Opinião GP: Norris ainda peca no básico e não está pronto para disputa de título na F1

A verdade é que Lando Norris ainda precisa aprender com os erros antes de pensar em uma disputa parelha por título na F1. Apesar da experiência e de ter nas mãos o melhor carro do grid, o inglês de 24 anos teima em dar um passo definitivo na carreira. O GP dos Estados Unidos mostrou um piloto com pouco repertório e errático. E desta forma, fica impossível tentar a maior taça do esporte a motor

“É a vida. Não fiz um trabalho bom o suficiente.” Foi assim que Lando Norris resumiu o GP dos EUA, em que largou da pole e, 56 voltas depois, teve de se contentar com uma melancólica quarta colocação, permitindo ao rival Max Verstappen abrir um pouco mais de vantagem na liderança do campeonato. O desânimo do piloto até seria bem justificado, dado o polêmico desfecho da corrida em Austin, mas o problema é que frases como essa se tornaram irritantemente recorrentes. É uma estranha teimosia e um autoflagelo que não comove mais. Porque a história da temporada 2024 também conta que as lições de momentos como esses raramente se transformam em mudanças, em ações diferentes. De novo, Lando falhou no básico e deixou passar a chance não só de cutucar o adversário, mas de fortalecer a disputa.

Pode se dizer que o fim de semana da McLaren no Circuito das Américas não foi o que se esperava depois da contundente vitória em Singapura. Os papaias demoraram a engrenar, enquanto Red Bull e Ferrari trataram de elevar o sarrafo. A vitória de Verstappen na sprint foi um ducha de água fria, acentuada por erro bobo de Norris na penúltima volta da prova curta, que o fez perder o segundo lugar para Carlos Sainz. Horas depois, o britânico até foi capaz de se redimir ao garantir a pole — que veio também ajudada pelo acidente de George Russell nos instantes finais do Q3. De toda a forma, a posição de honra ganhou a sensação de que havia ali uma oportunidade para revanche. Afinal, o MCL38 retomou a performance costumeira e já se desenhava uma batalha intensa não só com Max, mas também com uma Ferrari combativa.

Só que era imperativo vencer. E isso significava largar bem. No apagar das luzes, Norris até reagiu mais rápido que o oponente, mas deixou espaço por dentro na primeira curva. Como de costume, o tricampeão taurino aproveitou o vacilo e empurrou o rival — ambos acabaram excedendo os limites. Mas aqui chama a atenção também o fato do inglês não se antecipar ao rival e não se defender com mais eloquência, especialmente diante de tudo que está em jogo. Mais tarde, Lando diria que “pilotou como um fantoche” naquele instante inicial, ao permitir o ataque de Max. Ou seja, poderia realmente ter endurecido o caldo.

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Como resultado, Charles Leclerc tomou a liderança e caminhou para uma vitória de ponta a ponta. Lando, por outro lado, caiu para o quarto lugar e precisou administrar a primeira parte da corrida, até que a McLaren decidiu esticar o stint inicial, com a meta de parar uma vez só.

Os oponentes seguiram na mesma tática, mas em chamadas variadas. Já na segunda parte da prova, Norris se colocou mais veloz do que Verstappen — que aquela altura andava em terceiro, depois que a Ferrari trabalhou melhor nos boxes, colocando Sainz em segundo. Lando se aproximou rapidamente do neerlandês e ali dava a impressão de que seria uma questão de tempo para superar o adversário, dada também a diferença de pneus. Norris tinha compostos muito mais novos.

Ainda restavam 12 voltas, quando Lando encostou em Max. E aqui é um ponto importante. Lando se queixou a punição que recebeu na tentativa falha de passar Verstappen. Disse que os comissários foram precipitados, porque não fez nada de errado e acusou o concorrente. Há uma série de coisas que se pode falar sobre esse episódio, sobre punições e a falta completa de critérios da Federação Internacional de Automobilismo, que parece ter especial apreço por uma interpretação livre das regras. E sim, Norris usou o lado de fora para passar, mas também foi levado até lá pelo piloto taurino. Ambos, portanto, ultrapassaram os limites. Porém, apenas o piloto papaia foi punido, o que também interfere no campeonato.

Mas há uma questão que também não pode ser deixada de lado.

Norris brigou por oito giros com Verstappen, que jogou duro, como de costume também. O neerlandês se defendeu como se espera de alguém na posição dele. Quer dizer, deixava sempre o lado de fora e fechava a porta sem hesitar. Enquanto isso, Lando procurava espaços onde não havia, se contentava com a agressividade do adversário sem revidar. Não ousou e nem tentou algo diferente. Quando o fez, foi de maneira estabanada. Isso é um problema.

Max desembarcou nos EUA com 52 pontos de vantagem e agora viaja ao México com 57. Fez o que tinha de fazer, bem ou mal, e essa é uma lição que Norris precisa aprender de uma vez por todas, se quiser entrar em uma batalha intensa no futuro.

Não é possível disputar um campeonato sem conhecer o rival, sem tentar surpreendê-lo ou se arriscar. E mesmo depois de diversos embates, o piloto da McLaren ainda cai em armadilhas prosaicas e previsíveis. De novo, Lando peca no básico. Por isso é preciso aceitar que não está pronto para o título. Nem sequer para lutar por ele — ainda.

Fórmula 1 volta de 25 a 27 de outubro com o GP da Cidade do México, no Autódromo Hermanos Rodríguez.

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