Opinião GP: Hexa, Mercedes já se coloca como maior equipe da história

A vitória de Valtteri Bottas no Japão e o terceiro lugar de Lewis Hamilton, além da volta mais rápida do inglês, foram suficientes para garantir à Mercedes o sexto título de Construtores em seis temporadas consecutivas. O sucesso apenas confirma a excelência de trabalho dos alemães e os coloca já como maiores da história

NA HISTÓRIA, A FÓRMULA 1 sempre se deparou com períodos de domínio de uma única equipe. E isso vem desde a primeira década de disputa, quando a Alfa Romeo liderou os primeiros anos. Mais tarde, a Cooper, então Lotus e a Ferrari já nos anos 1970. Depois, a McLaren e a Williams entre 1980 e 1990, até a era em que Michael Schumacher comandou com enorme excelência a escuderia de Maranello de volta às vitórias no início dos anos 2000. A própria Red Bull viveu sua fase de conquistas avassaladoras e agora é a vez desta impecável Mercedes. Só que o que a esquadra prateada faz é sem precedentes
 
Embora tenha igualado o recorde que pertencia ao time italiano, nenhuma outra equipe foi capaz de vencer seis campeonatos do mundo de Construtores e Pilotos de forma consecutiva e tão dominante. É bem verdade que Hamilton ainda não assegurou a sexta taça, mas é apenas uma questão de tempo e formalidade. Em Suzuka, no fim de semana, a estrutura chefiada por Toto Wolff não só escreveu mais um capítulo dessa história, como mostrou por que está há tanto tempo no topo do esporte. 
 
No Japão, diante de uma Ferrari errática, os prateados foram capazes de ‘brincar’ com a estratégia, escolher o vencedor, mesmo em um momento em que não possui o melhor carro em todas as áreas. Mas o que faz da Mercedes essa potência? Essa é uma pergunta que demanda muitas respostas, mas talvez a principal delas esteja na pessoa de Wolff e na maneira como o time é comandado de fato.

Desde que desembarcou em Brackley, assumindo a base muito bem azeitada por Ross Brawn, o austríaco resgatou o papel dos grandes chefes de equipe da F1, dos dirigentes que eram a cara de uma equipe, como Colin Chapman, na Lotus, Luca di Montezemolo, com a Ferrari, Ron Dennis, com a McLaren. Toto não fundou a Mercedes, mas deu personalidade a ela nesta fase moderna e emprestou carisma. Ele a comanda com entusiasmo, permitindo a disputa em igualdade de condições, torcendo e não esconde a frustração quando tudo dá errado. Bate na mesa e exige excelência. Ao mesmo tempo, se mostra transparente e um fanático pelo esporte. 

Daí não é de se surpreender que, com tão pouco tempo de vida na comparação com as icônicas Ferrari, McLaren e Williams, a Mercedes já dita as regras, vence mais do que qualquer delas neste recorte curto de tempo e se estabelece com força, errando muito pouco e se recuperando dos reveses como ninguém na história. 

Toto Wolff é a imagem dessa excelente Mercedes (Foto: Reprodução)
Ao longo dos anos, Wolff ganhou enorme influência no paddock da Fórmula 1, muito por conta da forma como conseguiu elevar o sarrafo dentro das garagens prateadas. O forte desempenho da Mercedes nesta metade de década fez as demais equipes mudarem e, mesmo assim, apenas a Ferrari foi capaz de se colocar como ameaça – que foi rapidamente anulada pelos alemães, que trabalham literalmente dia e noite atrás da perfeição. E talvez esse seja também um fator que faz a Mercedes destoar: a obsessiva busca por ser a melhor. Daí a reação sempre rápida a qualquer condição adversa. E nem uma rivalidade ferrenha que se formou dentro dos boxes do time foi capaz de frear esse domínio. Rivalidade essa que Wolff gerenciou com sabedoria, reconhecendo os erros e reparand danos. 
 
