.

Vettel tentou utilizar o máximo possível da pista e pisou na grama três vezes diferentes ainda na reta. Quando fechou na pista para contornar a curva um, tocou Alonso e rodou, caindo para o último lugar. Mas era só o começo. Algumas voltas depois, no contorno do primeiro cotovelo, Sainz rodou sozinho, saiu da pista e deu uma pancada com a asa traseira no muro. Fim de corrida para o #55. Mas tinha mais.

Carlos Sainz foi direto na barreira de proteção e destruiu a traseira da Ferrari (Foto: Reprodução/F1)

Alexander Albon, de maneira inacreditável, apareceu parado do lado da pista. Outro erro na chuva? Não, o motor Mercedes da Williams perdeu potência e parou ainda nos primeiros metros da prova. Àquela altura, já havia safety-car e, em seguida, bandeira vermelha, mas outras coisas seguiram aparecendo.

A transmissão oficial de TV mostrava Gasly desfilando pela pista com a frente do carro coberta por uma placa de publicidade. Mas como? Na repetição, ficou claro: a placa foi parar no meio da pista após a batida de Sainz, e Gasly passou por cima sem saber do que tratava já que, como a câmera interna do carro provou, a visibilidade era nula. “O que diabos foi isso?”, questionou no rádio da AlphaTauri, assustado.

Ainda teve Guanyu Zhou, que rodou sozinho no meio da pista e deu sorte de não sofrer uma pancada das pesadas do restante do pelotão.

FIA decidiu interromper o GP do Japão (Foto: F1/Reprodução)

A decisão de parar a corrida agradou aos pilotos, conforme Hamilton admitiu ainda no rádio da Mercedes, momentos antes da decisão ser tomada. “Você acha que precisa ser dada bandeira vermelha?”, perguntou o engenheiro Peter Bonnington. Ao que Hamilton respondeu que “com esses pneus, sim”.

A interrupção veio após uma volta. Verstappen liderava e tinha Leclerc, Pérez, Ocon, Hamilton, Alonso, Russell, Daniel Ricciardo, Yuki Tsunoda e Mick Schumacher no top-10. O restante do pelotão estava na seguinte ordem: Lance Stroll, Magnussen, Norris, Valtteri Bottas, Latifi, Vettel, Zhou e Gasly. Já fora da corrida, Albon e Sainz.

Uma outra conversa interessante entre Hamilton e seu engenheiro viria a cabo já com os carros parados no pit-lane. “Você acha que a chuva vai diminuir em algum momento?”, perguntou o piloto. “A previsão do tempo é meio deprimente, mas vamos ver”, respondeu Bonnington.

Pierre Gasly poderia ter sofrido acidente grave com trator na pista (Foto: Reprodução/Twitter)

A sequência dos acontecimentos mostrou que Gasly estava bastante irritado nos boxes da AlphaTauri, mas não estava claro ainda o motivo. Pois bem: a FIA soltou um trator na pista para recuperar algum dos carros acidentados enquanto o restante dos carros ainda estavam por lá, em condições de visibilidade impraticáveis. Com a foto da câmera onboard, fica claro que mal dava para ver o trator de resgate. Os erros se repetem mesmo oito anos depois do acidente que matou Jules Bianchi e 27 anos depois do acidente que poderia ter matado Martin Brundle, ambos em Suzuka.

“Eu podia ter me matado, porra”, falou um revoltado Pierre. “É inaceitável”, reforçou. A FIA se defendeu e disse que a corrida já estava interrompida e Gasly, que tinha parado nos boxes na volta anterior para tirar a placa de publicidade e trocar pneus, estava rápido demais para tentar alcançar o pelotão. O que é inacreditável é a FIA acreditar que o fato de Gasly estar rápido na pista, algo que, aliás, é o espírito do esporte, tira responsabilidade dela misturar um trator no mesmo espaço que carros de corrida numa situação de visibilidade nula.

