Retrospectiva 2019: Sem Alonso, McLaren renasce com juventude de Sainz e Norris

Sem a presença do ‘medalhão’ Fernando Alonso, a lendária escuderia de Woking superou a desconfiança com a juventude de Carlos Sainz e Lando Norris e alcançou grande evolução na esteira das chegadas de Andreas Seidl e James Key. Mesmo ainda distante do topo, a McLaren coroou um ano de ascensão com o pódio conquistado no GP do Brasil e a conquista do quarto lugar no Mundial de Construtores, seu melhor resultado desde 2014

A McLaren protagonizou uma das grandes histórias de 2019 na F1. Depois de quatro anos muito difíceis, quando se acostumou à dura realidade de ser figura frequente do fim do grid, a lendária escuderia britânica viu a saída de um ‘medalhão’ como Fernando Alonso, abatido pela falta de resultados e performance, e investiu na juventude de Carlos Sainz e Lando Norris. A nova dupla de pilotos trouxe aos boxes do time de Woking uma leveza e harmonia que pareciam ficção nos tempos de Alonso e, graças ao trabalho liderado por Zak Brown e Gil de Ferran ao promover a reestruturação técnica e trazer dois nomes-chave, Andreas Seidl e James Key, a McLaren de 2019 virou o jogo, fez sua melhor temporada em cinco anos e, se ainda não é uma equipe capaz de lutar novamente por vitórias e títulos, deu seus primeiros passos para chegar lá.
 
Sainz chegou à equipe com 24 anos para ser o jovem líder dentro da pista depois da saída de Alonso. Foi o maior desafio da carreira de Carlos desde que aportou ao grid da F1 em 2015. Pela primeira vez, passava a ter a condição de protagonista em uma escuderia, e logo a McLaren, um time cheio de história, mas também pressionada por si mesma para viver novamente bons momentos no esporte. Norris, por sua vez, estreou no Mundial com apenas 19 anos e como a aposta da McLaren principalmente para o futuro. Prodígio britânico que brilhou nas categorias de base, Lando foi lapidado nos últimos anos pela equipe para ser um novo Lewis Hamilton.
 
Na esteira de um movimento que teve início em meados de 2018, quando Zak Brown trouxe Gil de Ferran e Andrea Stella, liderando assim uma reestruturação que culminou com a saída de Éric Boullier do comando da equipe, chegaram ao longo deste ano duas figuras que foram fundamentais para o êxito da McLaren na temporada. Depois de meses de negociação com a Red Bull, o time britânico conseguiu tirar da Toro Rosso James Key, que assumiu em março a função de diretor-técnico. 
Lando Norris e Carlos Sainz: dupla da McLaren deu muita liga em 2019 (Foto: McLaren)
E Andreas Seidl, responsável direto pelo sucesso da Porsche no Mundial de Endurance, foi contratado para ser o chefe de equipe da McLaren, fazendo com que Brown trabalhasse mais nos bastidores, enquanto Gil partiu para desenhar o projeto da escuderia na Indy, mas ainda uma figura muito presente em Woking.
 
Os resultados dos testes de pré-temporada em Barcelona foram bastante satisfatórios e mostraram uma McLaren competitiva e, principalmente, confiável — eis o grande calcanhar de Aquiles da equipe, sobretudo nos tempos de aliança fracassada com a Honda. Mas a prova que abriu a temporada 2019 trouxe de volta um velho fantasma. Sainz, por exemplo, foi o primeiro piloto a abandonar uma corrida no ano. O espanhol, que largou somente em 18º, completou apenas nove voltas no GP da Austrália e deixou a corrida por conta de problemas no motor Renault. 
 
Norris foi ao Q3 logo na sua estreia na F1, mas não conseguiu pontuar em Melbourne. Mas, duas semanas depois, o novato viveu seu primeiro grande momento na temporada. Com grande atuação no ótimo GP do Bahrein, Lando cruzou a linha de chegada na sexta colocação e mostrou que era possível a McLaren sonhar com uma boa temporada. Mas, ao mesmo tempo, havia motivos de sobra para se preocupar, já que Sainz abandonou novamente quando restavam quatro voltas para o fim por conta de problemas no câmbio.
Andreas Seidl foi contratado por Zak Brown e fez a diferença à frente da equipe (Foto: McLaren)
Carlos desencantou mesmo a partir do GP do Azerbaijão. Em Baku, o dono do carro #55 emendou uma série de ótimas corridas e entregou resultados bastante consistentes: sexto lugar em Mônaco, França e Áustria, Sainz foi ainda melhor na Alemanha e na Hungria ao emendar dois quintos lugares. 
 
Norris também era dono de exibições bem decentes, como no GP da França, onde largou em quinto e esteve em sétimo lugar até duas voltas para o fim, quando foi superado por Daniel Ricciardo, Kimi Räikkönen e Nico Hülkenberg. O estreante terminou em nono depois que Ricciardo foi punido pela direção de prova. Uma semana depois, Lando voltava a brilhar ao terminar o GP da Áustria em sexto. Era, definitivamente, um primeiro semestre muito positivo para a McLaren.
 
