Na Garagem: GP insano em Nürburgring vê primeira e única vitória da Stewart na F1

No dia 26 de setembro de 1999, a F1 viveu um GP insano em Nürburgring. A chuva embaralhou as coisas, e a vitória acabou nas mãos de Johnny Herbert, com a Stewart. Rubens Barrichello foi ao pódio, junto com Jarno Trulli

O campeonato de 1999 foi um dos mais movimentados da história na F1. Apesar de o título ter ficado com o melhor carro daquele ano, a McLaren de Mika Häkkinen, o Mundial viu Michael Schumacher liderar até quebrar a perna na Inglaterra, Eddie Irvine comandar a tabela até a Malásia e Heinz-Harald Frentzen, da modesta Jordan, ter chances reais de título após a vitória em Monza. 
 
Mas nenhuma corrida poderia sintetizar melhor a sandice de toda a temporada do que o GP da Europa, disputado no circuito de Nürburgring em 26 de setembro de 1999. Com três provas para o fim do campeonato — Europa, Malásia e Japão —, a tabela apontava Häkkinen e Irvine, da Ferrari, empatados em 60 pontos, Frentzen com 50 e David Coulthard, também da McLaren, com 48 pontos.
 
Outra vitória de Frentzen ou um triunfo de Coulthard no GP da Europa causaria ainda mais confusão em um campeonato em que os líderes, Irvine e Häkkinen, não conseguiam se firmar e manter uma liderança constante. Sem Schumacher, ainda fraturado, a Ferrari depositava suas esperanças de sair do jejum de 20 anos sem caneco no improvável Irvine. Já a McLaren, esperava que o título do finlandês no ano anterior não fosse apenas um espasmo – a equipe dominou a F1 entre 1984 e 1991.
Eddie Irvine dividia a liderança do Mundial com Mika Häkkinen (Foto: Ferrari)
Johnny Herbert, da Stewart, ficou em 14º lugar, uma posição acima do seu parceiro Rubens Barrichello. O inglês fazia uma temporada para lá de discreta, com apenas dois pontos, fruto de um quinto lugar na Espanha. Já o brasileiro, por sua vez, fazia sua melhor temporada na F1, somando 15 pontos, com cinco corridas na zona de pontuação e dois pódios. Na luta interna, em 13 etapas antes do GP da Europa, Barrichello largou na frente em todas. Além disso, havia obtido os três pódios da história da escuderia de Jack Stewart.
 
Na largada, Frentzen manteve a ponta, seguido pelas duas McLaren. Mas, no meio do pelotão, um acidente de impacto visual forte causou um safety-car: Damon Hill, da Jordan, freou demais na segunda curva e obrigou o austríaco Alexander Wurz, da Benetton a desviar. O austríaco jogou a Sauber de Pedro Paulo Diniz na caixa de brita e o brasileiro capotou. Diniz saiu do carro ileso, mas o santantônio ficou destruído. Não fosse o equipamento de segurança, Diniz teria se ferido gravemente.
 
Sete voltas depois, o carro de segurança voltou aos boxes e, após a relargada, Irvine já era o quinto, escalando o pelotão. Na volta 19, o clima aprontou das suas: uma chuva fina levou muitos pilotos a colocarem pneus de pista molhada. Mas o piso não estava tão úmido e quem fez essa troca perdeu muito rendimento, casos de Häkkinen e Irvine. Na volta 21, muita gente  foi buscar os pneus para pista seca. A Ferrari se atrapalhou na troca e só havia três pneus disponíveis. Até a chegada do quarto pneu, o irlandês perdeu mais de 30s parado no pit-lane.
 
Apesar da confusão da maioria com a estratégia, Frentzen se manteve inabalável na ponta. Mas na 32ª passagem, uma pane elétrica deu fim ao sonho de título da Jordan. Coulthard assumiu a ponta, mas por pouco tempo: uma rodada do escocês na volta 37 colocou Ralf Schumacher na liderança. No entanto, na volta 50, o pneu traseiro direito da Williams estourou, e o alemão arrastou o carro até os boxes – ele ainda terminou a prova em quarto lugar. 
 
Herbert vinha fazendo uma grande corrida de recuperação, assim como o parceiro de Stewart. O inglês era sexto e o brasileiro,  quinto, na metade da prova. Mas as quebras de Frentzen e Giancarlo Fisichella e os problemas de Ralf e Coulthard colocaram a dupla da Stewart com chances reais de conquistar a primeira vitória da escuderia – com eles, ainda vinha Jarno Trulli, que largara de um modesto décimo lugar.
 
Com a pista novamente molhada por uma pancada de chuva, o trio conseguiu se distanciar dos demais por terem mudado para pneus de chuva. A corrida tinha tal grau de insanidade que o quarto lugar era ocupado pela Minardi de Luca Badoer – o italiano havia saído do 19º posto. A zebra estava fazendo barba, cabelo e bigode em Nürburgring. Faltavam apenas 13 voltas e a dupla de postulantes ao título – Häkkinen e Irvine – estava no nono e no oitavo lugares, respectivamente.
 
Na volta 54, a caixa de marchas da Minardi falhou e a chance de obter o melhor resultado dos 15 anos de história virou pó. As câmeras registram uma cena comovente na reta principal: Badoer deixou o carro, se ajoelhou sobre o radiador e chorou. Como consolo, a equipe de Faenza viu o carro de Marc Gené terminar em sexto e obter o primeiro ponto da Minardi em quatro anos. Häkkinen pressionou Irvine e Gené e acabou em quinto, somando dois pontos fundamentais na luta pelo titulo. Sétimo, Irvine não pontuou.
 
Restava saber qual das Stewart ganharia a primeira prova pela equipe. Herbert se saiu melhor na estratégia de paradas nos boxes. Com duas paradas, ele pôde colocar pneus para pista molhada quando a chuva apertou. Barrichello parou somente uma vez, na volta 37, e botou pneus de pista seca. Assim como aconteceu nas duas outras conquistas do inglês (Inglaterra-1995 e Itália-1995), a vitória caiu no colo – nessas ocasiões Damon Hill e Michael Schumacher bateram e o inglês herdou a ponta.
 
Para Barrichello, restou o consolo de obter o terceiro pódio do ano – ele terminou a temporada com 21 pontos, em sétimo lugar no campeonato. A Stewart terminou num honroso quarto lugar no Mundial de Construtores, e Jackie Stewart igualou o australiano Jack Brabham ao vencer como piloto e chefe de equipe. No pódio, Jackie chorou e disse a Barrichello: “Queria muito que você tivesse vencido a primeira do nosso time”.
Herbert venceu a prova no circuito alemão (Foto: Ford Motor Company)
Além da terceira e última vitória de Johnny Herbert na F1, a corrida marcou ainda o último pódio do inglês. Por outro lado, foi o primeiro pódio de Jarno Trulli. Essa prova é também marcante pela última pole da Jordan e por ser o último pódio da Prost, assim como da própria Stewart. No ano seguinte a equipe correu como Jaguar, após ser vendida à Ford e foi rebatizada como Red Bull em 2005.
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