Na Garagem: Hamilton vence 1ª guerra com Rosberg e é bicampeão da F1 em Abu Dhabi
Em temporada que marcou o início da era híbrida na Fórmula 1, Lewis Hamilton viu surgir também a rivalidade bélica com o ex-amigo Nico Rosberg, mas venceu a batalha interna e levou a Mercedes ao título da categoria pela primeira vez desde Juan Manuel Fangio em 1955
A temporada 2024 da Fórmula 1 vai ficar marcada para sempre nas histórias de Lewis Hamilton e Mercedes como o ano em que a duradoura e vencedora parceria entre as partes se encerrou. De malas prontas para defender a Ferrari após alcançar o topo do esporte seis vezes com o macacão alemão, porém, o heptacampeão vive neste dia 23 de novembro a celebração de uma das datas mais importantes de sua carreira: o primeiro título mundial conquistado a bordo de uma Flecha de Prata.
Campeão pela primeira vez em 2008, logo em seu segundo ano na F1, Hamilton não conseguiu voltar ao primeiro lugar do campeonato com a McLaren. Assim, abraçou um projeto ousado para 2013, de mudança para uma Mercedes que não apresentava nenhuma credencial de que poderia disputar o título. A aposta estava em 2014, no primeiro ano dos novos motores híbridos.
O campeonato de estreia, conforme esperado, foi de resultados modestos: em 19 corridas, Lewis terminou com uma vitória, cinco pódios e cinco poles, o que o levou ao quarto lugar do Mundial de Pilotos. Tudo mudaria a partir da temporada seguinte, porém.
A introdução dos motores híbridos catapultou a Mercedes para a frente do pelotão em 2014, e desde o primeiro momento ficou claro que a distância para as concorrentes não seria resolvida facilmente. Por outro lado, o desenvolvimento de uma nova unidade de potência já indicava que a confiabilidade seria um problema, e a primeira corrida do ano foi o exemplo perfeito desse contraste.
Naquele GP da Áustralia, que abriu os trabalhos no dia 16 de março, Hamilton durou duas voltas e abandonou com um problema no motor. Nico Rosberg, companheiro do inglês na Mercedes, ficou na pista e saiu do terceiro lugar para vencer por uma distância de 26s7 segundos em relação ao segundo colocado, Daniel Ricciardo. Para o terceiro, Jenson Button, a vantagem passou dos 30s.
Mesmo no início do ano, a única dúvida possível era sobre qual piloto da Mercedes levantaria o campeonato, dada a distância da equipe alemã para as concorrentes. Com o título resumido a uma disputa interna, porém, as faíscas começaram a aparecer entre Hamilton e Rosberg, ex-amigos de infância. O primeiro capítulo veio no Bahrein, na famosa ‘Batalha do Deserto‘, e os dois passariam a travar uma guerra que chegaria ao ápice em 2016.
Nada mudou nas etapas seguintes, com exceção da sorte de Hamilton. Após o abandono na Austrália, o britânico emendou quatro vitórias seguidas em Malásia, Bahrein, China e Espanha, o suficiente para abrir uma boa margem em relação a Rosberg. Em Mônaco, porém, o alemão voltou ao lugar mais alto do pódio — em uma etapa que mudaria para sempre a relação entre os dois.
Rosberg e Hamilton travavam uma disputa particular pela pole, e o alemão estava em vantagem antes da última volta do Q3. Nico, então, fritou os pneus e passou reto na curva Mirabeau, abortando a volta e gerando uma amarela que forçou Lewis a abandonar a tentativa final. O incidente foi investigado, mas, após análise de vídeo e telemetria, a FIA optou por não punir Rosberg, o oficializando na posição de honra.
Após a corrida, Hamilton estava enfurecido. O inglês não conversou com o companheiro no pódio, recusou um pedido de desculpas e comentou em entrevistas que não era amigo do alemão. Eventualmente, rolou até foto no Twitter de Lewis com ambos abraçados, mas Monte Carlo foi mesmo o início do fim da relação de amizade.
Na pista, entretanto, Ricciardo levou a primeira vitória de um piloto não Mercedes no Canadá, com direito a abandono de Hamilton. Rosberg voltou a vencer na Áustria e levou o troco do britânico na Inglaterra, mas devolveu mais uma vez e faturou o GP da Alemanha. Depois de Ricciardo triunfar na Hungria, Nico e Lewis voltaram a ‘tretar’ na Bélgica, momento em que o alemão tinha a ponta do campeonato.
Apesar de largar na pole em Spa, Rosberg foi engolido por Hamilton na largada e ainda perdeu o segundo lugar para Sebastian Vettel. Após retomar o posto do alemão, todavia, Nico foi para cima de Lewis e os dois se tocaram, o que levou ao abandono do inglês e uma série de reclamações pelo rádio. Com direito a bronca da Mercedes, o alemão precisou trocar a asa, mas chegou em segundo e abriu 29 pontos de frente com o abandono do ex-amigo. Ricciardo, único piloto fora da equipe alemã a vencer em 2014, levou de novo.
Apesar da vantagem na ponta do campeonato, este foi o último momento de real felicidade de Rosberg na temporada 2014. Com cinco vitórias consecutivas em Itália, Singapura, Japão, Rússia e EUA, Hamilton foi a 316 pontos e deixou Nico com 292, abrindo uma vantagem importante com apenas duas etapas pela frente.
No Brasil, Rosberg venceu, reduziu a distância para 17 tentos e levou tudo para a última corrida do campeonato, em Abu Dhabi, que previa pontuação dupla. Ou seja, o campeonato seguia completamente aberto, já que a etapa de Yas Marina concederia 50 pontos ao vencedor.
A expectativa era por uma corrida histórica e cheia de tensão, mas não foi o que aconteceu. Rosberg até fez a pole e indicou que brigaria, mas Hamilton largou melhor mais uma vez, tomou a dianteira e passou a abrir distância a cada volta. Envolvido em vários problemas técnicos desde o início, Nico não teve ritmo para sonhar com nada e fechou na longínqua 14ª posição, à frente apenas de Esteban Gutiérrez, Adrian Sutil e Will Stevens entre os que completaram.
Lá na frente, Hamilton se manteve em primeiro até o fim e liderou um pódio que teve Felipe Massa e Valtteri Bottas, seu futuro companheiro de garagem na Mercedes. Depois de um campeonato complicado e marcado pelas disputas internas, o britânico concluiu a temporada com 384 pontos, contra 317 de Rosberg. No total, foram 11 vitórias, 16 pódios e sete poles em 19 corridas.
A temporada de 2014 iniciaria uma sequência de anos que consagrariam Hamilton como um dos maiores de todos os tempos no esporte a motor. O hiato de seis anos sem título foi encerrado, e outros viriam em 2015, 2017, 2018, 2019 e 2020. Dez anos depois, Lewis vive a expectativa de se mudar para a Itália, onde vai defender a marca mais tradicional do automobilismo mundial — e a única certeza é: alcançar metade do sucesso que teve em Brackley seria algo que o britânico aceitaria sem pensar duas vezes antes de desembarcar em Maranello.
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