Retrospectiva 2021: Alonso prova que merece F1 aos 40 e ainda tem lampejos de gênio

Pódio no Catar e corre em Lewis Hamilton na Hungria são destaques de uma temporada em que Fernando Alonso mostrou que ainda pertence

ALONSO + OCON: A CHAVE DA ALPINE PARA A F1 2022 | GP às 10

A temporada de Fernando Alonso começou como grande incógnita. Após rodar o mundo com novas atribuições nos dois anos em que esteve fora do grid, o retorno à Fórmula 1 no ano em que completaria 40 de idade era visto com um misto de animação e desconfiança. Com as 22 corridas do calendário na conta, é possível afirmar que Alonso chega ao Natal maior do que entrou 2021: o regresso foi um sucesso.

É fácil entender os motivos que fizeram o retorno de Fernando causar sentimentos tão diferentes. Um dos pilotos mais talentosos de sua geração de todos os tempos, o bicampeão mundial é nome e figura muito grande e seguido por legião de fãs desde os tempos da ‘Fernandomania’. A desconfiança, também simples de entender, pela idade, o tempo fora e o fim um tanto quanto melancólico da primeira vida na F1.

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Importante para mapear justamente as possibilidades e os pecados de um piloto é entender os motivos da melancolia finalizada com a saída da McLaren no fim de 2018. Alonso não demonstrava ter perdido o pé, a velocidade não sumira e ele não começou a ser superado por companheiros de equipe. Alonso ainda mandava na McLaren e, em dados momentos, dava um caldo do que havia sido antes, mas a situação era dramática. A McLaren tinha um carro deficitário em praticamente todos os aspectos mesmo após se livrar dos então problemáticos motores Honda. A relação já não era das melhores ao menos no aspecto esportivo, embora Fernando e o CEO do time inglês, Zak Brown, serem próximos. Trocando em miúdos, Alonso ainda estava ali.

Do bump na Indy ao sucesso no Dakar, passando pelo domínio no WEC, havia reiterado durante a ausência que essa afirmação ainda era verdade: o piloto dos velhos tempos estava ali. E a Alpine ligou. Foi lá, então como Renault – companhia-mãe da Alpine – que Alonso viveu os melhores momentos da carreira: os títulos mundiais de 2005 e 2006. Era a chance de voltar para casa.

O Alonso de 2021 foi um homem diferente, os dois anos fora fizeram efeito. É simples compreender que a pressão pelo tricampeonato mundial que nunca chegou agia firme, cada vez mais com os anos, na primeira passagem do espanhol. A decepção em 2007 na primeira passagem McLaren, o quase na Ferrari em 2010 e 2012, tudo isso atiçou o público ainda mais e pesava ainda mais quando a McLaren não conseguia sair do buraco. Era claro que Alonso não conquistaria o tri, não tinha vaga em time grande e quem podia ter não queria contar com ele. “Alonso não conquistou mais títulos por conta da personalidade que atrapalhava a equipe”, foi algo que todo mundo escutou e muita gente disse. Aquele Alonso de 2018 era um Alonso de fim de festa.

Fernando Alonso ainda tem lugar na F1 (Foto: Alpine)

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O ‘novo’ Alonso, de 2021, conseguiu um distanciamento histórico que fez muito bem. Em vez de cobrar o tri, muita gente aproveitou o tempo para lembrar das boas memórias e como ter Fernando era bom para a F1. Bom, claro, por ser grande piloto e personagem irresistível. O retorno trouxe um piloto sem tanto peso e sem as expectativas de que ganhe corridas ou campeonato. Como outros bons pilotos em novas equipes, o que se espera de Fernando é liderança e que tire do carro o que ele pode dar. Isso, fez. E ainda entregou uma relação extremamente próxima ao ainda jovem companheiro de equipe Esteban Ocon, algo que Alonso nunca tivera antes.

Por isso, embora a primeira parte do campeonato tenha sido complicada até pegar a mão do carro azul da Alpine, Alonso se acostumou e passou a andar constantemente na frente de Ocon. No GP da Hungria em que a sorte sorriu para a equipe, Esteban venceu e foi o destaque. Mas Alonso foi protagonista do embate do dia, quando segurou Lewis Hamilton com a habilidade de um decano e durante longo período. O tempo que prendeu a recuperação de Lewis garantiu a vitória de Ocon na frente. Alonso foi quarto – terminou em quinto, mas subiu um posto com a desclassificação de Sebastian Vettel.

“Fernando foi o inferno na Terra! Foi um confronto incrível, bem no limite ao menos uma vez, mas ótimo. Hungaroring permite ótimas brigas de roda com roda – e foi literalmente roda com roda [com Alonso] uma vez. É provavelmente um dos pilotos mais complicados [de passar], mas justo”, afirmou Hamilton depois do duelo.

Por muito tempo, o GP da Hungria foi o único em que a Alpine conseguiu se esgueirar no top-5 durante a temporada. Mesmo assim, após o recesso do verão europeu, Alonso ficou no sexto lugar em Holanda e Rússia, enquanto Ocon tinha dificuldades. Os resultados podiam não chamar a atenção naquele momento, mas eram os melhores possíveis para a equipe e seu decepcionante bólido.

O GP do Catar, já na perna final do campeonato, chegou para sublinhar a temporada de bom rendimento do piloto natural de Oviedo, nas Astúrias. Ser o melhor do resto, atrás somente de Hamilton e Max Verstappen e subir e completar o pódio com o mundo vendo, no meio da briga fumegante pelo título, valeu demais. Quebrado, então, um jejum de sete anos sem pódios na F1.

Fernando Alonso ainda tem contrato para 2022 (Foto: Alpine)

“Inacreditável! Faz sete anos…”, falou logo após sair do carro em Losail. “Finalmente conseguimos. Ficamos perto em algumas corridas, mas não foi o suficiente. Porra! Eu estava esperando há tanto tempo por isso”, comemorou.

“O pódio dele era algo que estávamos esperando há muito tempo, para ser sincero”, comentou o diretor-executivo da Alpine, Marci Budkowski. Todos concordam que a pilotagem de Fernando neste ano merecia esse pódio, então é ótimo vê-lo lá em cima”, fechou.

Mesmo com menos pontos de Pierre Gasly, brilhando numa AlphaTauri que foi melhor que a Alpine durante quase o ano inteiro, Fernando e Ocon conseguiram fazer o time francês bater o italiano pelo quinto lugar do Mundial de Construtores. A vantagem ficou em ter dois pilotos pontuando dentro do possível enquanto Yuki Tsunoda, parceiro de Gasly na AlphaTauri, deixou a peteca cair.

Alonso pontuou em 15 das 22 corridas e fez 81 pontos, sete a mais que Ocon. Os dois terminaram, respectivamente, no décimo e 11º lugares do Mundial de Pilotos. E Alonso convenceu quem acompanhou de perto, tanto de fora da equipe quanto de dentro. Gente que entende muito, inclusive.

“Para mim, ele é o melhor piloto na pista”, elogiou o tetracampeão mundial e consultor da Alpine, Alain Prost. “A visão geral que ele tem de corrida é inacreditável, assim como o entendimento dos pneus, o feedback sobre o carro e a forma como informa os engenheiros. Fernando me disse que se tornou uma pessoa diferente [no período fora da F1], e devo dizer que é verdade. Está totalmente a serviço da equipe”, finalizou.

O novo Alonso, quarentão, merece a vaga e torna a F1 mais interessante.

Paddockast #134: F1 2021: a melhor temporada de todos os tempos
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