Opinião GP: O que é preciso para vencer um cara que ganha até com 3 rodas?

Há um ditado na Fórmula 1 que fala que a sorte acompanha os campeões. E parece ser mesmo verdade, mas o que aconteceu com Lewis Hamilton vai mais além. O inglês agiu com maestria e, mais uma vez, deixou claro que, para vencê-lo, é necessário a perfeição

PARECE QUE SÓ O ACASO pode fazer com que Lewis Hamilton e sua afinadíssima Mercedes deixem de vencer o GP da Inglaterra. Em condições normais, nada tira o triunfo do hexacampeão”. Esse é um trecho do texto de análise, publicado no GRANDE PRÊMIO, após a classificação de sábado. Lá, falamos até em hecatombe, como a única forma de parar o inglês em seu circuito de casa. Não poderíamos estar mais errados. O que se viu no domingo foi um homem que está no controle de tudo. Nem mesmo um pneu em frangalhos foi capaz de impedir o triunfo – o tal acaso. E a cena de Hamilton se arrastando com três rodas ao cruzar a linha de chegada apenas comprova o quanto esse piloto está em um patamar realmente superior. Junto com a imagem que agora se torna histórica também vem a pergunta: Como vencer um cara desse?

Não há uma resposta só ou simples, mas a concorrência está em maus lençóis. Como dizíamos depois da formação do grid, o domínio abissal dos carros pretos tornou a previsão para corrida muito fácil. E, de fato, tudo caminhava para um passeio no parque até que Valtteri Bottas sofreu um furo de pneu a duas voltas do fim da prova, após seguir devotamente o companheiro de time e líder durante todos os 50 giros até ali. O finlandês já vinha se queixando de vibração e de um comportamento anormal da borracha, mas, convenhamos, acostumamos-nos a entender esses relatos dos pilotos da Mercedes com alguma desconfiança, dada a excelência de sua performance. Neste caso, contudo, a coisa pareceu mais séria.

A largada do GP da Inglaterra: nem no apagar das luzes Bottas conseguiu se colocar como ameaça à vitória de Hamilton (Foto: AFP)

Bottas tinha cerca de 10s para Max Verstappen, o valente terceiro colocado, quando viu o pneu ser estraçalhado. A falta de sorte de Valtteri se apresentou na forma de posição na pista: o piloto precisou conduzir durante toda uma volta até os boxes para a troca. Resultado: caiu lá para trás e não foi capaz de superar nem um lento Sebastian Vettel para obter um mísero pontinho. A atuação, aliás, que deixa muitos pontos de interrogação e é um dos motivos pelo qual fica difícil estabelecer um embate contra um Hamilton tão primoroso. A avaliação de Valtteri ainda cai vertiginosamente devido ao fato de correr com o mesmíssimo carro do colega, diga-se.

Imediatamente, a Mercedes alertou Lewis do incidente com o nórdico, mas não demorou muito para o próprio entender do que estavam falando. Já na metade da última passagem do GP, o britânico também precisou lidar com a perda do pneu dianteiro esquerdo. Parecia ali que o acaso venceria e que estaríamos certos na nossa análise. Mas era Hamilton ao volante do W11. Então, é justo deixá-lo explicar.

“Eu estava cuidando dos pneus. Estava tudo bem, entrei sem problemas na curva 2. Estava tentando entender o desgaste e, de repente, na reta, perdi rendimento e senti do lado esquerdo. Quase não consegui contornar a curva 7. No calor do momento, com toda a adrenalina, surge o instinto de sobrevivência. Por isso, consegui me manter calmo e só pensava em levar o carro de volta”, disse Lewis.

“Mas também é claro que estava pensando em tudo que poderia acontecer. Se o pneu tivesse acabado numa curva de alta, as coisas teriam sido diferentes. Eu sabia que Max vinha muito rápido e estava a 19s. Só fiquei pensando: como vou passar por todas as curvas sem perder tempo? Então, contornei a curva 15 e as duas últimas foram um desastre. Só ouvia: 7, 6, 5… Tentei apenas manter tudo sob controle”, completou.

F1; GP DA INGLATERRA; LEWIS HAMILTON;
Lewis Hamilton venceu de forma dramática o GP da Inglaterra (Foto: AFP)

Na realidade, Hamilton apenas ouvia a voz de Peter Bonnington, o ‘Bono’, seu engenheiro de pista, que foi informando sobre a distância de Verstappen. Lewis não falou nada durante todo esse intervalo de tempo.

Diante desse cenário, de alguém tão dono do equipamento e de tudo que acontece a sua volta, fica impossível imaginar que até uma hecatombe possa mesmo tirar um triunfo ou o próprio campeonato das mãos de Hamilton. O que aconteceu no domingo foi mais talento, perícia e trabalho do que sorte ou qualquer coisa nesse sentido. E para parar Hamilton, só a perfeição. Ou uma combinação quase que se assemelhe a que ele próprio tem com a Mercedes. E mais um pouco.

E esse mais um pouco, talvez tenha de vir daqui: “Sinceramente, sou um piloto de corrida. No kart, você tem disputas roda a roda, e é isso que sempre me entusiasmou”.

“Essa não é a luta pelo campeonato que eu esperava. Eu preferiria ter uma briga mais apertada com esses dois, porque é isso que realmente me faz vir aqui. Eu realmente espero que esteja mais acirrado no futuro”, acrescentou Lewis, sentado entre Verstappen e Charles Leclerc – talvez os dois principais candidatos a esse posto, ainda desocupado, do cara que vai tentar vencer esse homem que nem o acaso consegue.

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