Quatro jovens e um destino incerto: para onde iriam os pilotos na eventual retirada da Red Bull da F1?

Numa hipotética saída de Red Bull e Toro Rosso do grid na próxima temporada, quatro talentosíssimos pilotos ficariam sem emprego na F1, uma vez que praticamente todas as vagas em times competitivos já estão fechadas. Mas categorias de destaque, como a F-E e o WEC, poderiam tranquilamente receber Daniel Ricciardo, Daniil Kvyat, Max Verstappen e Carlos Sainz Jr.

Jamais a Red Bull ostentou uma geração tão promissora na F1. Mesmo quando contou com Sebastian Vettel nos seus quadros e dominou o esporte nos anos de ouro entre 2010 e 2013, os taurinos tinham tantos talentos representando sua marca no grid. Além dos ótimos Daniel Ricciardo e Daniil Kvyat no time tetracampeão do mundo, a Red Bull conta, no seu time júnior, a Toro Rosso, os jovens e muito promissores Max Verstappen e Carlos Sainz Jr. Mas se a Red Bull levar a cabo as ameaças e optar por sair da F1 ao fim da temporada, vai deixar a pé quatro grandes competidores, que terão bem modificados os rumos de suas respectivas carreiras.
 
Afinal, todos eles construíram suas trajetórias no esporte com apenas um objetivo: estar no grid da F1. E por um meio que não exigiu polpudos patrocínios, mas, sim, apenas o enorme talento e a capacidade de suportar a fortíssima pressão de um programa de jovens pilotos que já ‘moeu’ as carreiras de gente como Sébastien Bourdais, Sébastien Buemi, Jean-Éric Vergne e Jaime Alguersuari. Os três primeiros, de alguma forma, conseguiram dar sequência no automobilismo, até com sucesso. Alguersuari, com problemas de saúde, está impedido de acelerar depois de ter disputado a F-E na última temporada.
 
No caso de uma hipotética saída da Red Bull e da Toro Rosso do grid da próxima temporada da F1, é na F-E que seus pilotos poderão encontrar um porto seguro. Primeiro, pelo fato de a categoria dos carros elétricos representar aquilo que há de mais empolgante e inovador no automobilismo recentemente. A classe caiu no gosto do público e ganha a cada dia o interesse de grandes montadoras dispostas a investir no esporte. A própria Red Bull acompanha com proximidade o crescimento da F-E. 
Helmut Marko é que sussurra os rumos da Red Bull (Foto: Getty Images)
Helmut Marko jamais descartou que a Red Bull tem interesse na F-E, embora tenha ressaltado, ainda em dezembro de 2013, que o foco da marca estava na F1. O consultor, inclusive, já acompanhou algumas provas in loco do campeonato. E com Dietrich Mateschitz “um pouco desiludido” com a principal classe do automobilismo mundial, nada mais plausível do que considerar a categoria dos carros elétricos, que remete a energia, que também remente aos energéticos fabricados pela Red Bull.
 
Na temporada 2014/2015, a Red Bull teve um piloto no grid em algumas etapas da F-E: António Félix da Costa, que venceu em Buenos Aires. Para o segundo ciclo da categoria, faltam três vagas a serem preenchidas: as duas da Aguri, e uma na Dragon. Entretanto, esta lacuna deve ser fechada por Loïc Duval. Mas a FIA determinou que as equipes só podem realizar duas mudanças de pilotos por cada carro ao longo do campeonato, de modo que os talentosos pilotos da Red Bull poderiam encontrar na F-E um bom lugar para correr em 2016 e além.
 
Em teoria, uma ‘recolocação profissional’ na F-E acabaria tão razoável quanto na própria F1. Até porque, sem considerar Red Bull e Toro Rosso, apenas quatro vagas de titular estão abertas para 2016: uma na Lotus — futura Renault —, outra na Haas e duas na Manor, que deve contar com motores da Mercedes para o ano que vem. Isso sem contar a indefinição sobre o futuro de Jenson Button na McLaren Honda para a próxima temporada.
 
Outra possibilidade de permanência de Ricciardo, Kvyat, Verstappen e Sainz Jr. na categoria seria como reserva de uma grande equipe. No caso, a Ferrari, que já usou de tal expediente neste ano, quando contratou Vergne para ser um dos reservas do time de Maranello ao lado de Esteban Gutiérrez. Verstappen, que impressiona em seu primeiro ano na F1, recentemente teve rumores ligando seu nome à equipe italiana, assim como Ricciardo. 
Daniel Ricciardo: reserva da Ferrari? (Foto: AP)
Como última alternativa e até mesmo como perspectiva de futuro num time da envergadura da Ferrari, seguramente seria uma opção muito melhor do que cumprir um ano sabático, por exemplo.

