Excelência talvez seja a palavra que melhor defina essa Mercedes 2019. A afinada equipe chefiada por Toto Wolff atravessa nesta temporada uma das fases mais espetaculares desde que iniciou sua hegemonia na
Fórmula 1, lá em 2014, com a introdução dos motores híbridos. Quando parecia que não havia como estender mais esse domínio, a esquadra foi além. Reinventou-se, trabalhou mais e mais rápido e seguiu esbanjando competência. Por isso, não é nenhum espanto ver os prateados com tamanha folga na liderança do Mundial e já com os títulos tanto de Pilotos quanto de Construtores devidamente encaminhados.
Largada do GP da Austrália de 2019 (Foto: F1)
A confiabilidade e a força do motor ainda estavam lá, mas agora o carro se tornava também muito bom em curvas de média e baixa velocidade, trabalhando melhor o downforce, algo novo para a esquadra. Todo o pacote aerodinâmico também ajudou a facilitar o entendimento e o comportamento dos diferentes pneus da Pirelli. Some-se aí o fato de ter ainda o melhor piloto do mundo. E um segundo homem preocupado em manter o emprego.
Por isso, quando a Fórmula 1 desembarcou em Melbourne, na Austrália,
não foi uma surpresa observar o quão rápidos foram os carros prateados. Sem enfrentar qualquer drama ou rivais, a Mercedes venceu a primeira etapa, com uma curiosa dobradinha Valtteri Bottas-Lewis Hamilton. O finlandês largou melhor e tratou de disparar na frente, não dando chance ao inglês. Naquele momento, ficou também a esperança de que o nórdico poderia endurecer a briga com o companheiro de equipe. Pena que não se confirmou. Aliás, a primeira corrida do ano, ainda que tenha sido realizada em uma pista muito particular, apresentou alguns aspectos do campeonato que se revelariam verdade mais para frente, como os problemas ferraristas e a ascensão da Red Bull – Max Verstappen, inclusive, foi ao pódio naquela corrida. Além é, claro, do poder de fogo da Mercedes.
Duas semanas depois,
o calendário levou a competição para o Bahrein. Lá, a Ferrari reagiu e deixou a impressão de o campeonato recomeçaria. Mas a equipe vermelha virou refém da pouca confiabilidade da SF90 e viu o então dominante Charles Leclerc ser dolorosamente superado por Hamilton e Bottas. Sebastian Vettel, para completar, cometeu um erro daqueles e apenas acompanhou a festa dos adversários. Foi um belo golpe nos italianos, enquanto a equipe alemã celebrava um novo 1-2.
GP de Mônaco foi a primeira corrida que não viu uma dobradinha do time (Foto: Beto Issa)
De fato, a Mercedes nadava de braçada, com um motor confiável e um carro se comportava como um reloginho, ditando o ritmo em trechos de baixa velocidade. Neste tempo, a Ferrari mergulhava em uma série de problemas técnicos, inclusive, pneus, mas principalmente de gerenciamento. E era alvo de críticas severas da imprensa, especialmente na Itália. A Red Bull, por outro lado, trabalhava quieta, tendo em Verstappen sua constante.
A partir de Mônaco,
as dobradinhas se tornaram mais difíceis, mas Hamilton emendou uma sequência de vitórias impressionante: além de Monte Carlo,
ganhou em Montreal, apesar da polêmica punição dada a Vettel, e
em Paul Ricard. Bottas apareceu em segundo somente na França. Desse trio de etapas, só a corrida no Gilles Villeneuve foi mais complicada: foi a primeira vez, depois de um longo período, leia-se Bahrein, que a Ferrari surgiu competitiva. O tetracampeão até largou da pole e liderou até o fim, mas um erro e uma saída de pista colocaram tudo a perder. Seb foi punido e Lewis herdou o triunfo.
Max Verstappen foi quem quebrou a sequência de vitórias da Mercedes. O rápido holandês venceu o GP da Áustria, prova que a equipe alemã enfrentou problemas de superaquecimento (Foto: Getty Images/Red Bull Content Pool)
Ainda que Hamilton tenha oferecido atuações de gala em corrida e classificação, a F1 chegou aborrecida a Áustria, diante da sonolenta corrida francesa. A Mercedes também dominava e ninguém dava sinais de reação. Então tudo mudou: a Ferrari abusou da sua boa velocidade de reta e do caldeirão quente de Spielberg, enquanto a Red Bull se apresentava muito mais forte, impulsionada por uma atualização certeira da asa dianteira. A esquadra de Wolff, de outro lado, enfrentava o primeiro grande entrave do ano: as altas temperaturas.
