Retrospectiva 2019: Pérez é ponto de equilíbrio de oscilante Racing Point

Ponto de referência na equipe capitaneada por Lawrence Stroll, Sergio Pérez foi um dos grandes destaques da temporada. Filho do dono, Lance Stroll alcançou um surpreendente quarto lugar na Alemanha como melhor resultado, mas como um todo mostrou um desempenho pífio, sobretudo em ritmo de classificação

Sob nova direção e também novo nome, a Racing Point, antiga Force India, viveu um 2019 ainda de transição na Fórmula 1. Comandada pelo consórcio liderado por Lawrence Stroll, a equipe sediada em Silverstone teve lá seus problemas mesmo contando com um aporte financeiro muito mais amplo a partir desta temporada. Depois de um primeiro semestre bastante irregular, o time rosáceo engrenou na segunda parte do campeonato. E apesar do filho do dono, Lance Stroll, ter conquistado o melhor resultado da Racing Point no ano, foi Sergio Pérez o grande ponto de referência e equilíbrio da sétima força do grid.
 
A substituição de Esteban Ocon por Stroll, natural por se tratar do filho do ‘dono da bola’, naturalmente enfraqueceu a equipe. A explosiva dupla de pilotos que o francês formava com ‘Checo’ Pérez rendeu muitas polêmicas, mas também bons resultados como um todo à antiga Force India. No ano passado, mesmo com a crise que culminou com a venda do time para o consórcio liderado por Stroll, os dois somaram, ao todo, 111 pontos.
 
E para complicar mais as pretensões da Racing Point, além da queda do nível técnico com a troca de Ocon por Stroll, havia outros motivos para se preocupar: a ascensão das demais equipes do pelotão intermediário como Toro Rosso e a McLaren.
Com arrancada no segundo semestre, Sergio Pérez foi um dos grandes nomes de 2019 (Foto: Racing Point)

A temporada começou como terminou 2018: Pérez rasgando elogios ao filho do patrão. Ficava a dúvida, porém, se durante o campeonato os dois seriam protagonistas de polêmicas, como aconteceu com o mexicano e Ocon, ou se a relação seria semelhante a que ‘Checo’ viveu com Nico Hülkenberg, bem mais tranquila.

 
Depois de resultados bem discretos nos testes de pré-temporada, Otmar Szafnauer, chefe da equipe, prometeu um carro novo para o GP da Austrália, em Melbourne. A primeira prova do ano mostrou o que seria uma tônica ao longo do campeonato: Pérez muito melhor que Stroll em ritmo de classificação, com o mexicano passando para o Q3, enquanto o canadense acabou sendo eliminado ainda no Q1. Na corrida, contudo, foi Stroll quem beliscou uns pontinhos, enquanto ‘Checo’ foi somente o 12º.
 
Na prova seguinte, no Bahrein, a situação foi ainda mais complicada para a equipe, com os dois pilotos largando na parte inferior do grid: Pérez partiu em 14º, enquanto Stroll foi somente o 18º e penúltimo. Seria uma corrida sem pontos para a Racing Point, mas o duplo abandono da Renault, com Nico Hülkenberg e Daniel Ricciardo deixando a prova em Sakhir com problemas no motor, fez Pérez herdar o décimo lugar nas voltas finais.
 
No fim das contas, ficou o sentimento de que a jornada no Oriente Médio foi muito ruim. A expectativa era de melhora para as próximas corridas. E assim foi, de certa forma, quase sempre com Pérez como protagonista.
 
Em Xangai, no GP 1000 da F1, o mexicano garantiu uma boa oitava colocação. E no GP do Azerbaijão, nas ruas de Baku, onde foi ao pódio em 2018, ‘Checo’ teve excelente atuação: garantiu o quinto lugar no grid de largada e cruzou a linha de chegada em sexto, sendo o ‘melhor do resto’. E mesmo tendo um desempenho mais inconstante, Stroll não foi tão mal e terminou em nono na pista onde garantiu seu melhor resultado na F1, há três anos.
 
Só que a performance em Baku foi um ponto fora da curva, já que a Racing Point só somou pontos depois no GP do Canadá, com o nono lugar de Stroll correndo em casa. Na sequência, veio outra série de corridas longe dos pontos, algo que só foi quebrado no insano GP da Alemanha, que foi marcado por momentos inesquecíveis para a equipe britânica.
Lance Stroll chegou a liderar o GP da Alemanha (Foto: Racing Point)
A corrida começou desastrosa para a Racing Point, que viu Pérez abandonar logo na primeira volta por conta de uma batida. Foi então que Stroll iniciou uma jornada surpreendente depois de ter largado somente em 15º na então chuvosa Hockenheim. Com uma estratégia perfeita de pit-stops ao trocar os pneus de chuva pelos de pista seca no momento certo, Stroll chegou a liderar a disputa e cruzou a linha de chegada em quarto, seu segundo melhor resultado na F1.
 
