Na Garagem: Copersucar estreia na F1 em GP da Argentina. De McLaren, Fittipaldi vence

Há exatos 50 anos, em 12 de janeiro de 1975, Copersucar fez a estreia como primeira equipe brasileira e sul-americana da Fórmula 1. E Emerson Fittipaldi, ainda pela McLaren, venceu em Buenos Aires

Uma das páginas mais importantes do Brasil na Fórmula 1 completa meio século. Foi num 12 de janeiro como hoje, mas em 1975, que a Copersucar-Fittipaldi se tornou a primeira – e até hoje, única – equipe brasileira no grid da categoria. Aquele GP da Argentina, em Buenos Aires, foi a realização de um sonho encabeçado por Wilsinho Fittipaldi e Ricardo Divila. Hoje, completa exatos 50 anos.

▶️ Inscreva-se nos dois canais do GRANDE PRÊMIO no YouTube: GP | GP2

Aquela prova na Argentina era a abertura do novo campeonato e começo de uma página em branco, como são todas as temporadas, na F1. Para a Copersucar, contudo, era um ponto e vírgula, uma vez que o ano de 1974 fora passado inteiro no planejamento, concepção e montagem. O sonho fora sonhado muito antes, desde os tempos de Fórmula Vê do Brasil, ainda nos anos 1960, em que Wilsinho apostou na veia de construtor, junto de Emerson. Mas a ideia da F1 passou a ser posta em prática mesmo em 1974.

Wilsinho, que esteve no grid pela Brabham em 1972 e 1973, como piloto pagante, resolveu que usaria o dinheiro de outra maneira. Para começo de conversa, trouxe a bordo do projeto o engenheiro Ricardo Divila, que já fazia carreira no automobilismo europeu, e juntos ambos começaram a estruturação. Em breve, trariam Jo Ramírez, mexicano que posteriormente marcaria o nome na McLaren nos tempos de Ayrton Senna, para ser chefe de equipe; Yoshiatsu Itoh, que trabalhara com Emerson Fittipaldi na Lotus, foi o escolhido para ser mecânico-chefe. O primeiro funcionário da equipe era um velho amigo e homem de confiança dos Fittipaldi: Darci de Medeiros, mecânico que trabalhava junto a Wilsinho e Emerson há uma década.

O projeto da Copersucar (Foto: Reprodução/Pinterest)

Divila, que assumia o posto de projetista na acepção da palavra, partia usando como referência o Tyrrell 006, carro com que Jackie Stewart fora campeão em 1973 e desenvolveu o FD001, com conceitos diferentes e que seriam adotados na F1 mais tarde, como a asa dianteira bem distante do resto do carro e elevada, assim como o posicionamento das saídas de escapamento e ação aerodinâmica da tampa do motor, que também acabava por posicionar o piloto mais abaixo que o comum.

Apesar da ideia da equipe ser o mais brasileira possível, nem tudo podia ser feito aqui, o que obrigava importações e aumentava custos. Mesmo com a ajuda estratégica da Embraer no projeto, falta uma grande patrocinador, que se tornou a Cooperativa dos Produtores de Cana de Açúcar do Estado de São Paulo, ou só Copersucar.

Tudo isso permitiu que o carro, construído em oficina na frente do autódromo de Interlagos, chegasse à F1 em 1975.

GP da Argentina de 1975, estreia da Copersucar

Publicidade da Copersucar em jornal da época (Foto: Reprodução)

Com Wilsinho no volante do carro #30, o único da equipe, a classificação mostrou a realidade dura de uma nova equipe. Foi o último dos 23 pilotos, bem distante do penúltimo. Jean-Pierre Jarier, então pela Shadow, fora o pole com direito a recorde do circuito, seguido pelo brasileiro José Carlos Pace e o piloto da casa, Carlos Reutemann, ambos da Brabham, e Niki Lauda , da Ferrari. Já Emerson Fittipaldi, bicampeão mundial e campeão vigente, ainda defendia a McLaren e era o quinto.

O pesado top-10 do grid era completado com James Hunt (Hesketh), Clay Regazzoni (Ferrari), Patrick Depailler (Tyrrell), Jody Sheckter (Tyrrell) e Mario Andretti (Parnelli).

A largada até mostrou a possibilidade de alguma fumaça por parte da Copersucar. Wilsinho, o ‘Tigrão’, chegou até a ganhar posição. Durou pouco, porém. Durante a 13ª volta, a quebra de uma manga de eixo fez o carro se descontrolar na reta oposta e rodar até acertar a barreira, o que iniciou um incêndio no carro e causou correria para a chegada dos extintores. Nada mais grave com Wilsinho, mas o carro sofreu bastante. O objetivo era reconstruir para o GP do Brasil, que seria realizado duas semanas depois.