A altitude de quase 700 m acima do nível do mar e o calor excessivo comprometeram demais o trabalho do motor alemão. Com isso, enquanto o público vibrava com o pega entre Verstappen e Leclerc, Hamilton e Bottas minimizam o prejuízo. Apenas o finlandês foi ao pódio. A etapa austríaca, então, revelou o ponto mais fraco desse conjunto que parecia absoluto: sim, a Mercedes tinha seu calcanhar de Aquiles. Mas como é de costume também, a equipe reagiu rápido ao revés, trabalhou em atualizações e foi a Inglaterra decidida a retomar a sequência vitoriosa. E conseguiu. Hamilton fez uma corrida brilhante, adotando uma estratégia ousada para neutralizar o companheiro de equipe, que havia lhe roubado a pole no dia anterior.
A Alemanha veio logo em seguida. Hamilton não deu chances e saiu da pole em um domingo chuvoso em Hockenheim. Mas o caos se instaurou na pista e, pela primeira vez em muito tempo, a Fórmula 1 viu a Mercedes se atrapalhar toda, errar na escolha de pneus e por tudo a perder. O corre-corre no pit-lane foi uma comédia. Mais que isso, a corrida alemã ainda testemunhou um raríssimo erro de Hamilton, ainda mais com chuva. Foi um desastre completa e quase inacreditável.
Bottas abandonou depois de bater, enquanto Lewis chegou apenas em nono. A bagunçada corrida humanizou a 'perfeitinha' Mercedes e mostrou que, às vezes, também se equivocam feio. Para completar, a equipe celebrava os 125 anos de esporte a motor, além da 200ª largada na F1. Apesar do carisma dos trajes de época, o time não conseguiu evitar o vexame.
Deu tudo errado para a Mercedes na Alemanha (Foto: AFP)
Melhor para a Red Bull, que venceu com um espetacular Verstappen.
Na sequência, a F1 viajou para Budapeste. Era a última corrida antes da pausa das férias. Com o orgulho ferido, a Mercedes chegou a Hungaroring com a meta de encerrar a primeira parte do ano da maneira como começou. Ou seja, vencendo. Mas não foi tão fácil assim, ainda que o traçado húngaro caíra como uma luva ao W10. Acontece que um tal de Verstappen, de novo, se pôs no caminho. E não era por acaso.
O jovem piloto da Red Bull cravou a pole-position e endureceu a disputa com Hamilton. Bottas, que largara em segundo, se colocou fora da briga logo na primeira volta, depois de um confronto com o colega de equipe e de ser atingido na sequência por Leclerc. Na verdade, a corrida foi interessantíssima, porque rapidamente ficou claro que a dupla de líderes, Max e Lewis, estava mesmo em outro campeonato. A Ferrari, enquanto isso, se batia para encontrar downforce e terminou a prova de forma dramática, 1min atrás do vencedor.
A Red Bull, de outra maneira, crescera enormemente nas últimas etapas, e Max vinha perfeito. O holandês controlou bem o ritmo, segurou Hamilton por duas vezes, quando o inglês se aproximou e tinha um carro mais veloz. A performance do #33 foi tão espantosa que fez a Mercedes arriscar, algo que ela não gosta de fazer, diga-se.
Só que a equipe precisou se lançar em uma tática alternativa para colocar Lewis em uma posição ainda mais forte para brigar com Verstappen. Deu certo, é claro, porque o #44 também imprimiu um ritmo alucinante na parte final para vencer. Foi um espetáculo e acabou ainda salvando a temporada, que parecia caminhar sem concorrência para as mãos dos alemães.
Lewis Hamilton termina a primeira fase do ano vencendo e rumo ao hexa (Foto: AFP)
Embora até se permita errar e mesmo tendo agora uma rival mais próxima, a Mercedes continua sendo um osso duro de roer. E deve se manter assim também na segunda metade do campeonato. A questão é que o punho forte de Toto Wolff na chefia, o grupo técnico soberbo e um Hamilton genial tornam a esquadra quase imbatível. E mesmo sentindo falta de Lauda nas garagens, o time sabe bem onde quer chegar. Neste momento, o único elo fraco parece ser mesmo Bottas. Mas esse é um assunto para mais adiante.
A Fórmula 1 retorna daqui quatro semanas, em Spa-Francorchamps, para o GP da Bélgica. O GRANDE PRÊMIO acompanha tudo AO VIVO E EM TEMPO REAL.
BRIEFING | GP da Hungria de F1
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