Entretanto, outras categorias poderiam abrigar alguns dos pilotos da Red Bull, seja de forma contínua ou esporádica. A seguir, o GRANDE PRÊMIO traça algumas possíveis alternativas para o futuro dos jovens taurinos na F1.

 
Mundial de Endurance
 
Uma vez que a F1 está cada vez menos atraente, muitos pilotos consideram o WEC como a verdadeira vanguarda do esporte a motor na atualidade. Além de ser um certame que vem atraindo cada vez mais as grandes montadoras, também está conquistando os corações dos pilotos na mesma proporção. Falando apenas dos pilotos de F1 recentemente, Fernando Alonso quase acertou com a Porsche, mas a McLaren Honda vetou. Nico Hülkenberg foi, viu e venceu as 24 Horas de Le Mans neste ano e Jenson Button flerta com o Mundial de Endurance caso encerre mesmo sua jornada na McLaren ao fim do ano.
 
Trata-se, definitivamente, de um novo horizonte, para competidores, para racers. O sucesso de Hülkenberg e de Mark Webber, que deixou a Red Bull para seguir caminho na Porsche e vencer suas primeiras corridas em 2015 torna cada vez mais válido o velho ditado, de que há vida fora da F1. Espaço não falta: falando apenas sobre a LMP1, a Toyota e a Audi parecem com sua linha de pilotos mais fechada, mas Porsche e a própria Nissan, que trabalha no desenvolvimento de um protótipo que fracassou em Sarthe neste ano, seriam boas possibilidades.
Mark Webber está no WEC e continua com o relacionamento com a Red Bull (Foto: Getty Images)
Indy
 
Historicamente, a Red Bull jamais teve muito envolvimento com a Indy. Nos tempos de IRL, no começo da década passada, a antiga equipe de Eddie Cheever teve seus carros pintados com a marca dos energéticos, mas nada foi muito além depois disso. 
 
Dentre os pilotos que já representaram a marca da Red Bull na F1, apenas Sébastien Bourdais hoje corre na Indy. Mas o francês tem todo um histórico no automobilismo de monopostos da América. Tetracampeão da Champ Car pela Newman Haas, Bourdais acabou sendo contratado como piloto da Toro Rosso em 2007 muito por conta do seu sucesso nos Estados Unidos. Mas mesmo com algumas razoáveis atuações, o gaulês não conseguiu se manter na F1 por muito tempo, acabou sendo dispensado pela Toro Rosso para dar lugar a Jaime Alguersuari e, depois de um ano no endurance, voltou para a Indy, onde está até hoje, defendendo a KV.
 
Contudo, até pelo fato de a categoria ser baseada nos Estados Unidos, longe da base dos pilotos da Red Bull hoje, uma eventual transferência para a Indy seria pouco provável, mesmo com a possibilidade de disputar as 500 Milhas de Indianápolis, uma das principais corridas do automobilismo mundial. 
 
Recentemente, dentre os pilotos que cruzaram o Atlântico em direção aos Estados Unidos, estavam pilotos como Mikhail Aleshin e Stefano Coletti, ambos sem perspectiva alguma na F1, situação bem diferente de Ricciardo, Kvyat, Verstappen e Sainz. Some-se a isso o teórico pouco interesse da empresa dos energéticos em fincar raízes no automobilismo americano, como acontece na Europa e até mesmo no Brasil.
Mikhail Aleshin foi buscar chance na Indy (Foto: IndyCar)
DTM
 
Naquela que é a principal categoria de turismo do automobilismo, o DTM reúne três das maiores marcas do esporte a motor: Audi, BMW e Mercedes. Recentemente, Niki Lauda disse que Dietrich Mateschitz, dono da Red Bull, “nunca gostou da Mercedes”. Coincidência ou não, a Red Bull estampa sua marca em dois carros do concorrido grid de 24 carros do Campeonato Alemão de Turismo: a BMW de António Félix da Costa e a Audi de Mattias Ekström.
 
E a julgar pelos resultados conquistados por ambos neste ano, as montadoras devem estar bem satisfeitas com seus pilotos. O luso Félix da Costa, depois de uma temporada de estreia complicada em 2014, trocou a M-TEK pela Schinitzer, equipe pela qual chegou à sua primeira vitória no DTM, em Zandvoort. 
António Félix da Costa está vencendo no DTM (Foto: DTM)
Vale lembrar: Félix da Costa foi preterido pela Red Bull na F1. Quando todos esperavam pelo anúncio confirmando o português na Toro Rosso para a temporada 2014, os taurinos promoveram Kvyat, campeão da GP3 no ano anterior. Sem espaço para disputar o Mundial, o trabalho de AFC como piloto da Red Bull ficou restrito à suplência e a exibições aqui e ali. Até que se encontrou no DTM e tem um bom rumo na carreira.
 
