Retrospectiva 2019: F1 vive duas temporadas em uma, irrita e diverte ao mesmo tempo

Ainda que a disputa direta pelo título sequer tenha existido, uma vez que ficou muito claro que Lewis Hamilton e a Mercedes levariam a taça, a F1 fecha 2019 com saldo positivo, pois soube criar boas histórias, dramas, chegou a irritar, é verdade, mas, acima de tudo, divertiu o fã, o que, no fim das contas, é o que vale

RETROSPECTIVA F1 2019
_Hamilton vive ano irretocável com hexa e atos de grandeza
_Excelente, Mercedes dá lição e se põe de novo imbatível

A

DOMINANTE VITÓRIA de Lewis Hamilton no GP de Abu Dhabi – o último do longo calendário de 21 etapas – pode ser vista como um resumo perfeito do que foi o 2019 da F1, além, é claro, de ter sido um final dos mais adequados, dada a superioridade imposta pelo britânico em sua temporada mais forte da carreira. Sim, Hamilton e a Mercedes comandaram o campeonato com uma perfeição quase insolente, assim como na corrida em Yas Marina. E os resultados por lá também ajudam a explicar os motivos pelos quais a Fórmula 1 irritou, divertiu e emocionou, tudo ao mesmo tempo, no ano que acaba daqui a pouco mais de duas semanas.
 
É claro que Hamilton e seus seis títulos mundiais merecem um capítulo à parte. É a história sendo escrita. Mas o Mundial também acompanhou o interessantíssimo amadurecimento de Max Verstappen, que agora lidera como um veterano essa Red Bull ainda excelente em estratégia e ousadia. Foi também emblemático o fato de o holandês ter terminando aquela prova atrás de Hamilton e muito à frente do melhor carro da Ferrari, o que apenas deixou viva a real hierarquia de forças deste ano. De certa forma, também o pódio. Max e Charles Leclerc, em degraus abaixo de Hamilton, já são a representação máxima de que a passagem do bastão é apenas uma questão de tempo. Mas isso não quer dizer que Lewis esteja acabado. Ao contrário, parece estar no melhor de sua carreira em termos de técnicos e do ponto de vista mental.

A F1 só ganha.

O dono de tudo e os jovens tentando arrancá-lo do poder (Foto: Getty Images/Red Bull Content Pool)
A corrida no deserto ainda confirmou outros aspectos dessa temporada, como, por exemplo, Valtteri Bottas. O finlandês se recuperou de um revés doído, reproduzindo um pouco a sua própria jornada em 2019, quando largou bem no GP da Austrália, vencendo o companheiro de equipe e dando a entender de que poderia endurecer a briga – isso vindo de um 2018 frustrante. No entanto, no decorrer da disputa, ficou evidente que o tal Bottas 2.0 ainda não é suficiente para ameaçar o colega britânico. A análise se estende também a Sebastian Vettel, apenas quinto em uma de suas atuações mais apagadas. O tetracampeão sentiu o confronto com a impetuosidade de Leclerc e não soube lidar muito bem com a mudança de atenção dentro das garagens ferraristas. Esse será, certamente, um dos desdobramentos mais aguardados do próximo ano. 
 
Aí se tem um incrível Alex Albon. É certo que o GP de Abu Dhabi não foi sua melhor apresentação, mas o tailandês foi capaz de provar seu valor ao não se deixar intimidar pela presença de Verstappen nos boxes. Pelo contrário, Albon focou na adaptação ao carro austríaco, depois de uma primeira parte de temporada bem decente com a Toro Rosso, sem contar a execução de ultrapassagens tão bonitas quanto precisas. Foi uma das gratas surpresas do ano. E ainda garantiu lugar na equipe em 2020. 
 
O top-10 da prova ainda teve um valente Sergio Pérez na sétima posição, demonstrando a razão pela qual ainda leva a inconsistente Racing Point aos pontos. A impressão que fica é que o mexicano merecia mais na F1, mas o trem acabou passando. Mesmo assim, seguiu defendendo bem sua reputação de bom piloto e brigador.

