Na Garagem: Surtees supera Hill e Clark em fim dramático e conquista título histórico na F1

Em 1964, John Surtees fez o que era extremamente improvável no GP do México e carimbou o nome nos livros de história do esporte a motor. Após 60 anos, o britânico continua sendo o único piloto campeão mundial de Fórmula 1 e de MotoGP

Em uma história que poderia muito bem virar roteiro de filme de sucesso nas bilheterias, John Surtees carimbou de vez seu nome entre os grandes do esporte a motor há exatos 60 anos, quando se sagrou campeão mundial de Fórmula 1 em 1964. Vestindo o vermelho icônico da Ferrari, o britânico foi capaz de desbancar Graham Hill e Jim Clark em uma temporada marcada pelo extremo equilíbrio entre os competidores e definida na última etapa do ano, no GP do México — que contou com todos os ingredientes necessários para deixar a disputa do campeonato ainda mais emocionante.

Mas o título de Surtees ganhou contornos especiais por causa dos capítulos anteriores da carreira. Antes de embarcar no automobilismo, o piloto já havia mostrado todo o talento ao vencer por quatro vezes o Mundial de Motovelocidade — feito alcançado nos anos de 1956, 1958, 1959 e 1960. Desta forma, ao ficar com o prêmio máximo da classe rainha quatro anos depois, deixou um enorme legado ao se tornar o único campeão de F1 e MotoGP até os dias de hoje.

Depois de estrear nas quatro rodas em 1960 pela Lotus, quando tinha apenas 26 anos de idade, John evoluiu enormemente nas temporadas seguintes e chamou a atenção de ninguém menos que Enzo Ferrari, em 1963. No ano seguinte, o britânico foi um dos escolhidos para guiar o icônico modelo 158 da equipe de Maranello ao lado do italiano Lorenzo Bandini, que teve um papel fundamental no resultado final do campeonato.

Marcado pelo equilíbrio, o certame de 1964 foi composto por dez etapas e visitou locais históricos, como Mônaco, Zandvoort, Spa-Francorchamps, Nürburgring, Monza e Watkins Glen, por exemplo. Além de Surtees, que venceu duas corridas, Clark (3), Hill (2), Dan Gurney (2) e Bandini (1) também subiram no degrau mais alto do pódio. Naquela época, apesar do calendário pequeno, apenas seis provas eram contabilizadas para determinar o campeão, descartando-se os quatro piores resultados de cada piloto.

John Surtees foi a aposta da Ferrari para a temporada 1964 (Foto: Reprodução/F1)

A primeira vitória de Surtees só aconteceu no GP da Alemanha, sexta rodada do ano. A má fase vivida pela Ferrari durante a primeira metade de campeonato pode ser explicada pelo fraco desempenho do motor utilizado pela equipe italiana, um V6, que só depois foi substituído por um de oito cilindros e 210 cv de potência — muito superior aos 190 cv do equipamento anterior. Mas o prejuízo já não podia ser mais evitado: Clark, um dos principais rivais na briga pelo título, vencera nos Países Baixos, Bélgica e Inglaterra, abrindo vantagem na liderança.

Após não conseguir concluir a corrida na Áustria, John voltou a cruzar a linha de chegada em primeiro lugar no GP da Itália, oitavo round do certame. Na penúltima rodada, nos Estados Unidos, Hill não deu chance aos adversários e triunfou pela segunda vez na temporada, indo para a etapa final, no México, como o grande favorito na busca pelo bicampeonato. A segunda posição em Watkins Glen manteve viva a esperança do piloto da Ferrari.

O time de Maranello desembarcou no Autódromo Hermanos Rodríguez com uma pintura diferente. Como uma forma de protesto, já que Enzo Ferrari estava em conflito com a federação italiana, a escuderia abriu mão do tradicional vermelho e adotou o azul e branco, cores da North America Racing Team, equipe que pertencia a Luigi Chinetti, grande amigo do empresário.

Cinco pontos atrás de Hill no campeonato (34 contra 39), o fim de semana de Surtees não começou da melhor maneira. Durante a classificação, o ferrarista sofreu com um problema no motor e ficou apenas com o quarto lugar no grid de largada. Na espera de um milagre, já que precisava vencer e torcer para Graham não pontuar, Clark foi o mais rápido e conquistou a pole-position após cravar 1min57s24 a bordo da Lotus-Climax.

A Ferrari utilizou uma pintura azul e branca no GP do México (Foto: Reprodução/TopGear)

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Enquanto Jim foi capaz de defender a primeira posição durante as primeiras voltas, Hill caiu para sétimo — largou em sexto — e Surtees despencou para a 13ª colocação. Mas levou apenas cinco voltas para John começar a recuperar terreno e subir para o sétimo lugar. Enquanto isso, Graham, por sua vez, sonhava com o top-3 para garantir o título, mas um incidente com Bandini na volta 31 o jogou para o fundo do pelotão. O piloto da BRM passou a torcer para que o azar batesse na porta dos concorrentes, também.

A sorte, no entanto, realmente parecia estar sorrindo para Surtees. Quando restavam três voltas para o fim, Clark começou a perder rendimento por causa de um vazamento de óleo e caiu para a quinta posição. Gurney, da Brabham, acabou assumindo a ponta, sendo acompanhado pela dupla da Ferrari, Bandini e John, respectivamente — resultado que entregava o título nas mãos de Hill. O segundo lugar, porém, era tudo que Surtees precisava para entrar para a história.

Na volta final, os mecânicos da escuderia de Maranello acenaram desesperadamente para que Lorenzo deixasse o companheiro de equipe ultrapassá-lo. E foi exatamente isso que aconteceu. Ao cruzar a linha de chegada com aproximadamente 1min08s atrás do líder, o britânico chegou a 40 pontos e superou Graham por apenas 1 tento, conquistando pela primeira e única vez o Mundial de Pilotos de Fórmula 1.

“A Ferrari 158 sofreu um pouco por estar atrasada e por não ter tanta dedicação ao pacote quanto gostaríamos. Contei com a sorte de Jim sofrer com esse problema [no motor]”, disse Surtees em 2009.

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