"Estou muito feliz, mas é chato que o pódio tenha escapado. Eu cheguei a liderar a corrida", destacou. "Um pequeno erro permitiu que Dani [Kvyat] passasse. Foi uma corrida agitada e colocamos o pneu certo com 20 voltas restantes", comentou o piloto, que mencionou o russo, dono do último degrau do surpreendente pódio na Alemanha, que teve ainda Max Verstappen e Sebastian Vettel — depois de o alemão ter largado em último.
 
 "Eu estava guiando com o visor aberto para a volta [anterior à última parada], inspecionei o asfalto para ver se dava para colocar pneus de pista seca. Sabia que poderíamos saltar na frente dos competidores, que ainda estavam de intermediários, e ficaríamos em boa situação", completou, à época, Stroll.
 
O GP da Alemanha acabou por ser o único grande momento de Stroll na temporada. O ‘brilhareco’ do canadense não se repetiu: daí até o fim da temporada, Lance, surrado por Pérez em classificações, somou míseros três pontos: um na Bélgica e dois no Japão.
Sergio Pérez aplicou uma goleada de 18 a 3 sobre Lance Stroll em classificações (Foto: Racing Point)
Pérez, em compensação, foi autor de uma incrível arrancada na volta das férias da F1. Antes da pausa de verão na Europa, o mexicano era o 16º dentre os 19 que haviam pontuado e somava somente 13 tentos, enquanto Stroll tinha 18.
 
Mas tudo mudou a partir do GP da Bélgica, onde ‘Checo’ sempre costuma andar bem. Antes de acelerar em Spa, o piloto assinou a sua renovação de contrato com a equipe. O que mais chamou a atenção foi o tempo do novo acordo, válido até 2022. Futuro mais que garantido por um bom tempo.
 
Na corrida em si, Pérez largou em sétimo, se manteve entre os dez primeiros e contou com os azares de Antonio Giovinazzi e de Lance Stroll para figurar na quinta colocação. Mas, na última volta, graças a uma ultrapassagem incrível feita por Alexander Albon, o piloto de Guadalajara cruzou a linha de chegada em sexto. Mesmo tendo perdido o top-5, foi um resultado pra lá de alentador.
 
Daí em diante, Pérez só foi mal em Singapura, onde até namorou com a zona de pontuação, mas abandonou por conta de um vazamento de óleo. Foi a única corrida em que ‘Checo’ ficou fora dos dez primeiros. Sétimo lugar nos GPs da Itália e Rússia, oitavo no Japão, sétimo de novo correndo em casa, no México, décimo nos Estados Unidos e nono em Interlagos.
 
O desfecho da temporada 2019 para Pérez foi em grande estilo. Com uma atuação memorável, o mexicano conseguiu ser o principal destaque entre os pilotos do pelotão intermediário e lutou até o fim com Lando Norris. A batalha significava muito mais do que a sétima posição na prova, mas um importante lugar no top-10. Com uma manobra arrojada nas últimas curvas, Pérez fez a ultrapassagem sobre o prodígio britânico, finalizou em P7 e terminou em décimo no Mundial de Pilotos. ‘Checo’ somou nada menos que 41 pontos nas últimas nove provas do campeonato, provando novamente que é um dos melhores pilotos do grid, porém subvalorizado e fadado a defender equipes do meio do pelotão.
 
Mesmo assim, ficou um gosto amargo para o mexicano, que entende que 2019 deveria ter sido melhor como um todo. "Não acredito que tenhamos alcançado o que a gente queria nesse ano. Tem sido uma temporada decepcionante de certa forma. Sabíamos que não seria ótimo, uma vez que estamos apenas no começo [da equipe], mas esperávamos ser mais competitivos”, disse.
 
Com uma equipe cada vez mais estruturada, sem problemas financeiros e um bom pacote, ainda mais contando com o sempre forte motor Mercedes, a Racing Point traz uma perspectiva mais positiva para 2020, que pode representar também uma nova mudança de nome caso Lawrence Stroll vire sócio majoritário da Aston Martin, lendária marca britânica que hoje é patrocinadora principal da Red Bull.
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