Opinião GP: F1 se redime com exibição de gala de Verstappen sem punição da FIA

A Fórmula 1 mudou da água para o vinho em apenas uma semana. Depois do sonolento GP da França, a Áustria surgiu como um bálsamo personificado em Max Verstappen. O holandês só não fez chover no Red Bull Ring e foi coroado após uma de suas maiores atuações no Mundial. E o esporte ainda saiu ganhando no momento em que FIA decidiu não punir Max pelo toque na ultrapassagem em Charles Leclerc que valia a vitória

A FÓRMULA 1 VIVEU no mês de junho uma fase das mais polêmicas e foi obrigada a encarar falhas que vinha, há tempos, adiando. As últimas três corridas ajudaram a escancarar a necessidade de mudanças urgentes, e não só no que diz respeito às decisões da FIA (Federação Internacional de Automobilismo) em termos de regulamento, mas também com relação ao equilíbrio técnico e financeiro. Tudo está em questão, especialmente porque, neste momento, o Mundial tenta emplacar o conjunto de regras que vai definir o que será deste esporte na próxima década. E o que aconteceu na Áustria, neste domingo (30), deixa a impressão de que a maior das categorias enfim parece entender que alcançou um ponto em que não pode mais ignorar as arquibancadas, o fã e tampouco os astros do espetáculo. Além disso, a etapa austríaca serviu como uma espécie de redenção diante das recentes controvérsias. 
 
Há pouco mais de três semanas, uma sanção tirou a vitória de um piloto que errou enquanto lutava pela primeira colocação. Ele cruzou a linha de chegada na frente, mas foi punido com 5s por ter executado uma manobra perigosa, no entendimento dos comissários, depois de cruzar pela grama após escapar da pista. A história de como Sebastian Vettel viu o triunfo cair por terra no Canadá ganhou enorme repercussão e foi alvo de críticas diante da interpretação severa dos homens da FIA, que acabaram por arruinar uma das melhores provas do ano até aquele momento, em uma temporada que acompanha inerte o amplo domínio da Mercedes. 
 
Sebastian foi perfeito em sua revolta após a sanção, especialmente porque havia uma promessa de que os pilotos teriam liberdade maior para competir neste ano – não é de hoje que a FIA pesa a mão. Mas faltou ali entender melhor o caso e o contexto. Foi um erro fruto de uma disputa intensa, não houve toque entre os rivais e, em última análise, tirou do público a chance de ver o primeiro grande embate entre Ferrari e Mercedes. Aí a luz amarela acendeu. E os comentários negativos foram justos. 
O lance de corrida que tirou o brilho do GP do Canadá (Foto: Mercedes)
Duas semanas depois, a Fórmula 1 foi à França. Ainda que histórico, Paul Ricard perdeu muito de sua personalidade e ainda ganhou áreas enormes de escape, que perdoam todo e qualquer erro. A corrida viu um passeio da Mercedes. E a irritante etapa apenas expôs os graves problemas técnicos do Mundial e a disparidade de performance entre os competidores. Foi chato e, novamente, a F1 se viu sob os holofotes pelos motivos errados.
 
Então, em menos de uma semana, o campeonato desembarcou no Red Bull Ring. Uma pista de verdade, com trechos que não perdoam erros e que colocam os pilotos no limite. O fim de semana também foi marcado pelo intenso calor e por inúmeras punições, o que ajudou a misturar os elementos chave do grid. A Ferrari cumpriu sua parte ao cravar a pole, enquanto Max Verstappen foi excepcional com o terceiro lugar que virou segundo, depois da sanção de Lewis Hamilton. Sebastian Vettel também enfrentou seus fantasmas e saiu mais atrás. No meio disso, ainda teve uma sensacional McLaren, que tenta cavar de volta seu lugar entre as grandes. Ou seja, a etapa austríaca começou embaralhada, e isso por si só é sempre determinante para uma boa corrida. Mas a prova foi bem além, e o crédito é de Verstappen.
 