O novato Lando Norris foi outro que soube se impor. Mais do que o oitavo lugar, o fato de ter vencido as disputas em classificação para o companheiro Carlos Sainz foi um enorme sinal de força. O espanhol também precisa ser celebrado. Não só por ter fechado o ano na posição de ‘melhor do resto’, mas, principalmente, pelo alto nível de sua pilotagem. Tal como Verstappen, Sainz se mostra cada vez mais pronto para disputar mais que o posto de líder da F1 ‘B’. Vale uma menção ao excepcional trabalho da McLaren, que fez a aposta certa na dupla jovem e nas contratações dos engenheiros. Quarta força merecidíssima.

Aqui cabe dizer também que os três estreantes foram sensacionais, dentro das barreiras que foram impostas. Talvez a F1 esteja abrindo caminho para  grid mais forte de sua história.

Os novatos Lando Norris, Alexander Albon e George Russell: F1 está bem servida (Foto: Williams)
Daniil Kvyat ainda colocou a Toro Rosso ali na zona de pontos, o que apenas ratifica o passo à frente dado pela irmã caçula, que foi muito além das expectativas com a incrível conquista de dois pódios, apesar da mudança de pilotos na metade da temporada, quando a Red Bull decidiu rebaixar Pierre Gasly e promover Albon.
 
As demais colocações na etapa árabe também refletem bem o cenário de 2019 – e fica ainda mais nítido por terem terminado fora da zona de pontos. A Renault foi errática ao longo do ano. Não só pelo fracasso da maior parte das atualizações, como também em termos de decisões estratégicas, um fiasco. Daniel Ricciardo pode ter dado um tiro no pé. A Alfa Romeo foi outra decepção, ainda que tenha brilhado no GP do Brasil. Sem dúvida, esperava-se mais de uma equipe que recebeu um enorme investimento financeiro e técnico, por conta da parceria com a Ferrari, que trouxe ainda Kimi Räikkönen. Mesmo assim, os resultados foram escassos.
 
O fundo do pelotão também escancarou a péssima temporada da Haas, que de tão perdida chegou a usar em diversas corridas a configuração dos testes da pré-temporada. Mas pior que a equipe americana só a Williams, que terminou o ano com apenas um pontinho, conquistado por Robert Kubica na Alemanha, depois da desclassificação dos carros da Alfa Romeo. Ainda que a história de superação do polonês seja das mais sensacionais, o retorno à F1 foi mais complicado do que pareceu no começo. Um pouco pelas limitações físicas de Robert, mas muito pelo fracasso técnico do carro feito em Grove. Uma pena.
Robert Kubica, responsável pelo único ponto da Williams (Foto: Williams)
Ainda que a F1 não tenha tido uma luta direta e voraz pelo título, uma vez que ficou claro muito cedo no ano que Hamilton e a Mercedes levariam o campeonato, o 2019 da maior das categorias foi muito melhor que as histórias acima fazem acreditar. O ano que parecia fadado às palavras cruzadas, diante das oito vitórias seguidas dos carros prata no início, ganhou uma reviravolta tão inesperada quanto avassaladora e divertida. A verdade é que 2019 foi o ano das grandes corridas, das grandes performances e dos grandes embates. Seguramente, nenhum outro grande campeonato do mundo viu uma sequência de provas tão alucinante como a que a F1 teve o privilégio de executar entre os GPs da Áustria e da Itália, além da estonteante corrida no Brasil
 
É certo dizer que a F1 irritou com corridas terrivelmente previsíveis, como os odiosos GPs da Espanha, da França e mesmo esse de Abu Dhabi, mas a categoria também fez espectador pular do sofá na épica briga entre Verstappen e Leclerc e naquela chegada em Interlagos. Não dá para reclamar. Foram, sem dúvida, duas temporadas em uma, dá excelência da Mercedes e de Hamilton à reação da Ferrari e da Red Bull, passando pelos imbróglios envolvendo a dupla ferrarista, o motor italiano, acusações dos rivais, o equilibrado pelotão intermediário e até o consenso por um novo regulamento. 
 
E houve também drama. A morte de Charlie Whiting, às vésperas da abertura da temporada, chocou, assim como a perda de Niki Lauda, em maio. Foram golpes duros.
 
Portanto, com as luzes de Abu Dhabi devidamente apagadas, chega também o momento de recontar e destrinchar tudo que a Fórmula 1 ofereceu em 2019. Eis a Retrospectiva do GRANDE PRÊMIO.
 

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