Retrospectiva 2021: Verstappen coroa ano de gala e é novo campeão com polêmica na F1
Max Verstappen quebrou uma hegemonia que durava desde 2014 e foi o primeiro piloto não-Mercedes a ser campeão na era híbrida de motores ao derrotar Lewis Hamilton em decisão polêmica
Dez vitórias, dez poles e um total de 18 pódios em 22 GPs. A temporada 2021 foi absolutamente dourada para Max Verstappen, que conquistou seu primeiro título mundial de Fórmula 1 aos 24 anos, 2 meses e 12 dias depois de superar o maior vencedor da história, Lewis Hamilton, em uma batalha ferrenha que terminou em decisão dramática e polêmica no GP de Abu Dhabi. Com a Red Bull, o piloto quebrou duas algumas marcas históricas: Max foi o primeiro holandês campeão do mundo, o primeiro competidor não-Mercedes a conquistar o título na era híbrida, que vigora desde 2014, e foi quem conseguiu quebrar a hegemonia de Hamilton, que enfileirou quatro títulos em série entre 2017 e 2020.
2021 começou para Verstappen com um novo companheiro de equipe na Red Bull. Depois de tentativas que não deram certo com os jovens Pierre Gasly e Alex Albon, a equipe chefiada por Christian Horner optou pela experiência ao salvar Sergio Pérez do desemprego e colocá-lo no segundo carro do time. As missões do mexicano: impulsionar Max e ajudar o holandês na luta pelo título contra a Mercedes e Hamilton.
Por outro lado, o próprio Verstappen abriu 2021 diante de uma cláusula de performance que permitia sua saída da Red Bull ao fim do ano. Em linhas gerais e simples, se o piloto não tivesse condições de lutar pelo título e de ter um carro competitivo às mãos para brigar por vitórias do início ao fim, então sua saída da equipe — com a qual tem contrato até 2023 — seria permitida.
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Mas em todos os momentos, seja nos testes de pré-temporada ou no campeonato em si, Verstappen se mostrou forte e competitivo o bastante para indicar que, sim, seria possível lutar pela primeira vez pelo título da Fórmula 1.
Os testes no Bahrein indicaram a Red Bull em grande forma, com Verstappen voando a cada volta a bordo do ótimo RB16B, e a Mercedes no puro sofrimento em razão das mudanças sutis na configuração aerodinâmica com um arisco W12 para 2021. Foi diante deste cenário que Max abriu a temporada como favorito, em que pese o confronto contra uma Mercedes forjada pela excelência e notória capacidade de reação.
Verstappen, de fato, começou a temporada melhor que Hamilton. O holandês cravou a pole do GP do Bahrein e travou um empolgante duelo contra Lewis ao longo da corrida. Mas a Mercedes pegou a Red Bull no contrapé na estratégia, enquanto Max passou o adversário de forma irregular e teve de devolver a posição. Mesmo com melhor ritmo, o piloto do carro #33 não conseguiu esboçar uma outra tentativa de ultrapassagem e viu Hamilton vencer a disputa por apenas 0s7 de frente.
A forma como tudo se desenrolou no Bahrein foi a tônica do que marcaria toda a temporada, que pendeu ora para um lado, ora para outro.
Veio então o GP da Emília-Romanha, com a primeira vitória de Verstappen. A situação foi inversa em Ímola: Hamilton largou na pole, Max tomou a ponta e partiu para a vitória. Naquele domingo chuvoso, Lewis cometeu um erro que poderia ajudar o holandês a abrir muita vantagem na tabela de pontos. Só que o britânico se recuperou, foi beneficiado pela regra de tirar uma volta para o líder em regime de safety-car e ainda conseguiu terminar em segundo.
Líder do Mundial pela primeira vez
A primeira parte da temporada se desenrolou com vitórias para Hamilton, mas sempre com disputas duras contra Verstappen em Portugal — onde o piloto cometeu um erro que lhe tirou a chance de marcar a pole — e, principalmente, na Espanha, onde o holandês foi caçado pelo adversário nas voltas finais. O prejuízo foi reduzido com dois segundos lugares e a volta mais rápida em Barcelona. O jogo começou a virar em Mônaco, onde a Mercedes teve atuação sofrível e a Red Bull andou bem, sobretudo com Max, em todo o fim de semana no Principado, onde mora.
Enquanto Hamilton esteve irreconhecível e não passou do sétimo lugar na classificação e na corrida, Max foi soberano: largou na frente — beneficiado pelo acidente e pela troca de câmbio do carro do pole Charles Leclerc — e liderou todas as 78 voltas da corrida. Foi a primeira vez que o holandês assumiu a liderança do Mundial de Pilotos.