A próxima informação da direção de prova foi que a corrida seria retomada com uma relargada lançada às 2h50 [de Brasília] e obrigatoriamente com pneus de chuva extrema. A ver como o clima responderia, mas faltava cerca de 2h30min até escurecer na região de Suzuka. Entretanto, com cerca de três minutos para a hora estabelecida, a direção de prova voltou atrás e cancelou a relargada.

Depois de culpar Gasly pelo incidente, a FIA ainda dobrou a aposta e anunciou que investigaria o caso [para saber se puniria Pierre ou não] depois da corrida. Questionado sobre o que achava sobre o caso, Sainz lamentou. “Não sei por que é que arriscamos, em condições como essas, ter um trator na pista quando você vai dar bandeira vermelha na corrida de qualquer maneira”, opinou.

Outro a se manifestar foi Albon, que revelou um fato importante. Vettel falou sobre a questão dos tratores na pista durante a reunião dos pilotos no começo do fim de semana. Mesmo assim, aconteceu.

Na conta pessoal dele no Instagram, Philippe Bianchi, pai de Jules, rapidamente se manifestou. “Não há respeito pela vida dos pilotos e não há respeito pela memória de Jules”, lamentou.

GP do Japão foi interrompido após três voltas (Foto: Fórmula 1)

Na transmissão da Sky Sports, emissora de TV inglesa que detém os direitos de transmissão da Fórmula 1 no Reino Unido, Jenson Button, que estava na corrida de 2014 e hoje é comentarista, afirmou que a bandeira vermelha foi assinalada dois segundos antes de Gasly passar pelo trator. Assim, seria impossível o piloto tomar qualquer providência que ajudaria a impedir um acidente.

Enquanto isso e ainda sem qualquer sinal sobre o retorno da corrida, uma vez que a chuva continuava forte, a transmissão de TV colocou o relógio com o tempo em contagem regressiva para o fim da corrida, mesmo em bandeira vermelha. O limite de três horas para a corrida a partir de largada teria de ser respeitado e, assim, com corrida ou sem corrida, o evento tinha de terminar até as 17h locais [5h de Brasília].

E mais gente se manifestava sobre a situação do trator. No Twitter, Norris era o próximo. “Perdemos alguém nesta situação anos atrás. Arriscamos nossas vidas, especialmente em condições como essas. Queremos correr, mas isso é inaceitável”, falou.

“É totalmente inaceitável. Perdemos Jules Bianchi aqui há alguns anos. Isso nunca mais deveria acontecer. É preciso haver uma investigação completa sobre o motivo do veículo de recuperação de carros estar na pista. Checo [Pérez] foi quem nos avisou”, afirmou Christian Horner, chefe da Red Bull. Pérez também falou. “Como podemos deixar mais claro que não queremos um trator na pista? Perdemos Jules assim. O que aconteceu hoje foi totalmente inaceitável e espero que seja a última vez que aconteça”, apontou.

Finalmente, a definição dez minutos antes: a corrida seria retomada às 4h15 [de Brasília] e ainda teria 48 minutos pela frente. E, assim, na hora marcada, aconteceu. Os pilotos dariam algumas voltas atrás do safety-car para ver se a situação estava, de fato, melhor antes de largar. “Visibilidade melhorou”, avisou Ocon. Bottas, porém, achava que ainda estava bastante ruim.

A retomada de verdade chegou com 40 minutos no relógio, quando o safety-car enfim entrou nos boxes. Verstappen manteve a dianteira para o que era a sexta volta. Imediatamente, tinha gente querendo trocar os pneus de chuva extrema para os intermediários. Vettel e Latifi entraram e, na saída, a Aston Martin liberou o tetracampeão praticamente em cima de Latifi. Quase se tocaram, mas não rendeu investigação.

Charles Leclerc tentava adiar mais um pouco o título de Verstappen (Foto: Ferrari)

Uma volta depois, os líderes da corrida também pararam nos boxes para trocar pneus. A Red Bull fez Pérez esperar Verstappen, mas entraram ao mesmo tempo, bem como Leclerc. A maioria dos pilotos entraram na volta sete, mas três ficaram na pista. Alonso, Ricciardo e Schumacher eram os novos líderes.

