Opinião GP: Verstappen extrapola sob pressão. Mas é preciso reconhecer quando perde
De novo, a Fórmula 1 se vê às voltas com as controversas defesas de Max Verstappen. Desta vez, o neerlandês acabou punido pelas ações em pista, em uma mudança de postura das mais importantes dos comissários de prova, especialmente depois do polêmico final do GP dos EUA, há sete dias. O tricampeão zombou das sanções no México e bateu o pé: não vai mudar. Só que a discussão parece mais ampla do que isso e envolve também a postura de Verstappen frente ao próprio campeonato que construiu e que põe em risco mais por sua culpa do que dos rivais
Max Verstappen é um craque deste esporte. Ainda garoto, já dava sinais de que tinha o que era preciso para se tornar não só um piloto de ponta, mas principalmente um campeão. Rápido, valente, debochado. Verstappen mudou a história da categoria máxima, como atletas acima da média costumam fazer. Por causa dele, a Federação Internacional de Automobilismo precisou mudar regras e se adaptar à insolência do rapaz. Mas há uma questão sobre o neerlandês que urge ser tratada. E que envolve não só quem dita o regulamento, mas também o próprio competidor e a maneira como se coloca frente a situações de pressão. A resposta é quase sempre estabanada e contradiz o talento que possui para guiar um carro de corrida.
Pelo segundo fim de semana consecutivo em 2024, Verstappen termina uma corrida como ponto central de críticas após mais uma disputa com Lando Norris, vice-líder e que tenta avançar em uma briga mais acirrada pelo título. Ainda que o resultado tenha sido diferente do usual, a atuação de Max no GP da Cidade do México deste domingo (27) também colocou em xeque a capacidade dele em lidar com uma concorrência forte — o que não deixa de ser surpreendente, diante da experiência e dos três títulos mundiais que possui. De novo, Verstappen lançou mão de uma postura duríssima, quase teimosa, em defesas que os adversários consideraram perigosas, e com razão.
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É bom que se diga que Verstappen tem um estilo único, agressivo e que encanta, é tudo que o fã quer ver. No entanto, ao se sentir ameaçado, como agora, diante não só da aproximação acachapante de Ferrari e McLaren, mas especialmente pela queda de rendimento da Red Bull, tende a extrapolar. A frustração parece ter um peso maior do que uma leitura mais cerebral do campeonato que defende com unhas e dentes. Neste momento, o piloto #1 tem 47 pontos em cima de Norris com 120 ainda em jogo. É claro que há uma briga, mas nada que Max não possa facilmente administrar.
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O problema é que ele escolheu outro caminho. E agora dá para dizer que Verstappen também é responsável por colocar o próprio campeonato, que parecia tranquilamente ganho, em risco, fora de controle. O episódio deste domingo apenas ratifica.
No Hermanos Rodríguez, assim como em Austin, o taurino não cedeu em nada. Mas agora acabou punido em sanções pesadas durante a corrida por duas disputas com Norris. Ironicamente, situações muito parecidas. Na volta 10 da corrida mexicana, enquanto Carlos Sainz já liderava e encaminhava a vitória da Ferrari, Max foi acossado por Lando.
Escaldado da semana passada, quando acabou com 5s na conta na tentativa de ultrapassagem no tricampeão, tratou de assegurar um tanto à frente do rival na tangência máxima da curva, procurando obrigar Verstappen a abrir espaço, conforme diz o regulamento. O #1 não aceitou e o empurrou para fora, mas Norris tomou a posição. Algumas curvas depois, o neerlandês foi para cima, tentando recuperar o terceiro lugar. Mas o britânico endureceu e, de novo, foi levado para fora, permanecendo atrás do oponente.
Os incidentes foram parar na salinha dos comissários de prova e analisados separadamente. Verstappen foi considerado culpado em ambos e tomou 10s por cada manobra, o que lhe custou um lugar no pódio. No fim, chegou em sexto. “Não foi uma corrida justa e limpa. E, portanto, acho que ele teve o que merecia”, disse Norris após a prova, que foi além: “Senti que tinha de evitar acidente, e não é isso que você sente que quer fazer em uma corrida. Ele está em uma posição muito poderosa no campeonato. Ele está muito à frente. Ele não tem nada a perder.”
“Não é meu trabalho controlá-lo. Ele sabe guiar. E tenho certeza de que sabe que provavelmente foi um pouco acima do limite”, completou.
Lando tem razão. E mais: é preciso também aceitar quando se perde. Naturalmente, ninguém gosta de ser derrotado, mas certas situações exigem um recuo estratégico, e é isso que falta a Max. E que abre também esse perigoso precedente.
Um segundo ponto também ficou claro neste fim de semana e deve afetar diretamente o campeão da Red Bull. Depois de todas as reclamações da semana passada, diante do comportamento de Verstappen, especialmente, a FIA decidiu promover mudanças no regulamento — que devem entrar em vigor a partir do Catar — e prometeu um olhar mais sério em disputas como essas entre Max e Norris. Um primeiro passo, certamente, foi dado no México, quando a interpretação dos comissários foi mais próxima da realidade. Porque há um histórico de não punições ao piloto taurino em ocorrências semelhantes — como ocorreu na semana passada, por exemplo. E em outros momentos, como nas brigas com Lewis Hamilton em 2021.
Portanto, a ação da entidade que rege o esporte também é um marco neste sentido. Quer dizer, se os critérios se tornarem mais claros e consistentes, as ações na pista, de fato, tendem a mudar, mesmo diante da resistência do tricampeão. E precisam valer para todos. Toto Wolff, chefe da Mercedes, não resistiu a entrar no debate e deu seu pitaco. “Um piloto sempre vai até o limite e, quando as regras ou a interpretação das regras permitem uma certa maneira de disputa, alguém como Max sempre vai explorar isso. Agora houve uma nova interpretação e execução desses regulamentos e acho que isso mudará a maneira como todos vão agir no futuro.”
Não há como discordar.
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