Liderança que poderia ter sido ampliada de forma significativa no GP do Azerbaijão, outra prova que teve Leclerc como pole-position. Em grande tarde da Fórmula 1 em Baku, Max teve enorme atuação e partia para uma vitória certa quando o pneu traseiro esquerdo estourou no meio da reta e lhe tirou a chance de um triunfo muito importante para o campeonato. A cena do piloto chutando o pneu do próprio carro foi emblemática. O estrago só não foi maior porque, na relargada a duas voltas para o fim, Hamilton errou ao acionar o chamado ‘modo mágico’ do freio, viu Pérez passar e assumir a ponta para vencer. Lewis também não pontuou no Azerbaijão.
A trinca de ouro
A primeira rodada tripla da temporada mostrou o quão fortes estavam Verstappen e a Red Bull. Implacável, o holandês venceu os GPs da França, Estíria e Áustria e abriu enormes 32 pontos de vantagem para Hamilton. O campeonato ainda estava no começo, com apenas nove GPs disputados e outros tantos pela frente, mas o cenário que se desenhava era de Max como favorito ao título, enquanto Hamilton teria de correr atrás do prejuízo em busca do octa.
Pela primeira vez desde o esboço de luta pelo título que travou com Sebastian Vettel em 2017 e 2018, Hamilton tinha um adversário de verdade na Fórmula 1. A disputa, admitiu o próprio heptacampeão, “revigorou seu amor” pela Fórmula 1.
O GP da Inglaterra poderia representar um divisor de águas para os dois lados. Se Verstappen vencesse, representaria quase um xeque-mate nas pretensões de Hamilton. Mas um triunfo do heptacampeão diante dos seus fãs em Silverstone poderia mudar novamente um quadro muito favorável ao rival.
Guerra declarada
Foi nesse contexto que aconteceu a primeira grande polêmica, de fato, entre os dois protagonistas ao título. A batida na curva Copse na primeira volta da corrida de domingo fez Verstappen parar no muro de proteção, com impacto violentíssimo. Hamilton foi punido, mas venceu a prova. Mas a rivalidade entre os dois estava, finalmente, consumada. A guerra entre Red Bull e Mercedes era tudo o que o universo da F1 queria ver há tempos.
Verstappen e a Red Bull reclamaram muito da postura de Hamilton, que não teria se solidarizado e por não ter pedido desculpas ao holandês, que chegou a ser levado para o hospital e por lá passou uma noite após o acidente. Irritado com a atitude do rival, Max até mesmo o bloqueou de sua conta no Instagram.
Max partiu para Budapeste com 8 pontos de vantagem para Hamilton no Mundial de Pilotos. Só que o jogo virou depois de um empolgante e confuso GP da Hungria, em que Lewis largou na frente, Verstappen teve de trocar o motor após o acidente em Silverstone. Para piorar, o holandês foi uma das vítimas do strike promovido por Valtteri Bottas na largada, teve sua corrida comprometida e marcou dois pontos com o nono lugar. A sorte do holandês é que foi uma corrida caótica em razão da chuva e que Hamilton não venceu O piloto da Mercedes foi o terceiro em prova vencida de forma surpreendente por Esteban Ocon, da Alpine. Hamilton reverteu a desvantagem e partiu para as férias de verão com 8 tentos de frente para o rival.
Com tudo o que não aconteceu no GP da Bélgica, talvez nem valha a menção à prova, que teve Verstappen como vencedor na corrida de apenas uma volta e pontos distribuídos pela metade. Uma semana depois, porém, Max correu de Fórmula 1 pela primeira vez em casa. Diante do mar laranja de torcedores que lotaram as arquibancadas em Zandvoort, o dono do carro #33 da Red Bull largou na pole, não deu chances a ninguém e conquistou uma vitória fulminante. De quebra, Verstappen recuperou a liderança do campeonato por apenas 3 pontos de vantagem.
O líder do campeonato partiu para Monza ciente que o fim de semana italiano seria todo de favoritismo da Mercedes. Entretanto, nesta temporada cheia de altos e baixos e de grandes viradas, Max deu a volta por cima graças principalmente ao erro de Hamilton na largada da segunda corrida sprint do ano. Bottas venceu a prova rápida de sábado, foi punido e caiu para o fim do grid por conta da troca de motor. Verstappen, de azarão, largou na pole-position na corrida principal, no domingo.
Novamente, ninguém poderia imaginar o que estava por vir. Primeiro porque a prova foi surpreendente dominada por Daniel Ricciardo, da McLaren, e no mérito. Segundo, Mercedes e Red Bull foram lentas em suas paradas para troca de pneus e sem querer colocaram Verstappen e Hamilton muito próximos em disputa por posição após o pit-stop do holandês. Nenhum dos dois cedeu na entrada da chicane da curva 1, palco da mais nova e explosiva polêmica entre os rivais, que abandonaram a corrida. Daquela vez, Max deu as costas para Hamilton depois de ver o carro da Red Bull encaixotado em cima da Mercedes, com uma das rodas a acertar o capacete de Hamilton.
