Opinião GP: Fechar temporada em insossa Abu Dhabi depõe contra ótima F1 em 2019

Abu Dhabi foi palco da última de 21 etapas da temporada 2019 da F1 e, ao contrário do que aconteceu em Interlagos, não deixa aquele gostinho de quero mais... A pista árabe é ruim, pouco técnica, previsível. É irritante pensar que isso não é novidade e, ainda mais, é incompreensível a insistência dos dirigentes em encerrar o campeonato por lá, o que apenas serve para puxar para baixo a nota deste ótimo ano vivido pela maior das categorias. E é injusto


ABU DHABI DEVERIA SER PROIBIDA de encerrar temporada na F1. É isso. Apesar do cenário de pôr do sol paradisíaco e de todo o luxo que o Mundial gosta de ostentar, a etapa em si entrega muito pouco e é ironicamente opaca. O circuito de Yas Marina não apresenta nenhum grande desafio, é um traçado previsível e que promove corridas igualmente sem graça. Isso é corroborado pelo fato de que, desde que entrou no calendário, em 2009, viu apenas uma boa prova, em 2012, campeonato dos mais emocionantes, se não o mais, de toda a década. É muito pouco. E é injusto a etapa derradeira ser lá se considerar tudo o que foi a temporada 2019, ainda que pese a questão de que Lewis Hamilton não teve concorrentes na luta direta pelo título, uma vez que ele e a Mercedes se portaram à perfeição. 
 
A verdade é que Abu Dhabi depõe contra uma temporada que se desenrolou de forma engenhosa, sagaz e surpreendente. 2019 jogou uma luz sobre o verdadeiro Hamilton, dentro e fora das pistas, fez emergir um Max Verstappen talentoso e brilhante, já pronto para encarar os grandes, trouxe o drama e o desastre do embate entre juventude e experiência nas garagens ferraristas, além da valentia dos novatos e do ressurgimento de uma marca e de uma equipe, que agora estão mais perto de voltar às suas posições de direito. Mais que isso, o campeonato que acabou domingo também apresentou corridas que entram para a história da F1.
O GP da Alemanha foi um dos melhores de 2019 (Foto: Mercedes)
Áustria, Inglaterra, Alemanha, Hungria, Bélgica, Itália. Uma sequência primorosa e que raramente vai se repetir. Aí teve o Brasil. Em comum? O fato de terem circuitos de verdade, traçados que carregam a trajetória da F1 e fazem parte do imaginário do fã. Qualquer um seria um palco melhor para o fim do campeonato. Ao fim e ao cabo, o Mundial acabaria de forma magnífica em Interlagos, com aquelas voltas finais que tiveram de um tudo: caos, ultrapassagens arrojadas, acidente entre companheiros de equipe e um final de tirar o fôlego. Seria o bastante para deixar aquela sensação de quero mais, de ansiedade por 2020…
 
Agora, terminar nesta Abu Dhabi sem qualquer personalidade coloca em risco também o plano de popularizar a F1, de atrair os jovens e, em útima análise, ampliar mercados e audiência. A última imagem é de um campeonato previsível, ainda mais pela maneira como a Mercedes dominou o fim de semana, e apaga esta segunda fase de temporada equilibrada e cheia de boas histórias.

A Fórmula 1 simplesmente não correr esse risco. E por mais grana que os árabes depositem na conta do Liberty anualmente, o Mundial tem de vir primeiro. Insistir em fechar o campeonato por lá é incompreensível e sem sentido, no fim das contas. 

Britta Seeger e Lewis Hamilton (Foto: Mercedes)
Apesar de Abu Dhabi
 
Se a etapa final foi previsível demais, também há de se reconhecer que Lewis Hamilton soube usá-la bem para encerrar uma de suas atuações mais extraordinárias da carreira. Foi um final adequado para tudo o que o inglês fez neste ano e por tudo que representa para o esporte. Ao receber a bandeirada antes de todos, Hamilton garantiu a 11ª vitória em 21 corridas. Ao longo do ano, Lewis soube gerenciar bem um Valtteri Bottas que tentou endurecer a disputa, mas foi mestre em administrar os jovens rivais. Deu aulas de pilotagem em diversos momentos. Mas talvez tenha sido fora do carro que o britânico tenha impressionado mais. 
 
Por meio de suas ativas redes sociais e em declarações fortes aos jornalistas, Hamilton se posicionou e defendeu o que acha certo sem amarras. Expôs seus medos, dificuldades e desejos. Teve a coragem de se mostrar humano. E uma das atitudes que mais exemplifica esse homem que vai além de seu esporte é o que fez no pódio ontem: ao chamar a diretora Britta Seeger para celebrar a vitória, o inglês deu um sinal de força, de engajamento, especialmente em uma região do planeta que pouco respeita as mulheres. 
É um grande, de fato. A F1 tem sorte em tê-lo. Pena que ainda não esteja pronta para ele.

O Opinião GP é o editorial do GRANDE PRÊMIO que expressa a visão dos jornalistas do site sobre um assunto de destaque, uma corrida específica ou o apanhado do fim de semana.

 
Paddockast # 44
RETROSPECTIVA 2019: MUITO QUE BEM, MUITO QUE MAL

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