Voltando ao triunfo na etapa nipônica, o chefe Toto Wolff não se mostrou tão ansioso por festa, pois a Ferrari tinha dominado a classificação de forma surpreendente, depois que os carros prata dominaram a sexta-feira de treinos. Não é a primeira vez que o dirigente tem esse comportamento. O fato de a equipe ter perdido terreno para a Ferrari em termos de motor também incomoda, por isso não há descanso. E parte disso tudo também tem o dedo de Niki Lauda. O tricampeão se tornou um dos pilares na construção dessa estrutura vitoriosa e, certamente, sua ausência – Lauda morreu em maio deste ano – será bastante sentida nos próximos anos, e as palavras de Toto dão uma noção exata do papel do ex-piloto e de como as coisas funcionam dentro da Mercedes. 
 
"Este sexto campeonato é muito especial e é dedicado a Niki. Ele tem sido uma parte importante desde o início, e todos nós sentimos muito a sua falta. Penso nele todos os dias e ainda acho difícil acreditar que não está mais aqui. Eu fico pensando comigo mesmo: 'O que Niki diria, o que ele pensaria?'. Hoje, ele provavelmente teria dito: 'Parabéns pelo título, mas você tem um desafio em suas mãos para o próximo ano'. Era o jeito dele de garantir que nunca fôssemos complacentes. Este domingo foi uma montanha-russa emocional: ficamos desapontados pela manhã, porque não fomos rápidos o suficiente na classificação. E agora vencemos a corrida e também os dois campeonatos – o que ainda é difícil de entender", disse o austríaco após a corrida em Suzuka. 
Niki Lauda morreu no primeiro semestre, mas deixou sua marca na Mercedes (Foto: AFP)
Uma terceira parte que explica a razão para que a Mercedes já possa ocupar essa posição de maior da história tem a ver com a presença de Lewis Hamilton nas garagens da equipe. O inglês, que tem uma história única no esporte, ousou a trocar a McLaren pela Mercedes em 2013 – muito devido a persistência de Lauda. E esse, com certeza, foi o passo mais correto que Hamilton deu em sua carreira. O britânico se encaixou como uma luva na estrutura criada por Wolff e Lauda. Ganhou a liberdade que tanto queria e aproveitou cada chance oferecida pela esquadra. Pode desenvolver ainda mais seu enorme talento e agora está cada vez mais perto de se tornar também o maior vencedor da história. 
 
Nada disso acontece por acaso. Lewis tem exata noção do papel do time e compartilha da inquietude de seu chefe e do desejo por permanecer no ápice. Da mesma forma que Toto, o ainda pentacampeão terminou a corrida de ontem questionando a estratégia do time. "Estou muito feliz pela equipe, é um ótimo resultado! Seis títulos consecutivos é uma conquista incrível que levou muito tempo e muito trabalho. Isso mostra a força da equipe e estou incrivelmente orgulhoso de fazer parte da história da Mercedes."
 
"É uma conquista merecida pelo trabalho duro e dedicação de todos aqui e nas fábricas. Valtteri fez um ótimo trabalho e mereceu a vitória. Fiz tudo o que pude. Acho que provavelmente tínhamos a chance de um 1-2, então vamos dar uma olhada no que poderíamos ter feito melhor. Acredito que podemos esperar que as próximas corridas sejam muito desafiadoras. A Ferrari ainda tem uma vantagem em velocidade de reta, o que torna tudo mais difícil, então temos que ultrapassá-los, mas acho que isso é realmente emocionante para os espectadores. Hoje celebraremos esta conquista monumental, mas amanhã começaremos a pressionar novamente – ainda temos corridas para vencer", completou Lewis.
Lewis Hamilton também tem papel fundamental nas conquistas da Mercedes (Foto: Mercedes)
Alguns números também servem para confirmar a superioridade e comprovam que a Mercedes anda na mais correta das direções: entre 2014 e 2019 na F1, a equipe venceu nada menos que 86 GPs. Neste tempo, a Ferrari subiu ao topo do pódio 17 vezes, contra 14 da Red Bull, em um total de 116 corridas desde o início da nova era híbrida. Isso tudo ainda não parece suficiente. Mesmo vencendo 12 das 17 corridas até aqui, sendo oito triunfos consecutivos, o time não para. Portanto, não será uma surpresa se, em 2020, a Mercedes surgir uma enorme velocidade de reta, anulando seus adversários. E isso é o que torna a Mercedes tão excelente.

Sem dúvida, a F1 vive sob um novo padrão.

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