Opinião GP: Ferrari se desespera e age mal. E contra Mercedes quase perfeita, põe em xeque disputa pelo título

A Ferrari tem recursos e já provou que possui um carro capaz de brigar pelo título, mas as decisões desajeitadas do pit-wall e a escolha por ter um primeiro piloto colocam tudo a perder em um momento em que a Mercedes se mostra quase perfeita e praticamente imbatível

"EU ESTOU PERDENDO muito tempo aqui. Não sei se vocês querem saber ou não, mas estou avisando". A frase foi dita por Charles Leclerc em um dado momento do GP da China, depois que obedeceu a uma ordem da Ferrari para deixar Sebastian Vettel passar, ainda nas voltas iniciais da corrida 1.000 da Fórmula 1, neste domingo (14). A ‘informação’ de Charles pode até parecer inofensiva, mas serviu bem para escancarar o cenário de fragilidade das garagens de Maranello. E mais: as decisões equivocadas e confusas em Xangai já abrem uma questão: a esquadra vermelha realmente tem o que é preciso para disputar o título de 2019 contra uma adversária impecável como a Mercedes? 
 
Antes de tudo, o contexto: Leclerc largou melhor da quarta colocação do grid e superou o companheiro de equipe logo na primeira curva, enquanto os carros da Mercedes tomavam a liderança. Com os prateados escapando, a Ferrari entrou no rádio do tetracampeão, questionado se poderia andar mais do que estava fazendo, em uma tentativa de alcançar Valtteri Bottas, que estava pouco além de 3s à frente dos dois carros italianos. Seb disse que sim. Foi então que a escuderia pediu ao monegasco para aumentar o ritmo. Só que Bottas também passou a ter um desempenho melhor e abrir distância. Neste momento, e sob muitos protestos, #16 teve de dar passagem ao colega. 
Charles Leclerc foi para o sacrifício (Foto: AFP)
Vettel, porém, não foi capaz de se manter veloz como antes e começou a ter uma performance bem abaixo não só do finlandês, como também do próprio Charles. Além disso, cometeu muitos pequenos erros que apenas serviram para deixá-lo mais e mais longe dos carros prata.  À espreita de tudo isso estava Max Verstappen, observando o que seria dos vermelhos.  
 
Com a proximidade do holandês da Red Bull e a incapacidade de alcançar a Mercedes, a Ferrari decidiu priorizar a estratégia de Sebastian, que fez o primeiro pit-stop logo depois de Verstappen. A tática deu certo. E se repetiu em uma segunda parada que se fez necessária – e isso para todos os envolvidos – devido ao alto desgaste dos pneus. Ou seja, o pódio de Seb estava salvo. 
 
Só que a equipe italiana ignorou Leclerc a partir daquele início de corrida, mesmo o jovem tendo claramente uma performance melhor. O pito também veio na sequência: “Nós fazemos o trabalho aqui, concentre-se, nós fazemos o trabalho”.
 
Charles não se conformou, mas seguiu seu destino. A Ferrari ainda acabou por usá-lo para que Vettel tivesse alguma chance de incomodar Valtteri Bottas mais perto do fim da prova, além de se livrar de Max. Ao deixar despojadamente Leclerc na pista por mais tempo, sabendo que seria necessário mais um pit-stop, como aconteceu com o alemão, a equipe italiana afundou de vez a prova de sua jovem promessa, que ainda cruzou a linha de chegada frustrado e atrás de Verstappen, na quinta colocação – a parada foi tardia e impediu qualquer possibilidade de luta. Quer dizer, ele se viu sacrificado para ajudar Seb – se a Ferrari tivese mantido as posições e a prioridade de tática, Leclerc poderia ter ido ao pódio e somado mais pontos.  
 
Foi a terceira ordem de equipe que a Ferrari lançou em três corridas. Todas em favor de Vettel. Na Austrália, Leclerc ainda pediu – estava mais rápido e queria uma estreia contundente. Ouviu um não e obedeceu. No Bahrein, a história foi outra. Pole e dono de um desempenho avassalador, o monegasco foi para cima de Sebastian como quem dá um recado claro. Mas agora aconteceu novamente. Charles acatou, mas o preço será alto.
Lewis Hamilton assumiu a liderança do campeonato (Foto: AFP)
Quando a escuderia entrou no rádio, a reação de Leclerc revelou muito do cenário vivido em Maranello ao questionar imediatamente os planos do pit-wall. O fato é que o monegasco não é um segundo piloto como as atitudes da Ferrari levam a crer. O jovem piloto tem sangue nas veias e, em igualdade de condições, tem tudo para virar um adversário duro não só de Vettel, mas também da própria Mercedes. Só que a escuderia precisa saber o que quer: a aposta em um único piloto em um momento tão inicial da temporada vale a pena? Ou seria uma decisão sábia abrir a disputa e deixá-los realmente livres? 
 
Enquanto a esquadra vermelha lida com sua própria tradição, a Mercedes se põe cada vez mais impecável e uma rival ainda mais difícil em 2019 – afinal, são três vitórias com dobradinha em três corridas. Hamilton agora é líder e já possui 31 pontos de vantagem para Vettel. Além disso, o poder de reação é uma arma poderosa dos prateados, além de um comando firme e de um piloto que não só é muito rápido, mas inteligente. A equipe chefiada por Toto Wolff deu uma lição a Maranello, não só de organização e operação, com aquele pit-stop arriscado e irretocável, mas também de união. E sendo assim, em um trabalho muito perto da perfeição, o time que quiser vencer a Mercedes tem de ser a melhor versão da própria Mercedes, o que neste momento a Ferrari passa longe. E compromente a disputa do título.

O Opinião GP é o editorial do GRANDE PRÊMIO que expressa a visão dos jornalistas do site sobre um assunto de destaque, uma corrida específica ou o apanhado do fim de semana.
 

Chamada Chefão GP Chamada Chefão GP 🏁 O GRANDE PRÊMIO agora está no Comunidades WhatsApp. Clique aqui para participar e receber as notícias da Fórmula 1 direto no seu celular! Acesse as versões em espanhol e português-PT do GRANDE PRÊMIO, além dos parceiros Nosso Palestra e Teleguiado.