Opinião GP: Com Hamilton quase perfeito e carente de maior competitividade, F1 fecha ano abaixo da média

A temporada 2018 apresentou um Lewis Hamilton forte e exibições de gala. Um piloto que foi capaz de aproveitar todas as chances, mesmo nos momentos em que não era o favorito. O inglês, merecidamente, caminha para se tornar o maior de todos. Só que, colocando de lado a performance quase perfeita do novo pentacampeão, a F1 deixou desejar em termos de competitividade, porque, mais uma vez, houve um abismo entre a F1 A e a F1 B

O GP DE ABU DHABI pode ser considerado um reflexo do que foi esse 2018 na F1. Quer dizer, Lewis Hamilton exibiu, mais uma vez, um desempenho impecável. Mesmo com o campeonato já definido, o inglês seguiu combativo e cerebral. Cravou uma pole-position brilhante no sábado, aproveitando o melhor carro que voltou a ter nas mãos, e venceu na paciência, depois de uma mudança repentina de estratégia da Mercedes. A verdade é que a temporada que se encerrou no domingo viu o melhor Hamilton em ação. Talvez a derrota de 2016 explique algumas mudanças vistas nestes dois últimos anos, mas, ao fim e ao cabo, o inglês consegue provar seu valor de novo, sendo capaz de extrair tudo de si e do carro prata em atuações que serão sempre lembradas. Ainda que tenha ao seu redor uma equipe eficientíssima, em muitas ocasiões, como Monza ou Singapura, ou em condições de chuva, o desempenho precisa ser colocado apenas na conta dele, e isso já torna essa temporada especial. Portanto, o ano acabou brindando os fãs com essa performance avassaladora de alguém que caminha a passos largos para se tornar o maior piloto de todos os tempos. Sorte ver a história sendo escrita. 
 
Porém, ainda que pese as exibições e a pilotagem segura e sem erros de Hamilton, o campeonato termina com um saldo devedor, principalmente diante da expectativa criada na primeira parte da temporada. Há de se destacar a Ferrari, que começou o ano fortíssima, com duas vitórias importantes de Sebastian Vettel na Austrália e no Bahrein. Depois, a Red Bull venceu na estratégia e na inteligência. A Mercedes só foi ganhar na quarta etapa. Mas o cenário era enganoso. Logo as cartas foram colocadas na mesa e ficou evidente que a disputa pelo título seria monopolizada pelos homens de Brackley e Maranello.
 
A Ferrari guardou a esperança de um campeonato mais disputado. E Vettel realmente deu essa impressão quando venceu corridas em que a Mercedes/Hamilton tradicionalmente mandavam, como na Inglaterra e no Canadá. Por boa parte da temporada, os italianos tiveram o melhor carro do grid – uma SF71H equilibrada, rápida, cuidadosa com os pneus e completamente adaptável a qualquer tipo de circuito ou condição. Só que algo deu errado. Quando ficou claro que havia uma chance real de conquistar o título, tudo se voltou para o alemão, que pareceu não lidar muito bem com a pressão e sucumbiu. Seb cometeu erros decisivos, como na Alemanha, quando liderava, e na Itália, diante de um autódromo lotado, sem contar a postura afobada em disputas de posição em largadas. Além disso, a própria Ferrari também se equivocou quando lançou mão de atualizações que se mostraram ineficientes e demorou para abrir mão delas. E assim foram perdendo terreno para uma Mercedes que não só cresceu no momento certo do ano, como também resolveu problemas crônicos de seu carro. Aí ficou fácil.
Lewis Hamilton e Sebastian Vettel, os dois protagonistas do ano (Foto: AFP)
Mesmo com brilhos aqui e ali, como em Mônaco, na Áustria, no México e no Brasil, a Red Bull, mais uma vez, não conseguiu fazer frente às duas ponteiras. As falhas de confiabilidade seguiram atormentando o sono dos energéticos, que ainda sofreram a perda de Daniel Ricciardo – que decidiu se mandar do time para 2019. A esquadra chefiada por Chistian Horner é lutadora, mas o déficit de desempenho ainda é enorme na comparação com as rivais. O carro, definitivamente, é muito bom, mas falta potência aos austríacos. E talvez esse continue sendo como o calcanhar de Aquiles para 2019. 
 
