Na Garagem: Com batida proposital em Piquet, Jones dá à Williams primeiro título

O australiano Alan Jones jogou o carro para cima de Nelson Piquet na largada do GP do Canadá de 1980 e, ainda contando com a sorte nos azares dos rivais, levou o título, o primeiro da Williams na F1

Quando a F1 chegou ao Canadá, para a disputa da penúltima etapa da temporada de 1980, no dia 28 de setembro, a tabela apontava Nelson Piquet, da Brabham, com 54 pontos e Alan Jones, da Williams, com 53. Piquet vinha embalado por duas vitórias seguidas nos GPs da Holanda e da Itália.
 
Apesar dos dois terem vencido seis das 12 etapas, o campeonato não foi uma disputa somente entre Jones e Piquet. Até a metade da temporada, Didier Pironi, da Ligier, e René Arnoux, da Renault, vinham disputando ponto a ponto com os dois, numa bela contenda entre pilotos de quatro equipes diferentes, fazendo do Mundial de 1980 um dos melhores da história. Piquet era o menos experiente dos concorrentes — no início do ano não era nem cotado ao título.
 
No entanto, o brasileiro, apesar de estar apenas em sua segunda temporada completa na F1, tinha uma condução segura e enfrentava a Williams — melhor carro do grid —  com a característica que seria marca da sua carreira: a regularidade. Exceção feita aos abandonos no Brasil e na Bélgica, Piquet pontuou em todas as etapas até o Canadá.
Nelson Piquet era o líder do campeonato (Foto: StatsF1)
Toda vez que se fala em acidentes em decisões de título mundial, a primeira lembrança se faz dos entreveros entre Ayrton Senna e Alain Prost em 1989 e 1990. Também teve as duas vezes em que Michael Schumacher jogou o carro em cima de Damon Hill e Jacques Villeneuve em 1994 e 1997, respectivamente. Mas poucos lembram que o primeiro episódio do gênero aconteceu entre Alan Jones e Nelson Piquet.
 
Pelo regulamento, somente Jones poderia ser campeão por antecipação já em Montreal: os pilotos contavam os cinco melhores resultados das sete corridas de cada metade da temporada. Piquet já havia pontuado cinco vezes desde o GP da Inglaterra e caso vencesse no Canadá, jogaria fora os dois pontos obtidos na etapa da Áustria.
 
Jones, por sua vez, precisava vencer na ilha de Notre-Dame e torcer para que Piquet terminasse do quinto posto para baixo. Isso era pouco provável, porque o brasileiro vivia sua melhor fase no campeonato. Nos treinos, Piquet marcou a pole com facilidade e foi o único a andar na casa de 1min27s. Jones ficou com o tempo de 1min28s164, oito décimos atrás do rival. O australiano estava enlouquecido após o treino: via o título escorrer pelos dedos após ter 11 pontos de vantagem na Áustria, apenas dois GPs antes do Canadá.
 
Havia muita expectativa para a largada: muitos pensavam que se Piquet largasse melhor, o australiano não conseguiria mais alcançá-lo. Os dois largam lado a lado, e Jones jogou o carro para cima de Piquet. Espremido entre Jones e o muro, Piquet não conseguiu evitar a batida. O toque entre ambos causou uma enorme confusão no resto do grid e outros sete pilotos foram envolvidos no acidente: Emerson Fittipaldi e Keke Rosberg (Coopersucar), Mario Andretti (Lotus), Jean-Pierre Jarier e Derek Daly (Tyrrell), Jochen Mass (Arrows) e Gilles Villeneuve (Ferrari).
 
Com o incidente, a bandeira vermelha foi acionada, e Piquet, Fittipaldi, Villeneuve, Andretti, Mass e Jarrier largariam com seus carros reservas. Para Piquet, não seria bom negócio: o motor Cosworth do carro reserva estava ajustado para treino e não para aguentar os 308 km de corrida. Na segunda largada, Jones partiu bem e Pironi ultrapassou Piquet.
 
Mas o brasileiro iniciou uma recuperação e passou Pironi na segunda passagem e Jones na volta 3. Tudo indicava uma vitória de Piquet, mas o motor da Brabham explodiu na 23ª volta. Caso Jones vencesse, seria campeão. Pironi ultrapassou o australiano na volta 43, mas o francês da Ligier foi punido com o acréscimo de um minuto no tempo de prova por ter queimado a largada.
Alan Jones garantiu o título de 1980 com a vitória no Canadá (Foto: Williams)
Desse modo, Jones herdou a posição e venceu o GP do Canadá, se sagrando campeão mundial. Ele é o único, além de Brabham, a ganhar o Mundial pela Austrália. Desde então, a terra dos cangurus só viu uma chance real de conquista e foi com Mark Webber em 2010. O título de Jones foi o primeiro da equipe de Frank Williams, cuja história na F1 havia iniciado no GP da Espanha de 1977.
 
Após a corrida, um clima estranho pairava no paddock em Montreal. O acidente foi fundamental para a resolução do campeonato, mas como a direção de prova iria proceder? Não havia precedente para punir Jones. E quem acabou por dissolver a polêmica foi Piquet: “Não tenho do que reclamar. Venci três corridas, terminei vice-campeão e serei um forte candidato ano que vem”. A fala de Piquet foi profética. O brasileiro teve sua revanche contra a dupla da Williams em 1981.
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