Diante de um circuito vibrante e pintado de laranja, Verstappen foi um show a parte dentro da corrida, que viu boas brigas no pelotão intermediário e até no grupo do fundão – era a redenção. No bloco da ponta, Max largou mal, mas não esmoreceu. Quando o ritmo melhorou drasticamente na segunda parte da prova, partiu para a recuperação de fato, levantando a torcida a cada melhor volta, a cada ultrapassagem. Foi bonito de ver e prova que a F1 ainda pode encantar se der a chance aos seus astros. 
Max Verstappen e o mar laranja (Foto: Getty Images/Red Bull Content Pool)
Forte e veloz como tem sido neste ano, Max tirou sabe se lá de onde aquele rendimento. A Red Bull não era favorita, não sinalizava, antes da corrida, ter esse alto desempenho, mas o #33 estava decidido a aproveitar a oportunidade em um raro dia ruim da Mercedes. Fez belas ultrapassagens em um combativo Vettel, um apagado Bottas e um quase inocente Leclerc. E foi essa última que gerou a terceira grande controvérsia da F1 em menos de um mês.
 
Líder desde a largada, Leclerc não pode conter o avanço de Max. O monegasco até conseguiu se defender nas primeiras duas investidas, mas Verstappen estava endiabrado. Na aproximação da curva 3, o piloto da Red Bull colocou o carro ao lado e levou a parada. Charles, que ainda tentou fazer a tomada como se o RB15 não estivesse ali, fechou para cima do adversário, mas aí já era tarde. Houve o toque, e o ferrarista acabou escapando da pista. Foi uma ultrapassagem dura, como o holandês disse depois, mas fruto do arrojo. Daquilo que faz uma pessoa se apaixonar pelo esporte.
 
A manobra foi imediatamente para a sala dos comissários, que voltava a ser o centro das atenções. No pódio, Verstappen e a Red Bull celebravam a épica vitória, enquanto Ferrari e Leclerc não escondiam a revolta. Havia mesmo a chance de uma punição a Max por ter ‘forçado’ o rival a sair da pista. Só que uma sanção, qualquer que fosse, sacrificaria a história de uma corrida empolgante e de tirar o fôlego, uma prova que redimia a F1 após o horrendo GP da França e do triste desfecho da etapa canadense. 
 
E aí que ficou claro: a FIA parece ter entendido o que se passou nas últimas semanas. A decisão não veio de forma rápida como em Montreal. Os comissários precisaram de pelo menos duas horas para revisar o lance, analisar a telemetria, casos semelhantes e, em última ato, ouvir os envolvidos. O fato é que a entidade não queria errar. Isso fica muito claro na declaração dada pelo diretor de prova, Michael Masi, ao site da revista ‘Autosport’, ao falar sobre a demora para publicar a veredito. "Os comissários consideraram absolutamente tudo. Eles deliberaram, analisaram outros casos e conversaram entre si."
Verstappen ganha a posição de Leclerc no GP da Áustria (Foto: Reprodução)
Três horas depois da bandeirada, prevaleceu a disputa de pista, aquilo que o povo realmente quer ver. A não punição faz bem ao esporte e ao espetáculo. Seria um absurdo punir após a exibição de gala de Verstappen. Seria ainda uma pá de cal em uma Fórmula 1 que teve seu abismo cavado na semana passada e que conseguiu, com essa corrida, maquiar as muitas falhas que precisa corrigir. 
 
Por fim, há também duas opiniões contundentes que traduzem bem por onde a F1 tem de começar se quiser mesmo dar um passo adiante. "Se coisas como essas não são permitidas, então qual é a razão de se estar na F1?", disse Verstappen logo depois de sair do carro e responder sobre a ultrapassagem em Leclerc. "É corrida. É assim que chamamos. Do contrário, é melhor ficar em casa. "
 
E Vettel emenda: "Não gosto que essas coisas sejam passadas para alguém sentado numa cadeira. Não estamos lutando pela Copa Jardim de Infância, eles precisam nos deixar em paz."
 
Então, fica o pedido: deixe-os correr. 

A décima etapa da temporada 2019 do Mundial de F1 acontece daqui a duas semanas com o GP da Inglaterra, no circuito de Silverstone. O GRANDE PRÊMIO acompanha tudo AO VIVO e em TEMPO REAL.

O Opinião GP é o editorial do GRANDE PRÊMIO que expressa a visão dos jornalistas do site sobre um assunto de destaque, uma corrida específica ou o apanhado do fim de semana.
 

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