Opinião GP: F1 2022 cumpre papel e mistura forças. Ferrari sorri e Red Bull se desespera

A extravagante mudança de regulamento da F1 2022 deu certo. O GP do Bahrein apresentou uma corrida interessante e cheia de ultrapassagens. Melhor que isso foi perceber a mistura da ordem de forças do grid

O BRIEFING ANALISA O GP DO BAHREIN DE FÓRMULA 1

A FÓRMULA 1 SE VIU OBRIGADA a esperar mais de um ano para colocar carros com efeito-solo na pista. A pandemia da Covid-19 atrasou todos os projetos e fomentou alterações importantes na maior categoria do esporte a motor, como a adoção de um teto orçamentário e o congelamento do desenvolvimento dos motores. Em contrapartida, proporcionou uma chance de ouro às equipes. Projetistas e engenheiros tiveram mais tempo para trabalhar em cima de um regulamento que mudou todo o conceito aerodinâmico e a estrutura de trabalho. O resultado se viu no GP do Bahrein da F1 2022.

A primeira corrida dessa nova era do Mundial recompensou toda a paciência, o enorme investimento e apresentou um cenário dos mais interessantes para 2022, além de cumprir a promessa de permitir que um carro possa seguir outro com mais facilidade. É bem verdade que o circuito do Bahrein é excelente e costuma promover provas emocionantes, mas é igualmente certo dizer que hoje existe uma mistura de forças bem mais imprevisível.

Quer dizer, a Ferrari surgir forte como está não deveria ser uma surpresa, mas dado o sofrimento dos últimos anos, é uma grande notícia. Agora, quem imaginaria a Mercedes como terceira força e capengando? Ou ainda – e essa é a melhor – a Haas brigando seriamente na parte de cima do bloco intermediário do grid, com um piloto que estava afastado da F1 havia mais de um ano? Com certeza, ao passar pelo grid antes da corrida, Ross Brawn deu uma bela gargalhada. Deu tudo certo.

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Durante 3 voltas, a disputa entre Charles Leclerc e Max Verstappen empolgou o público no GP do Bahrein (Vídeo: F1)

Falemos da Ferrari, então. A equipe mais tradicional do grid renunciou ao campeonato passado para se concentrar inteiramente na F1-75. O carro vermelho é rápido, voou pelos trechos mais sinuosos do traçado barenita, sofre bem menos com o ‘porpoising’ e possui enorme vantagem no que diz respeito ao cuidado com os pneus. Os italianos já sabiam disso desde Barcelona. Mas era preciso aprimorar esse conjunto. Para isso serviu a segunda sessão de testes em Sakhir.

A Ferrari se preparou para esse fim de semana. Estudou seus pontos fracos, neutralizou os saltos causados pelo efeito-solo e soube gerenciar a corrida muito bem. Tudo funcionou certinho. Da estratégia à tocada de sua forte dupla de pilotos. Aqui é necessário destacar o trabalho de Charles Leclerc. O monegasco partiu da pole e não se intimidou tendo o campeão do mundo ao seu lado.

Leclerc ditou o ritmo do começo ao fim. Nas mãos de Charles, o modelo de Maranello foi de 0s2 a 0s4 mais consistente que a Red Bull de Max Verstappen. Tanto é assim que, mesmo em um embate direto, o dono do carro #16 teve como tirar performance para anular as investidas do adversário. Cabe um parêntese neste momento: a disputa aberta entre os dois também tem o regulamento como ponto central: foi possível perceber que o vácuo funciona bem, além da possibilidade de se colocar muito perto do rival, sem perder estabilidade. O DRS ainda é uma arma poderosa para o ataque porque deixa o oponente indefeso, mas já é possível trabalhar com outros fatores.

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Max Verstappen abandonou no Bahrein quando era segundo colocado (Foto: Red Bull Content Pool)

No caso, o que pesou foi a frieza de Leclerc. O piloto de Mônaco usou bem a melhor aderência e cuidado dos pneus nas curvas para responder Verstappen. Foi esperto ao deixar Max passar na reta e armar o bote na curva 4. Isso aconteceu ao menos três vezes, e Charles soube como afastar a ameaça. É verdade também que a tática ferrarista cumpriu seu papel, anulando as tentativas de undercut da Red Bull.