O mesmo vale para Mattias Ekström. Bem mais experiente que Félix da Costa, o sueco de 37 anos é bicampeão do DTM e piloto de longa data da Red Bull. Na temporada 2015, Ekström é um dos pilotos da Audi que, ao lado de Edoardo Mortara, briga pelo título contra a Mercedes de Pascal Wehrlein.
 
O bom desempenho de Félix da Costa e a grande fase de Ekström indicam que, por mais promissores que sejam os pilotos atuais da Red Bull, não haja qualquer perspectiva da participação de qualquer um deles no DTM  num futuro próximo.
 
Stock Car
 
A criação da Corrida de Duplas, prova que abre desde 2014 a temporada da Stock Car, tem sido um sucesso estrondoso e atrai cada vez mais pilotos de todo o mundo. Entre os nomes que já passaram por aqui estão Jacques Villeneuve, Jaime Alguersuari, Nicolas Prost, Bruno Senna, José María ‘Pechito’ López, Laurens Vanthoor e Mark Winterbottom.
 
Outro nome de destaque que pintou nesta prova, na temporada 2015, em Goiânia, foi justamente Félix da Costa, que foi um dos bons nomes da segunda parte da Corrida de Duplas deste ano ao terminar em terceiro lugar depois de dividir o carro com Allam Khodair.
 
Uma eventual vacância do quarteto Ricciardo/Kvyat/Verstappen/Sainz Jr. na F1 tornaria possível um convite para participar da abertura da Stock Car. Levando em conta a participação cada vez mais maciça de grandes pilotos internacionais, não é nenhum devaneio imaginar que qualquer um dos pilotos taurinos pudessem acelerar em terras brasileiras, mesmo que em participação especial.
A Red Bull tem forte presença na Stock Car (Foto: Rodrigo Berton/Grande Prêmio)
Dakar
 
Dentre os quatro pilotos da Red Bull na F1, um deles tem relação muito próxima com os ralis: Carlos Sainz Jr., filho do lendário Carlos ‘El Matador’ Sainz, bicampeão mundial de rali, vencedor do Dakar em 2010 pela Volkswagen. Hoje, Sainz, o pai, é um dos quatro pilotos da Peugeot e vai encarar novamente o mais desafiador rali do mundo, na América do Sul, em 2016.
 
Detalhe é que Sainz pai, bem como a Peugeot, são patrocinados pela Red Bull. Apenas uma coincidência, obviamente. Fato é que Sainz Jr. teve sua carreira toda baseada em monopostos. Desde criança, teve o apoio do pai para seguir sua trajetória no asfalto e não nas trilhas de terra. Assim, ao menos por enquanto, uma mudança tão radical de esporte, mesmo se a Red Bull deixar a F1, parece improvável para Sainz Jr. no momento.
 
Ano sabático
 
“Ainda estou muito novo para tirar um ano sabático”. A frase foi dita, em tom de brincadeira, pelo quase sempre sorridente Ricciardo. De fato, aos 26 anos, dono de um enorme talento e vencedor na F1, o australiano tem muita lenha para queimar e apenas está começando sua carreira no grid. O mesmo vale para todos os outros pilotos da Red Bull atualmente: há muito potencial a explorar.
 
Mas será mesmo que um ano sabático é mesmo uma possibilidade real caso a Red Bull deixe a F1? Difícil dizer, uma vez que está claro que a empresa de Mateschitz está numa queda de braço e que, no fim das contas, Bernie Ecclestone não vai permitir que quatro carros deixem o grid de uma vez só. Seria uma perda muito grande em todos os sentidos. Seria desastroso para a imagem da F1, já em crise há algum tempo.
Daniel Ricciardo (Foto: AP)
O mais provável é que, cedo ou tarde, a Red Bull entre num acordo com uma boa fornecedora de motores e garanta um bom pacote para a temporada 2016. Para isso, não é difícil que Bernie coloque suas cartas na mesa e mostre quem manda. E como dono do negócio, o britânico não vai querer ver seu ‘brinquedinho’ sendo desvalorizado devido a um conflito de interesses. No fim das contas, é tudo sobre um acordo que pode envolver alguns milhões de euros aqui e ali, e tudo seguirá seu curso normal.
 
E sendo assim, Ricciardo, Kvyat, Verstappen e Sainz Jr. poderão dormir tranquilos e com a certeza de continuarão na F1. E debaixo das asas da Red Bull.
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