Opinião GP: Verstappen pisa e dá aula de como ganhar campeonatos na Fórmula 1

Lando Norris largou no GP de São Paulo favorito e tinha nas mãos uma chance de ouro para tentar descontar pontos importantíssimos na briga com Max Verstappen em 2024. Ao invés disso, cometeu erros e ainda viu um tricampeão avassalador na chuva, aproveitando todas as oportunidades em uma das maiores vitória da carreira. E como se não bastasse, o neerlandês praticamente sepultou qualquer esperança do rival e encaminhou o tetra. Foi uma aula de como se vence um campeonato

Ganhar um campeonato de Fórmula 1 exige tudo. Tudo. Da equipe ao piloto, do regulamento a uma boa dose de sorte. Mas é fundamental querer vencer. E essa talvez seja a lição maior do GP de São Paulo deste domingo, muito bem traduzida por Max Verstappen. Punido e em meio a uma classificação das mais desastrosas, o neerlandês não esmoreceu e protagonizou em Interlagos talvez a melhor corrida da carreira.

Tirando proveito da pista molhada que tanto lhe agrada, foi engolindo os adversários nas primeiras voltas até figurar na briga pela vitória. É bem verdade que contou com uma bandeira vermelha providencial, mas também foi capaz de se colocar em posição de aproveitá-la. No fim, tomou as decisões corretas e seguiu firme até a bandeirada final, encerrando um jejum que já durava quase cinco meses. A vitória maiúscula, nas condições que foram, não só devolveu a leveza do começo do ano, mas praticamente sepultou qualquer esperança de disputa do rival Lando Norris. É assim que se leva um título.

Verstappen chegou ao Brasil ainda envolto em críticas pelo excesso de agressividade na etapa anterior, na Cidade do México, em que acabou punido duplamente. Como se não fosse suficiente, já sabia que teria de cumprir uma nova sanção na capital paulista. Essa pela troca de motor — foram cinco posições no grid em Interlagos. Não foi a única punição do piloto no fim de semana, é bom dizer.

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De qualquer forma, Max se concentrou naquilo que importava: resultado. Incomodou a concorrência na sprint, em que quase entrou na luta pelo triunfo. Terminou em terceiro, mas caiu para quarto após uma nova imposição dos comissários de prova. A distância para Norris naquela altura era de 44 pontos. Mas havia ainda uma classificação a ser disputada. Por causa do temporal que desabou em São Paulo no sábado, a sessão passou para o domingo. E nessa nova programação, o piloto #1 se deu mal e teve de se contentar com um 17º posto, enquanto Lando cravou uma pole potente. Ali se desenhou um cenário ideal para o inglês — naquele momento, diante das circunstâncias, a diferença entre eles seria de apenas 19 tentos. Um Mundial totalmente aberto, portanto.

Mas ambos viveriam histórias bem diferentes na tarde paulistana. Embora a chuva tenha desempenhado um papel determinante na corrida, as condições foram as mesmas para os dois. Inclusive, em termos de decisão estratégica. Acontece que, apesar da vantagem de sair na ponta, Norris deixou escapar a oportunidade de vencer. Perdeu a liderança antes mesmo da freada da curva 1 para George Russell, depois de um vacilo histórico durante o procedimento de largada — que foi parar na salinha dos comissários, inclusive. Enquanto isso, Verstappen varria seus adversários, escalando o pelotão. Ganhou seis posições apenas na primeira volta. E ainda brigou com a Ferrari de Charles Leclerc na sequência. À medida que a intempérie apertava, havia uma dúvida sobre parar ou não para trocar os pneus.

Naquela fase da prova, Norris já havia ultrapassado Russell e vinha no comando. Foi aí que a McLaren decidiu chamar o inglês #4. A Mercedes reagiu e também acionou seu piloto. Max, no entanto, decidiu esperar um pouco mais para parar. A dupla da Alpine também. A opção acabou sendo acertada, uma vez que a prova se viu em bandeira vermelha pouco antes da metade. Neste cenário, o neerlandês mudou os pneus e seguiu à frente do rival. No reinício das ações, Verstappen foi para cima do então líder Esteban Ocon, para assumir a liderança. Já Norris se via cada vez mais em apuros com uma relargada ruim, que o fez despencar no pelotão. No fim, o britânico da McLaren ainda precisou inverter colocação com o parceiro de equipe, na tentativa de controlar os prejuízos. Inês é morta, porém.

A partir daí, o filho de Jos impôs um ritmo forte e passou a virar seguidamente voltas mais rápidas, Foram 17 ao todo. A verdade é que Verstappen não tomou conhecimento da punição e nem dos adversários. Usou o piso molhado a seu favor e foi em frente, em uma aula de como combinar bem a agressividade e o arrojo, além de uma postura mais cerebral. Também não cometeu erros.

A primorosa primeira volta de Verstappen em Interlagos (Vídeo: Reprodução/TV)

Mesmo nas condições adversas que o clima de São Paulo preparou para a F1, Verstappen se manteve calmo, checou todas as possibilidades e não deu chances a ninguém. Controlou o ímpeto e partiu para uma conquista categórica em uma das mais clássicas pistas do Mundial. De novo, talvez a maior da carreira, diante de um momento em que atravessa. Ou seja, o piloto da Red Bull há tempos não tem mais o melhor carro do grid e precisa capitalizar a todo instante — a equipe também parece tecnicamente confusa e ainda conta com um péssimo segundo carro, enquanto a concorrência se fortalece. O neerlandês, entretanto, parece inume a isso. Neste domingo, conduziu com precisão, desta vez, sem exageros ou polêmica. Não precisa disso, no fim das contas.

A bem da verdade é que Max está em um patamar diferente de seus colegas de grid e sabe disso. Ele faz a diferença na Red Bull. Mesmo em momentos de menor nível competitivo, o piloto estava lá e buscou resultados, minando os rivais. Por mais esplendoroso que seja o crescimento da McLaren, o time e Norris ainda não estão prontos para um campeonato. Os erros em sequência e a hesitação em pontos chaves são exemplos. Já para o líder da F1 não há bola perdida.

Verstappen é um piloto puro, um cara de combate. E ainda que precise ajustar algumas arestas, o quase tetracampeão já se senta à mesa dos grandes nomes deste esporte — há um tempo, inclusive. Ele entende de campeonatos e de como vencê-los, porque realmente quer vencê-los. A diferença está aí.

Fórmula 1 agora tem duas semanas de descanso e volta apenas no fim de semana dos dias 21 a 24 de novembro, na segunda edição do GP de Las Vegas.

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