De Vries merecer vaga na F1 2023 é reparação por sistema que ignora campeão da F2

Nyck de Vries, na verdade, merece uma vaga na F1 desde que venceu a F2 em 2019, mas acabou sucumbindo a um sistema que não dá garantias ao campeão da base

Precisou Alexander Albon ter uma apendicite durante o fim de semana do GP da Itália para Nyck de Vries ser convocado pela Williams e mostrar, na pista, que poderia ter subido para a Fórmula 1 há três anos, quando levantou o caneco de campeão na Fórmula 2 na temporada 2019. Aquele era o terceiro ano do holandês na categoria de base, e o título veio na penúltima rodada, após conquistar a sua quarta vitória no ano na Rússia. Mas ao contrário do que se esperaria, de Vries não subiu para a F1. O premiado na ocasião foi Nicholas Latifi, o vice-campeão que, graças a um bom aporte financeiro, fez sua estreia na mesma Williams onde de Vries impressionou quem ainda não o conhecia.

Coincidentemente, o título do holandês veio em seu terceiro ano de F2, assim como aconteceu com Felipe Drugovich nesta temporada. E tal como o brasileiro, foi preciso pensar em outros caminhos para manter vivo o sonho de, um dia, estrear na F1.

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Nick de Vries foi campeão da F2 em 2019, mas não subiu para a F1 (Foto: F2)

A questão aqui, e isso vale tanto para de Vries quanto para Drugovich, é a injustiça do sistema, que proíbe o campeão da Fórmula 2 de continuar na série, ao mesmo tempo em que não dá a ele nenhuma garantia de ir para a F1 no futuro. Em 2018, quando ficou em quarto lugar na categoria de acesso à elite do automobilismo mundial, de Vries viu os três primeiros colocados, George Russell, Lando Norris e Alexander Albon subirem para a F1. Quando chegou a sua vez, faltou vaga — ou melhor, faltou verba, uma vez que Latifi conseguiu subir e, três temporadas depois, ainda não fez nada que justificasse a eventual escolha da Williams.

De Vries, por sua vez, foi para a Fórmula E defender a Mercedes e, no ano seguinte (2020/2021), também chegou ao título. Esse caminho, aliás, foi a estratégia adotada pelo piloto para não perder o ritmo das competições, como o próprio admitiu. “A única maneira de continuar uma carreira com sucesso é performar e entregar [resultados] na pista, e é isso que vou tentar fazer no restante da temporada”, disse o piloto de 27 anos ao jornal britânico Independent no mês passado, antes do desfecho da temporada da FE. Ao ser questionado sobre a esperança de conseguir uma vaga na F1, no entanto ele foi bastante sincero. “Está realmente fora do meu controle. E, nesse ponto, eu não tenho a possibilidade de influenciar as equipes.”

Mas o nome de de Vries voltou com bastante força este ano depois de o holandês aparecer em três treinos livres e por três equipes diferentes: Williams em Barcelona, Mercedes na França e Aston Martin na Itália. Neste último, a operação às pressas de Albon ainda abriu uma chance única, daquelas que parecem roteiro de filme. De Vries foi para a classificação em Monza ciente de que teria de dar o máximo de si, e conseguiu passar ao Q2. Com o festival de punições, alinhou em oitavo e, na corrida, se defendeu muito bem com um carro tecnicamente inferior, cruzando a linha de chegada em nono e deixando uma baita dor de cabeça para as equipes que ainda possuíam vagas abertas para 2023.

“Eu não acho que outra pessoa poderia ter feito um trabalho melhor do que o que ele fez. Você está em uma Aston Martin, estava pilotando com uma inclinação e depois foi convocado de última hora para um carro diferente, bate seu companheiro de equipe por uma boa margem, começando em oitavo e terminando em nono. Niki [Lauda] teria tirado o chapéu para ele como piloto”, disse Toto Wolff, chefe da Mercedes, após a corrida em Monza.

Nyck De Vries estreou na F1 no GP da Itália (Foto: Williams)

Na realidade, de Vries ainda não tem garantias para o ano que vem, e ele sabe disso. Mesmo tendo causado uma ótima impressão na Williams, ele não é a primeira opção, mas sim Logan Sargeant, pupilo da academia do time de Grove que corre na F2. E ainda há uma chance considerável de Latifi permanecer. O lado positivo é que as outras equipes também notaram de Vries e estão dispostas a, ao menos, dar mais uma chance de ele mostrar o seu potencial.

“Não sei se estou numa situação confortável o suficiente em que posso escolher. Em geral, está fora do meu controle. Tenho conversado com a Williams há muito tempo e pude estrear por lá na corrida passada. Seria um passo lógico. Estou em contato com a Alpine desde julho e vou testar com eles em Budapeste nesta semana”, disse no programa de TV holandês Humberto op Zaterdag. 

Que fique claro, logicamente, que não é objeto de análise se de Vries é um futuro campeão da F1. Ele pode, inclusive, estrear efetivamente em 2023 e não repetir a boa performance vista na Itália, e é de conhecimento que, na F1, apenas talento não conta para você conquistar bons resultados. Dependendo da equipe onde ele correr, terá problemas, fins de semana ruins, quebras e todo o pacote que outros pilotos costumam carregar. Mas a vaga na F1, se realmente se confirmar, é merecida e vem muito mais para corrigir um sistema que ainda precisa resolver qual destino será dado para o campeão da base.

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