Opinião GP: Em corrida para ganhar campeonato, Hamilton e Mercedes dão lição em Vettel e Ferrari

A Ferrari largou no GP da Itália como favorita, depois de uma demonstração de força ao garantir a primeira fila do grid. Mas a escuderia italiana não foi capaz de transformar o domínio do sábado em vitória. E isso por culpa de seus próprios erros. A Mercedes, por outro lado, teve em um impecável Lewis Hamilton a competência necessária para vencer uma prova que pode ser decisiva na briga pelo título

FOI UMA LIÇÃO. O que a Mercedes e Lewis Hamilton, especialmente, fizeram no GP da Itália deste domingo (2) foi ensinar à rival Ferrari como fazer tudo para ganhar uma corrida – ainda mais em um momento em que não possui cartas na manga e nem o melhor carro do grid. Sem errar e usando a cabeça, os alemães armaram uma armadilha para a adversária, que, cega e desesperada, caiu na rede. 
 
Desde sexta-feira, dia dos primeiros treinos livres, ficou evidente a força ferrarista em Monza. Toda a evolução feita com competência pelos homens de Maranello foi colocada à prova em uma pista de extrema velocidade, e a SF71H não decepcionou. Sebastian Vettel e Kimi Räikkönen comandaram até com certa facilidade a tabela de tempos, e isso foi até a classificação, quando a equipe garantiu a dobradinha no grid, deixando claro o favoritismo, ainda que tenha sido Räikkönen o homem na posição de honra. 
 
Mas curiosamente foi no sábado que os problemas italianos tiveram início. A pole do finlandês, embora tenha sido efusivamente comemorada pelos chefes em um momento em que a cúpula ferrarista se prepara para aposentar seu último campeão, gerou um mal-estar nas garagens, por conta da reação de Vettel. Assim que percebeu que havia perdido para o companheiro, Seb quis chamar todos na chincha para esclarecer a razão pela qual Kimi aparecia em P1. Agora não é possível dizer até onde isso repercutiu, mas, certamente, parece ter ligado uma chama no nórdico, que, aliás, se apresentou muitíssimo bem na corrida. Foi valente e não baixou a guardar em nenhum momento. A começar pela largada.
Lewis Hamilton e Sebastian Vettel (Foto: AFP)

Räikkönen surpreendentemente endureceu o caldo para cima de Vettel, assim que as luzes se apagaram. Defendeu muito bem a liderança, deixando o colega de equipe lidar com o rival Hamilton, que saiu com mais ação. E aí veio a primeira grande jogada do inglês: a ultrapassagem precisa na Variante della Roggia. Sem ação, Seb tentou fechar a porta, mas era tarde demais e acabou até batendo na lateral da Mercedes. O toque o fez rodar e perder todas as posições, além de uma asa dianteira quebrada. 

 
Uma vez mais, Vettel exagerou em uma primeira volta e viu tudo ir por água baixo. Tal como na França, precisou protagonizar uma corrida de recuperação, enquanto seu maior adversário seguia firme na segunda colocação. E o tetracampeão transpareceu uma perigosa fragilidade emocional. Colocou a culpa pelo incidente no rival e questionou suas ações. Quer dizer, Seb errou em um momento decisivo, como havia feito em Hockenheim. É claro que o #5 carrega a pressão de um mundo nos ombros, por conta da expectativa de tirar a Ferrari de uma seca de títulos, mas sua postura em situações como essa deixam claro que o piloto ainda não está pronto para a tarefa. E que se conseguir neste ano, será por uma mudança fundamental de atitude mental.
 
A Ferrari também tem sua parcela de culpa pela derrota. A equipe italiana segue com a política obsoleta de focar tão e somente em um piloto. Neste domingo, pagou o preço. Esqueceu que Räikkönen ainda liderava a corrida e que poderia tirar pontos de Hamilton. Não levou a sério a estratégia e se permitiu ser enganada pela Mercedes – a equipe alemã blefou com um pit-stop precoce, aliás, a melhor jogada estratégia do ano até aqui. A verdade é que Kimi parou cedo e viu seus pneus se deteriorem na parte final da corrida, lhe deixando na mão. O que o time deveria ter feito era ter cercado a rival, como fizera há uma semana. Mas, naquela ocasião, era Vettel o líder, e talvez aí esteja o erro. 
 
Então, concluiu-se que os vermelhos fizeram tudo para perder. Vettel atacou Hamilton sem pensar na primeira de 53 voltas, enquanto a equipe vermelha não olhou com atenção para o piloto que comandava com maestria a corrida. 
Lewis Hamilton (Foto: AFP)
O contraponto é a Mercedes. Derrotada em Spa, a esquadra alemã buscava a redenção e fez isso de forma calma e inteligente – mas graças à cabeça de sua estrela maior. Ao contrário de Vettel, Hamilton se põe frio em situações de risco. Calcula suas ações e raramente comete erros. Em Monza, Hamilton foi cirúrgico. E fez, com toda a certeza, uma das melhores corridas de sua carreira na F1. Porque a realidade da equipe chefiada por Toto Wolff é mais ou menos o desempenho de Valtteri Bottas – ou seja, algo atrás da Ferrari e pouco à frente da Red Bull. É bem verdade que o finlandês foi muito mal neste domingo, mas, ainda assim, se colocar na balança, é possível ter uma dimensão mais exata do que Hamilton fez na Itália. 
 
Na largada, o britânico viu a chance de ultrapassar Vettel e não hesitou. Depois, foi cerebral ao seguir de perto Räikkönen. Então, contou com o pit-wall para surpreender os adversários. O blefe e a conduta de Bottas pavimentaram o caminho para o tetracampeão alcançar o #7, quando este voltou a liderar. Calmamente, Lewis se aproximou e escolheu o momento certo para a ultrapassagem: pouco menos de dez voltas para fim, quando Kimi já sofria com os pneus. Hamilton assumiu a ponta e levou a Mercedes ao triunfo, abrindo uma confortável vantagem de 30 pontos na tabela. Quer dizer, a equipe fez uma corrida para ganhar campeonato. 
 
A vitória veio em um GP que se torna agora decisivo, uma vez que a F1 visita pistas em que a esquadra prata historicamente sofre: Singapura e Sóchi são as próximas etapas da temporada. Mais uma vez, a Ferrari passa a ter vantagem, mas será difícil combater um homem que não erra e não se desespera. Portanto, só eficiência técnica não será mais o bastante para bater esse quase impecável Hamilton, que faz por merecer cada vez mais o título. 

O Opinião GP é o editorial do GRANDE PRÊMIO que expressa a visão dos jornalistas do site sobre um assunto de destaque, uma corrida específica ou o apanhado do fim de semana.

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