Sorte de campeão
Ao longo da temporada, em um momento que se encaminhava para a decisão, Verstappen teve momentos de enorme azar, como no Azerbaijão ou na Hungria, mas o GP da Rússia foi prova de que a sorte de campeão estava ao seu lado. Na última vez em que a Red Bull trocou o motor do holandês, punido com a perda de posições no grid, Max largou na rabeira em Sóchi. A prova parecia ter vitória certa destinada a Lando Norris, que fez brilhante jornada no Parque Olímpico, mas a chuva que apareceu nas voltas finais mudou tudo. Hamilton passou o prodígio da McLaren depois da troca de pneus no momento certo e venceu, mas a grande reação foi a de Verstappen, que estava apenas em sétimo nas voltas finais e deixou muita gente para trás. O holandês reverteu um revés que lhe parecia certo e arrancou um segundo lugar com gosto de vitória.
O GP da Turquia foi outra prova muito favorável a Verstappen mesmo sem ter vencido. Bottas largou na pole, surpreendeu com atuação brilhante e arrancou para sua última vitória com a Mercedes. Max foi o segundo e viu Hamilton ficar somente em quinto lugar. Foi o que bastou para o taurino retomar a liderança do campeonato, posto que jamais deixaria dali em diante, e abrir 6 tentos de frente para Lewis.
A passagem de Verstappen pelas Américas começou arrasadora com vitória no GP dos EUA após segurar Hamilton no peito e na raça e com o triunfo no México, onde Max passou Lewis e Bottas na largada para não mais ser superado e garantir uma conquista maiúscula para a Red Bull no retorno da F1 ao Autódromo Hermanos Rodríguez. Naquela ocasião, o jovem europeu somava 312,5 pontos, contra 293,5 de Hamilton, em vantagem construída de 19 pontos com quatro corridas para o fim da temporada.
Mas Hamilton fez o que parecia ser impossível e emendou três vitórias em seguida: brilhou com uma verdadeira apoteose em Interlagos, dominou o novo GP do Catar e superou Max depois de batalha polêmica com direito até a um brake-test do holandês em trecho de reta no GP da Arábia Saudita. A rivalidade visceral entre os dois proporcionou uma decisão que a F1 não vivia desde 1974, com seus principais concorrentes empatados em pontos, com 369,5 tentos para cada, rumo à corrida derradeira da temporada.
Em toda a semana que antecedeu ao GP de Abu Dhabi, muito se discutiu sobre a possibilidade de uma batida definir o campeonato. Muito dessa discussão foi em razão do brake-test feito por Max em Jedá e também pelo fato de o holandês ter uma importante vitória de vantagem para Hamilton (9 a 8) no primeiro critério de desempate.
Um dia para a história
O que aconteceu em Yas Marina no histórico 12 de dezembro ainda está na retina. A ultrapassagem de Hamilton em cima do pole Verstappen na largada, a polêmica da primeira volta, a disputa do britânico contra um aguerrido ‘Checo’ Pérez, que lutou como nunca para ajudar Max a se aproximar, em estratégia que deu certo. Depois, mesmo com pneus duros novos, o piloto da Red Bull não conseguiu tirar a diferença que o separava de Lewis, que caminhava para um certeiro octacampeonato quando tudo mudou após a batida de Nicholas Latifi na curva 14 a cinco voltas para o fim. Naquele momento, a Red Bull deu o pulo do gato ao chamar Max para trocar os pneus duros pelos macios e tentar o bote final.
Veio aí a polêmica que mudou a história do campeonato e dos próprios rumos da Fórmula 1 quando o diretor de prova Michael Masi em princípio não permitiu que os cinco pilotos que estavam entre Hamilton e Verstappen descontassem a volta para o líder e, uma volta depois, autorizou a medida, mas apenas para esses pilotos e não para os demais que tinham uma volta de atraso para Lewis, cenário que levou Toto Wolff à fúria.
A decisão do título ficou para a última volta. Com pneus em melhor estado e bem mais rápidos que os de Hamilton, Verstappen precisou de apenas algumas curvas para fazer a ultrapassagem. Lutador, Lewis não desistiu e tentou recuperar a posição, mas foi presa fácil para o rival. Depois de 22 GPs e de uma rivalidade que já entrou para a história, Max Emilian Verstappen venceu o GP de Abu Dhabi e conquistou o título mundial de Fórmula 1 pela primeira vez na carreira.
A Red Bull comemorou muito, enquanto a Mercedes protestou duas vezes, teve tais protestos rejeitados pela FIA e ameaçou até mesmo apelar junto ao Tribunal Arbitral do Esporte, o que acabou não acontecendo. Foram dias de silêncio por parte da equipe alemã, que se sentiu roubada, mas decidiu não entrar na justiça esportiva para contestar o título. Max foi coroado campeão do mundo em cerimônia que teve o desprezo de Toto Wolff e Lewis Hamilton como um reflexo do inconformismo sobre como tudo se desenrolou em Abu Dhabi.
Para Verstappen, entretanto, 2021 terminou com a realização de um sonho de infância: entrar no panteão dos grandes campeões da principal categoria do esporte a motor.
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