A Haas avisou a Mick que era para ficar na pista e esperar um novo safety-car, contando que alguém erraria, mas Alonso e Ricciardo desistiram uma volta depois. E Verstappen, de pneus intermediários, passou com facilidade por Schumacher para reassumir a liderança. Na realidade, os pneus de chuva extrema estavam muito mais lento que os intermediários, e a Haas era ultrapassada por todo mundo que encostava.

Quem se deu bem com o pit-stop feito no primeiro momento foi Vettel, que aparecia na sexta colocação após passar Schumacher. Latifi, na mesma situação, era o oitavo! Leclerc, por sua vez, fazia a melhor volta da corrida até o momento e evitava, com isso, que Verstappen tivesse em condições de encerrar o Mundial de Fórmula 1.

Schumacher esperou até onde deu, mas a estratégia era arriscada e não se pagou. O pit-stop foi inevitável depois de escapar da pista. A Mercedes sofria um pouco. Russell, ainda fora do top-10, reclamava dos freios, que estavam na mesma do começo do fim de semana em Singapura, quando sofreu na pista molhada; Hamilton questionava se era só ele ou todo mundo estava com desgaste grande dos pneus dianteiros.

Verstappen começava a abrir bastante vantagem para Leclerc e chegava a quase 10s. A razão estava na pergunta que o monegasco fez para a Ferrari. “Quantas posições vamos perder se formos aos boxes?”, questionou e escutou que seriam cinco. Desgaste de pneus que incomodava.

O tempo voltava a fechar no céu de Suzuka com 15 minutos pela frente. Enquanto isso, Russell passava Tsunoda e Norris para assumir o nono lugar. Hamilton também agia, mais na frente, e atacava Ocon. A briga pelo quarto lugar era boa: Hamilton tentava mergulhar várias vezes, mas Ocon se mexia rápido e evitava a manobra final.

Mais uma rodada de pit-stop para alguns pilotos. Zhou já havia parado, e Stroll e Gasly vieram em seguida. Alonso também parou e voltou voando à pista.

Na frente, porém, não havia discussão: Verstappen vencia com 25 segundos de vantagem para Leclerc, que teve de se defender dos ataques insistentes de Pérez nos últimos seis minutos da prova. Assim, os três primeiros colocados do campeonato chegaram ao final da corrida exatamente nesta ordem.

Só que tinha prorrogação. Na volta final, Leclerc teve de sair da pista para evitar de ser passado por Checo. A direção de prova, logo após a bandeirada, definiu que, então, Pérez ganhava a posição e terminava em segundo.

Foi desta maneira que Verstappen não era campeão quando recebeu a bandeirada, mas passou a ser instantes depois, avisado durante as entrevistas pré-pódio. O holandês é bicampeão mundial.

F1 2022, GP do Japão, Suzuka, Resultado Final:

1M VERSTAPPENRed Bull RBPT28 voltas 
2S PÉREZRed Bull RBPT+27.066 
3C LECLERCFerrari+31.763 
4E OCONAlpine+39.685 
5L HAMILTONMercedes+40.326 
6S VETTELAston Martin Mercedes+46.358 
7F ALONSOAlpine+46.369 
8G RUSSELLMercedes+47.661 
9N LATIFIWilliams Mercedes+1:10.143 
10L NORRISMcLaren Mercedes+1:10.782 
11D RICCIARDOMcLaren Mercedes+1:12.877 
12L STROLLAston Martin Mercedes+1:13.904 
13Y TSUNODAAlphaTauri RBPT+1:15.599 
14K MAGNUSSENHaas Ferrari+1:26.016 
15V BOTTASAlfa Romeo Ferrari+1:26.496 
16G ZHOUAlfa Romeo Ferrari+1:27.043 
17M SCHUMACHERHaas Ferrari+1:32.523  
18P GASLYAlphaTauri RBPT+1:48.091  
19A ALBONWilliams Mercedes NC
20C SAINZFerrari NC
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