Por outro, é necessário destacar o amadurecimento de Max Verstappen. Depois de uma primeira parte de temporada marcada por atuações desastrosas, o holandês pôs a cabeça no lugar, mas precisou de um erro em Monte Carlo – onde era favorito – para mudar os próprios rumos. O melhor Max foi visto nesta parte final, ainda que pese o destempero no caso do toque em Interlagos.
 
Dessa forma, o campeonato se abriu para o #44 de uma forma até inesperada, mas Lewis soube aproveitar todas as oportunidades e foi aí que venceu, novamente por antecipação, anulando qualquer chance de reação do oponente. Só que o Mundial não se resume apenas aos erros dos vermelhos e acertos dos prateados. O que realmente puxa para baixo a nota da temporada é abismo técnico entre as três principais equipes e o pelotão intermediário. E isso fica claro quando se percebe que somente em uma corrida alguém do meio do grid teve a oportunidade de subir ao pódio. Isso aconteceu no caótico GP do Azerbaijão, quando Sergio Pérez cruzou a linha de chegada na terceira colocação. Nem mesmo as provas marcadas pelo acaso ou tumultuadas promoveram mudanças na ponta. Invariavelmente, apenas os pilotos o top-3 figuraram no pódio.
 
Coube à Renault o prêmio de melhor do resto. A equipe francesa termina 2018 com uma importante quarta colocação no Mundial de Construtores, mas nem de longe, como já chegou a acontecer nessa era híbrida da F1 com a Williams, o time ameaçou ou se aproximou das ponteiras. E a diferença na tabela é uma prova disso: 297 pontos para a Red Bull e nem sequer um pódio ou uma posição de largada de destaque. 
Nico Hülkenberg foi o melhor do resto, junto com a Renault (Foto: Renault)
É claro que há de se falar desse ótimo pelotão intermediário. Se ainda existe um abismo para o grupo da frente, a batalha na metade do grid se mostrou equilibrada. Além dos gauleses, a Haas construiu um ótimo carro, que apenas não vai além por conta de seus pilotos, que viveram um ano de muitos altos e baixos. Talvez isso explique vem a diferença de 29 pontos na classificação para a adversária francesa. 
 
A Sauber, embora oitava colocada, apresentou um crescimento vertiginoso ao longo da temporada, muito em função das atuações fortíssimas de Charles Leclerc, que chegou a disputar Q3 em diversas oportunidades. A Force India não teve um bom começo, mas, como sempre, soube se recuperar, baseada na baseada na capacidade de sua dupla – ainda que tenha atravessado um campeonato conturbado, marcado pela venda da equipe para um consórcio liderado pelo pai de Lance Stroll. Mesmo assim, o time deu trabalho no grupo do meio. Já a Toro Rosso serviu de campo de testes para a Honda/Red Bull, mas Pierre Gasly foi capaz de dar algum brilho à caçula das latinhas. 
 
McLaren e Williams dividem o prêmio de decepção do ano. A equipe de Woking ainda teve um bom começo de temporada, graças à pontuação obtida por Fernando Alonso nas primeiras etapas, ajudado mais pelo acaso que tomou conta das corridas iniciais. Mas a verdade é que a esquadra não conseguiu tirar mais do motor Renault e falhou em suas atualizações. No fim, ficou claro a ausência de performance e a luta de Alonso para tirar mais de um carro claramente problemático, o que só fez ampliar a diferença para o restante do pelotão, sem contar os times da ponta. Já a escuderia de Grove sofreu o ano todo. Foram apenas sete pontos somados com um carro sofrível e dois pilotos inexperiente – a equipe pagou um preço alto pelas decisões que tomou ao priorizar mais a grana dos patrocinadores. 
Hamilton, Vettel e Alonso fazem zerinhos em Abu Dhabi ao fim da corrida (Foto: Reprodução)
Portanto, a F1 termina 2018 ainda abaixo da média. Só que, felizmente, o campeonato acaba com uma imagem emblemática. Na despedida do Mundial, Fernando Alonso foi escoltado e reverenciado por Hamilton e Vettel, os dois multicampeões que seguem como grandes pilares desse esporte. Respeitosamente, atrás dos três nomes mais importantes da década, surgiu Max Verstappen. Quer dizer, mesmo em um momento em que discute que rumos tomar para melhorar a competitividade, a F1 continua em uma posição privilegiada, agraciada com um passado brilhante, um presente forte e um futuro promissor. 

O Opinião GP é o editorial do GRANDE PRÊMIO que expressa a visão dos jornalistas do site sobre um assunto de destaque, uma corrida específica ou o apanhado do fim de semana.

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