A velha falta de confiabilidade derrubou a McLaren na volta das férias da F1. O motor Renault impediu Sainz de completar sequer uma volta no GP da Bélgica. Para Norris, porém, o baque foi muito maior. O britânico se aproximava do melhor resultado da carreira e vinha em quinto até a última volta, quando a unidade motriz francesa abriu o bico, levando o jovem ao desespero e aos gritos.
O trabalho nos pit-stops foi um dos pontos fracos da McLaren em 2019 (Foto: McLaren)
Uma semana depois, no GP da Itália, a McLaren evidenciava um dos seus grandes problemas no ano: a eficiência no trabalho nos pit-stops. Sainz vinha na sexta colocação em Monza quando foi aos boxes para fazer sua troca de pneus. Mas uma das rodas foi mal fixada e acabou por determinar o fim precoce da corrida do espanhol. A McLaren reencontrou o caminho das boas atuações no GP da Rússia, mas no México novamente uma falha no pit-stop tirou as chances de Norris pontuar bem, enquanto Sainz foi prejudicado por uma estratégia que deu muito errado.
 
Mas o melhor estava por vir. O grande momento da McLaren em toda a temporada foi no domingo do GP do Brasil. Um fim de semana que começou muito difícil para Sainz e Norris por conta de um carro que não conseguia ser competitivo o bastante em Interlagos. Na sexta-feira, em entrevista ao GRANDE PRÊMIO, Carlos disse que via o pódio como algo ainda distante mesmo para 2020 e que o objetivo era ao menos diminuir a distância para as equipes de ponta da F1.
 
Veio o sábado e, com ele, mais um problema no motor Renault. Sainz sequer conseguiu abrir volta no Q1 e deve decretada a última posição do grid de largada. Norris não teve melhor sorte, ficou fora do Q3, mas largou em décimo em razão da punição imposta a Charles Leclerc pela troca de componentes do motor.
 
O domingo do GP do Brasil foi histórico para a McLaren e, principalmente, para Sainz. Sem nada a perder, o espanhol fez uma das maiores atuações da vida ao partir de último e galgar posições volta a volta. Além de grandes ultrapassagens, como sobre Sergio Pérez na entrada do S do Senna, Carlos deixou até o companheiro de equipe para trás e superou também os carros da Alfa Romeo — na sua melhor participação em toda a temporada — e a Renault de Daniel Ricciardo. Na última relargada, após do polêmico toque de Sebastian Vettel em Charles Leclerc, o incrível Sainz estava na quinta posição, só atrás de Max Verstappen, Alexander Albon, Pierre Gasly e Lewis Hamilton.
A consagração de um trabalho: pódio com Sainz no GP do Brasil (Foto: Rodrigo Berton/Grande Prêmio)
O incidente envolvendo Hamilton e Albon enterrou a corrida do anglo-tailandês, mas fez Sainz ganhar uma posição e subir para quarto, colocação na qual cruzou a linha de chegada. Mas horas depois do desfecho da corrida, a direção de prova anunciou a punição a Lewis, que havia terminado em terceiro após épico duelo com Gasly até a bandeirada. Carlos Sainz herdou o terceiro lugar em Interlagos e não teve dúvidas: levou toda a McLaren para fazer a merecida festa no pódio, o primeiro desde o GP da Austrália de 2014. A conquista veio justamente uma semana depois que a Petrobras anunciou o rompimento de contrato para fornecimento e desenvolvimento de combustíveis e lubrificantes para a equipe britânica.
 
O quarto lugar no Mundial de Construtores, também melhor resultado desde 2014, estava garantido, mas ainda havia mais a disputar. Sainz lutava contra Albon e Gasly pela sexta posição do Mundial de Pilotos, o que seria um feito e tanto pelo fato de seus concorrentes terem corrido, em algum momento da temporada, com o forte carro da Red Bull. E Carlos terminou o GP de Abu Dhabi em décimo lugar depois de ter ultrapassado a Renault de Nico Hülkenberg na última volta para marcar justamente o ponto que lhe deu o sexto lugar no campeonato, sendo o ‘melhor do resto’ e campeão simbólico da F1 B. Norris, por sua vez, acabou perdendo o top-10 do seu primeiro Mundial depois de ter sido superado pela Racing Point de Sergio Pérez, também na volta derradeira, mas nada que apague a boa temporada feita pelo jovem britânico.
 
No fim das contas, a McLaren somou 145 pontos em 2019. Números importantes e que poderiam ter sido bem maiores se não fosse pelas quebras e problemas nos pit-stops apresentados ao longo do ano. Para se ter uma ideia, a soma da pontuação da equipe entre 2015 e 2018 foi de 195 tentos, o que é mais uma evidência do quanto a McLaren evoluiu em 2019.
 
Com resultados alentadores, uma dupla de pilotos que deu muita liga, Norris com muita margem de melhora e Sainz no seu melhor momento, além de uma liderança incontestável e eficaz, a McLaren definitivamente renasceu para a F1. E, ao mesmo tempo em que busca consolidar sua posição de quarta força na próxima temporada, já tem boa parte das suas atenções voltadas para 2021, quando, ao contar novamente com a Mercedes como fornecedora de motores, sonha em reviver seus melhores dias no esporte.

Paddockast # 45
OS MELHORES E OS PIORES PILOTOS DA F1 2019

Ouça: Spotify | iTunes | Android | playerFM

Chamada Chefão GP Chamada Chefão GP 🏁 O GRANDE PRÊMIO agora está no Comunidades WhatsApp. Clique aqui para participar e receber as notícias da Fórmula 1 direto no seu celular! Acesse as versões em espanhol e português-PT do GRANDE PRÊMIO, além dos parceiros Nosso Palestra e Teleguiado.