Pai de Bianchi fala da saudade e do desejo de criar fundação para jovens pilotos, mas revela: “Ainda é difícil ver a F1”

Philippe Bianchi, pai de Jules Bianchi, piloto morto após um grave acidente em Suzuka no ano passado, se disse ainda incapaz de acompanhar a F1 ou de rever a séria batida que vitimou seu filho. Ainda assim, o francês pretende criar uma fundação para ajudar jovens pilotos, que não dispõem de recursos financeiros, no automobilismo

Há quase um ano, Philippe Bianchi começava talvez o período mais dramático e triste de sua vida. Na volta 43 da corrida em Suzuka do ano passado e debaixo de muita chuva, o filho Jules Bianchi perdia o controle de sua Marussia na curva 7 e acertava em cheio o guindaste que tinha entrado na área de escape para remover a Sauber de Adrian Sutil. Jules sofreu uma lesão axonal difusa – que é uma lesão ampla e devastadora e que, em mais de 90% dos casos, deixa suas vítimas em coma definitivo -, permaneceu em estado crítico no hospital em Mie, no Japão, por algumas semanas até ser transferido para a Nice, na França, pouco mais de um mês depois da batida e por lá ficou, sem nunca se recuperar, até o dia 17 de julho, quando morreu aos 25 anos.
 
Falando sobre a perda de Jules, uma vez mais Philippe foi incrivelmente direto e disse que ainda é "muito difícil" acompanhar a F1. "Talvez em alguns meses, alguns anos, eu possa novamente tentar ver um GP, eu não sei, mas agora é muito difícil, realmente difícil", contou o francês ao canal BBC.
Philippe Bianchi, pai de Jules Bianchi, chora e recebe apoio de amigos durante funeral do filho em Nice (Foto: AP)
A F1 retorna à Suzuka neste fim de semana também cercada pela lembrança do trágico acidente do jovem francês da Marussia. Jules foi o primeiro piloto de F1 a morrer depois de Ayrton Senna e Roland Ratzenberger em 1994.
 
"É um momento difícil porque marca também um ano que Jules teve o acidente, então esta não será uma boa semana para a família Bianchi. Todos nós sentimos muito a falta de Jules, seus amigos e fãs também, por isso continua sendo um momento delicado", completou o pai.
 
"Os meses foram passando, e nós víamos Jules todos os dias do mesmo jeito, aí entendemos que não era mais possível para ele voltar porque a lesão foi muito séria. O problema foi o acidente, acho que a sua cabeça e o seu cérebro acabaram ali, porque o dano foi grave. Você tem duas coisas — a parte neurológica e a parte física — e Jules tinha um grande físico, acho que ele ficou vivo por isso, porque fisicamente era muito forte", explicou o francês.
 
"Agora, ele está comigo, mas é difícil perceber que ele não vai mais telefonar para mim ou conversar com a mãe dele. E já vai fazer um ano que não podemos mais falar com ele. Por nove meses, eu não pude abraçá-lo ou beijá-lo. Jules era muito bom garoto, estava sempre perto da família, então é tudo isso foi terrível", completou.
 
Logo depois da batida em Suzuka, a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) reuniu uma comissão de notáveis para investigar o que aconteceu naquelas voltas finais do GP do Japão. Após o estudo, os especialistas concluíram que o piloto do carro #17 falhou ao não reduzir o suficiente a velocidade ao contornar a curva 7 e minimizaram a presença de um trator na área de escape sem que o carro de segurança fosse acionado.
Jules Bianchi atinge guincho em Suzuka (Foto: Reprodução)
O pai de Bianchi evitou falar sobre as conclusões da investigação, mas afirmou: "Para mim, ainda é estranho ouvir as pessoas falarem que ele estava muito rápido, porque ele era um piloto de F1".

Philippe também revelou que é difícil rever o vídeo do acidente, as fotos e toda a repercussão. "Não sei o aconteceu naquele dia. Eu não consigo ainda ver vídeos ou fotos. Talvez daqui a alguns meses, eu não sei. Não consigo ver as fotos do acidente de Jules. E, para mim, também não dá para falar nada sobre o acidente, porque é difícil ter de ver vídeos", admitiu.  

 
Por conta de tudo que envolveu o incidente com Bianchi, muitas propostas para o aumento da segurança dos carros vieram à tona e agora a discussão mais recente trata de cockpits fechados. Philippe gosta da ideia, mas disse que o recurso não teria sido suficiente para salvar Jules. "Para mim, fechar o cockpit é algo bom, mas, com relação ao acidente de Jules, não serviria. O médico me explicou que o problema foi a severa desaceleração, então o cockpit fechado não teria mudado nada", explicou.

O FUNERAL DE JULES BIANCHI
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A comoção e a fundação
 
Philippe Bianchi ainda reservou palavras sobre o emocionante funeral de Jules em Nice, em julho, quando a maioria dos pilotos do grid compareceu, assim como nomes de peso do automobilismo e dirigentes. O francês se disse tocado pelo carinho de todos do mundo do esporte a motor e revelou que deseja agora criar uma fundação que ajuda jovens pilotos.  
 
"Ele estava no esporte desde os três anos e adorava esse mundo", contou o pai. "Eu pretendo agora fazer uma fundação para ajudar jovens pilotos de kart que não tem dinheiro e que precisam de alguém com experiência", acrescentou.
 
"Quando a F1 veio para o funeral e fez uma grande homenagem para mim e para toda a família de Jules, foi algo realmente importante, porque foi uma consagração para ele e tocou os nossos corações. Todos me disseram que Jules certamente ainda venceria um GP e que poderia até ganhar um campeonato, mas isso nunca vamos saber. O que sabemos é que ele trabalhou muito duro para tudo isso, que tinha um grande talento e que, talvez, com um bom carro, pudesse um dia entrar na brigar por um título."
 
"Eu já falei com muitos pilotos e tenho certeza de que todos também querem ajudar, porque acho que todos também ficaram tocados pela morte de Jules. Então, tenho certeza de que poderemos fazer algo de bom por ele. É importante agora que Jules não está mais aqui, mas ainda é difícil, porque sinto muita saudade", encerrou.
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