No fim, ainda teve um safety-car que poderia ter colocado tudo a perder, mas a confiabilidade da Red Bull acabou deixando a situação menos tensa para a Ferrari, que carimbou uma dobradinha que pareceu mais uma redenção.

Falando nos taurinos, é impressionante notar também o trabalho sofisticado que tiveram na execução do RB18. De fato, é um carro veloz, que sofre pouco com o pula-pula do efeito-solo, mas nem tudo funcionou de forma perfeita no Bahrein. E isso já levanta algumas sobrancelhas. O que primeiro chamou a atenção foi que, em ritmo de corrida, o modelo não foi capaz de seguir a Ferrari – e isso é uma surpresa, dado os treinos livres. Outro ponto, e esse é mais preocupante, é a falta de confiabilidade. Pesadelo antigo dos energéticos.

O duplo abandono no Bahrein é doloroso. Foram 30 pontos perdidos – levando em conta a segunda posição de Max e a quarta de Sergio Pérez. Por enquanto, suspeitam de uma falha da bomba de combustível. De toda a forma, é um contratempo que coloca uma interrogação sob os austríacos, que, no ano passado, tiveram no equipamento confiável uma das armas mais importantes contra a Mercedes.

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Lewis Hamilton foi ao pódio no GP do Bahrein, mas a Mercedes não tem carro para brigar – ainda (Foto: Beto Issa)

E se a Red Bull viveu um fim de prova amargo, a rival alemã levantou as mãos para o céu. E aqui entra o regulamento de novo. A esquadra multicampeã optou por um projeto extremo e que, parece, vai dar trabalho. O W13 é instável e força uma mudança de pilotagem. E isso afeta a configuração geral do carro, porque é necessária uma compensação diante dos quiques intensos.

A Mercedes perdeu muito ritmo de corrida – quase 1s –, tem problemas para gerenciar os pneus e não pode usar a pleno seu motor – outrora o mais forte do grid. Dessa forma, o que parecia impensável se tornou realidade: os prateados são a terceira força da Fórmula 1. E não há uma previsão de quando a equipe será capaz de resolver todas as suas questões – há uma corrida já neste fim de semana.

Mas a sorte sorriu para o time de Toto Wolff. O safety-car no fim foi providencial, aliado à rodada de Pérez. O pódio de um combativo Lewis Hamilton e o quarto lugar de George Russell são um alívio, mas só foram possíveis pelo contratempo da Red Bull.

Como se não bastasse ver a Mercedes neste cenário agridoce e confuso, a Fórmula 1 2022 ainda tem uma das histórias mais sensacionais para contar: a Haas emergiu junto com a parceira Ferrari e pegou a todos de assalto. A decisão sensata de trazer Kevin Magnussen foi recompensada pelo ótimo quinto posto. São dez pontos na tabela e a terceira posição no Mundial de Construtores. Isso já é mais do que o time fez nas últimas duas temporadas – bem mais.

Kevin Magnussen brilhou na noite barenita com a Haas (Foto: Haas F1 Team)

Nessa mesma esteira, é bom colocar a Alfa Romeo, com esse Valtteri Bottas revigorado. O finlandês largou muito mal, mas se recuperou. O carro é tão bom que permitiu a Guanyu Zhou marcar o primeiro pontinho logo na estreia. A Alpine também se mostrou mais forte do que na pré-temporada e colocou seus carros nos pontos. Assim, dá para esperar um pelotão intermediário diferente e mais equilibrado. Talvez esse seja um dos únicos pontos em que esse novo ciclo na F1 ainda não foi capaz de alterar: a diferença para os times da ponta ainda é significativa.

É claro que é cedo para avaliar o impacto do novo regulamento como um todo, ainda que o Bahrein permita análises mais puras, por se tratar de uma pista padrão e onde a pré-temporada foi disputada. O campeonato é longo, mas o ponto de partida se fez correto e se a primeira impressão é a que fica, a F1 2022 não poderia desejar algo diferente do que se viu em Sakhir.

Fórmula 1 retorna já no próximo fim de semana, entre os dias 25 e 27 de março, para o GP da Arábia Saudita, em Jedá. Com muitas respostas a mais para dar.

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