Sem a Copersucar, a corrida continuou. Jarier, apesar da pole, teve problemas ainda na volta de apresentação e nem largou. As duas Brabham tomaram o controla da situação, com Reutemann partindo melhor que Pace e tomando a frente, enquanto Hunt fez valer o novo carro da Hesketh e largou bem para passar Emerson e começar uma briga com Lauda que durou algumas voltas. O inglês terminou por levar a melhor e assumir o terceiro posto, ainda com aparência de tinha força para alcançar os dois primeiros.

Emerson Fittipaldi durante a corrida na Argentina, ainda pela McLaren (Foto: Reprodução/McLaren)

‘Moco’ conseguiu retomar a liderança do companheiro ainda na pista, mas logo em seguida rodou e perdeu espaço. Detalhe é que Pace rodou justamente no mesmo ponto que Wilsinho, provavelmente ao escorregar no líquido usado para apagar o incêndio. Mais tarde, teve de abandonar por problemas no motor. Reutemann liderou por mais algum tempo até que Hunt chegou, valendo-se do fato de que o argentino tinha dificuldades para controlar a dianteira do carro. James passou ainda antes da marca de metade da corrida.

Quem cresceu na prova posteriormente foi Fittipaldi, que foi se aproximando mais e mais da briga até encostar de vez em Hunt. Antes, o campeão fazia corrida discreta. Chegara a ser pressionado por Ronnie Peterson, Regazzoni e Depailler, mas sustentou sem grandes problemas. Um lance específico mudou a corrida para ele: os mecânicos da McLaren levantaram uma placa no pit-wall que dizia apenas ‘Fitti OK’. Foi o fim da preocupação de Emerson com a situação do irmão Wilsinho após o incêndio.

Fittipaldi aumentou o ritmo, passou Reutemman pouco depois de Hunt e passou a caçar o inglês. Quando chegaram ao retardatário e companheiro de Emerson na McLaren, Jochen Mass, Hunt evitou as dificuldades óbvias que o alemão apresentava ao tentar auxiliar o parceiro. Na volta 34 das 53, tanto Hunt quanto Fittipaldi cravaram a melhor volta da corrida. A briga pela liderança era eletrizante.

Mas logo na volta 35, Hunt rodou no contorno da chicana e, ainda que tenha se recuperado rapidamente, deu passagem para Emerson e não teve como retomar. Fittipaldi venceu e Hunt ficou somente 6s atrás. Reutemman completou o pódio, ao passo que Regazzoni, Depailler e Lauda pontuaram.

O pódio do GP da Argentina de 1975 liderado por Emerson Fittipaldi e com James Hunt e Carlos Reutemann (Foto: Reprodução/McLaren)

A Copersucar, assim como outras sete equipes, não marcaria pontos naquela temporada, algo reservado apenas aos seis primeiros colocados. Conseguiu um top-10 na última corrida do ano, com o décimo lugar no GP dos Estados Unidos, em Watkins Glen. Na pontuação atual, valeria um tento. Enquanto isso, Niki Lauda conquistou o primeiro de seus três títulos, enquanto a Ferrari ficou com o título Mundial de Construtores. Emerson terminou vice-campeão.

A grande surpresa que abalou o mundo da F1 veio após o fim do campeonato, quando Emerson, aos 29 anos de idade e um dos pilotos mais fortes do grid, pegou a McLaren no contrapé e decidiu sair para ir rumo ao time brasileiro, que idealizou com o irmão por tanto tempo. E deu lugar justamente a Hunt, rival daquele dia na Argentina, que seria campeão logo na primeira chance. Em 1976, a Copersucar teve Emerson e um segundo carro durante parte da temporada, guiado pelo jovem Ingo Hoffmann. Wilsinho passou a se concentrar no comando e administração da equipe.

Presença no grid até o fim da temporada 1982, a Copersucar foi parte importante da F1 nos anos 1970 e 1980 e teve grandes momentos competitivos, como, por exemplo, o pódio de Emerson no GP do Brasil de 1978, quando terminou no segundo lugar – a equipe terminaria o ano no sétimo lugar do Mundial de Construtores. Foram mais dois pódios em 1980, um com Emerson e outro com o jovem Keke Rosberg, que de lá sairia para ser campeão pela Williams em 1982. Naquele ano, 1980, a equipe brasileira terminou o Mundial de Construtores na frente inclusive de Ferrari e McLaren.

A rica história da Copersucar-Fittipaldi iniciou num domingo como esse, em Buenos Aires, mas em 1975.

FÓRMULA E 2024/2025 COM IMAGENS | eP DA CIDADE DO MÉXICO | 2ª etapa | Corrida
Chamada Chefão GP Chamada Chefão GP 🏁 O GRANDE PRÊMIO agora está no Comunidades WhatsApp. Clique aqui para participar e receber as notícias da Fórmula 1 direto no seu celular! Acesse as versões em espanhol e português-PT do GRANDE PRÊMIO, além dos parceiros Nosso Palestra e Teleguiado.