Opinião GP: McLaren deixa claro na Itália que Mundial de Pilotos não importa em 2024

Uma vez mais, a McLaren deixou escapar a chance de uma vitória importante na briga contra a Red Bull em 2024. Porém, choque maior é perceber que a tal regra papaia, na verdade, é uma mensagem clara: a equipe laranja só se importa com o Mundial de Construtores. E não acredita que Lando Norris seja capaz de vencer Max Verstappen nesta temporada. Só que esse pode se tornar um caminho sem volta

“Obrigado pelo espírito esportivo”. A frase é do boquirroto conselheiro da Red Bull, Helmut Marko, que não perdeu a chance de zoar a adversária McLaren após o GP da Itália deste domingo. Embora o austríaco aprecie uma boa dose de drama, ele tem razão em agradecer aos ingleses, porque, do ponto de vista dos taurinos, o resultado da etapa italiana acabou sendo melhor do que o esperado. A pontuação descontada foi menor, fora a confirmação de um ponto importante: a tal regra papaia, citada pelo engenheiro de Lando Norris durante a corrida em Monza, deixou algo muito claro: a esquadra de Woking parece mais interessada no Mundial de Construtores do que no de Pilotos. E mesmo sendo essa a intenção, o time laranja continua a hesitar.

É preciso dizer que a McLaren partiu favoritíssima neste domingo, não só pela forte primeira fila, mas também pela qualidade de seu carro — hoje, o melhor modelo da Fórmula 1. É bem verdade que há sempre uma grande tensão no apagar das luzes, porque esse tem sido o ponto mais fraco de Norris. Desta vez, ele saltou bem da pole e ainda contou com uma providencial ajuda do colega Oscar Piastri na freada da primeira chicane — o australiano também apareceu forte e foi capaz de controlar o ímpeto de George Russell, terceiro no grid. No entanto, o que aconteceu na sequência coloca um ponto de interrogação na cabeça, porque Piastri aproveitou um espaço deixado por Lando no lado de fora na Roggia e executou uma bela e dura ultrapassagem. Que foi sentida pelo inglês quase a corrida toda.

De toda a forma, a partir dali, o dono do carro #4 ainda perdeu posição para Charles Leclerc e precisou da ajuda dos boxes para retomar o segundo lugar. A McLaren agiu certo ao tentar o undercut. Lando foi o primeiro a visitar os boxes na volta 15. A Ferrari reagiu com Leclerc, enquanto Piastri trocou os pneus dois giros mais tarde. Após toda a rodada de pit-stop, o australiano era quem liderava, com o colega de time quase 2s atrás, tendo superado o monegasco na tática. Era o momento da reação.

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Só que a McLaren decidiu liberar a disputa entre os dois companheiros, por meio da regra papaia, e isso acabou mudando os rumos da história. E pode, inclusive, alterar o status quo da garagem inglesa.

Com a ‘autorização em mãos’, Piastri e Norris aumentaram o ritmo, se revezaram nas voltas mais rápidas e descuidaram dos pneus. Pior para o inglês, que sentiu mais o desgaste, errou e escapou da pista. Oscar aproveitou o vacilo e abriu vantagem. Enquanto isso, Charles e a Ferrari tentavam gerenciar a borracha. E então, a McLaren tomou outro caminho esquisito. Mesmo na liderança e até com certa folga, a equipe optou por uma segunda parada. De novo, Lando foi antes aos pits, na volta 32. Já o australiano parou seis giros depois, retornando atrás do monegasco e à frente do colega. O ferrarista, no entanto, tinha uma carta na manga e usou bem os pneus até o fim, para celebrar uma vitória espantosa.

Surpreendidos, os papaias lamentaram. Piastri quase não conseguiu esconder a insatisfação. Já Norris sequer olhou para o colega de box após a prova, quando ambos se encontraram na salinha que antecede ao pódio.

Estava claro que, de novo, a esquadra de Andrea Stella entregou o ouro. A verdade é que o time preferiu a segurança das duas paradas do que o risco de dividir as estratégias para tentar vencer. Impressiona também a falta de uma leitura de corrida mais precisa. No entanto, o choque maior vem da opção de liberar os pilotos. É claro que é mais interessante ver uma briga aberta, mas há mais em jogo aqui, convenhamos.

Climão na salinha antes do pódio (Vídeo: Reprodução/F1TV)

Diante do potencial técnico que possui, a McLaren tinha total condição de sair com a pontuação máxima na Itália, descontando de maneira categórica a diferença para Red Bull — que viveu um de seus piores fins de semana em 2024, com Max apenas na sexta colocação. Com uma dobradinha, a esquadra britânica poderia ter deixado Monza já na liderança do campeonato de construtores, enquanto Norris poderia ter reduzido a diferença para Verstappen para 52 pontos, restando ainda oito etapas e duas sprints.

Ainda que o pódio duplo pareça um resultado aceitável, é uma derrota. A realidade é que a equipe de Woking está diante de uma oportunidade de voltar a arrematar taças do mundo — sim, no plural —, mas simplesmente se nega a entender isso e prefere mensagens atravessadas, um papo torto dos mais assustadores. E nisso entra o mais absurdo: não acredita que Lando possa superar o tricampeão taurino. Neste domingo, faltou usar a razão, a frieza e fazer cálculos simples. Às vezes, situações únicas como essa demandam decisões complexas. Não é a primeira vez e nem será a última na F1.

E no fim das contas, terá de aceitar quieta a alfinetada do consultor da Red Bull, porque a descreve com precisão. “Um resultado decepcionante? De jeito nenhum. Já tínhamos uma ideia de que isso aconteceria. Quero parabenizar a Ferrari pela vitória e agradecer à McLaren pelo espírito esportivo. Aprecio isso, porque torna nossa situação um pouco melhor. Mentalmente e também qualitativamente, Max ainda é o piloto mais forte na pista”, falou o austríaco.

Não dá para discordar.

Fórmula 1 volta de 13 a 15 de setembro em Baku, para a disputa do GP do Azerbaijão, 17º da temporada 2024.

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