Retrospectiva 2023: McLaren vive reviravolta tardia e perde chance de ouro na F1
A McLaren foi a equipe que mais cresceu na temporada 2023 da F1. Depois de um início sofrível, a esquadra inglesa superou a transição de chefia, se reorganizou e conduziu uma evolução poucas vezes vista ao longo de um campeonato. E poderia ter sido ainda melhor não fosse a demora em fazer o MCL60 engrenar
Quando Andrea Stella e Zak Brown falaram que o desenvolvimento do MCL60 estava atrasado e que seria necessário um pacote de atualizações antes mesmo de a temporada 2023 começar, a ideia de que a McLaren atravessaria outro ano de fracasso ganhou força e não há culpados nisso. De fato, o novo carro se mostrou desequilibrado e pouco competitivo. Ainda durante os testes, em fevereiro, ficou claro que ali havia muito trabalho a ser feito, e a queda de Oscar Piastri no Q1 da primeira classificação ano apenas corroborou a tese de que, tal como algumas rivais, a esquadra laranja também havia errado a mão.
A McLaren vivia sob o impacto de grandes mudanças. Havia perdido Andrea Seidl, pilar da reestruturação técnica após os anos conturbados de Fernando Alonso e Honda, e procurava se adaptar aao estilo diferente do novo chefe, Andrea Stella — engenheiro italiano de larga experiência, mas que jamais havia ocupado um posto tão alto. Além disso, também lidava com a saída precoce de Ricciardo e a chegada de um balado novato, para compor uma jovem dupla com Lando Norris. No meio de tudo isso, um novo projeto para o segundo ano do regulamento do efeito solo na F1 estava em curso.
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De fato, dois pontos chamaram muita a atenção nessa fase. O primeiro foi a extrema sinceridade de Brown, ao reconhecer as falhas de concepção do novo carro. “É difícil saber para onde estamos indo até começarmos. Já estabelecemos algumas metas de desenvolvimento que não atingimos. Como todos, temos muito a fazer. Acho que vamos para a primeira corrida sem alcançar nossas metas projetadas e é difícil saber o que exatamente isso significa”. O segundo foi uma revisão de vários elementos do modelo laranja logo depois da pré-temporada.
Diante desse cenário, o começo de campeonato da McLaren foi desastroso. Piastri sequer completou a prova inicial, no Bahrein, por problema elétrico. Já Norris foi o último colocado, duas voltas atrás do vencedor Max Verstappen. Na Arábia Saudita, o déficit aerodinâmico ficou mais claro nas longas retas do circuito urbano. Uma tragédia. E os primeiros pontos vieram apenas na terceira corrida, na Austrália, mas graças a uma prova maluca, com bandeiras vermelhas e um fim tumultuado.

Nessa fase, a F1 viveu um longo intervalo entre a etapa em Melbourne e o GP do Azerbaijão. Foi aí que a Stella enfim foi capaz de estabelecer uma reorganização técnica na fábrica, substituindo nomes importantes e reconduzindo engenheiros e o setor aerodinâmico. Então, para Baku, a McLaren levou seu primeiro pacote de novidades, que focava em velocidade de reta. E embora não tenha sido determinante e nem um sucesso, as atualizações mostraram um caminho.
A partir daí, o trabalho de revisão do projeto começou de fato. Os resultados oscilaram, dependendo muito da combinação traçado, gama de pneus e temperatura. Foi assim até o GP da Áustria, o primeiro ponto de virada dos britânicos — inicialmente apenas no carro de Lando. Na verdade, o chefe italiano fez um planejamento em três etapas para as atualizações. Tudo metodicamente pensado para uma melhor adaptação do carro a pistas mais velozes, seletivas e de baixa velocidade.
Não à toa, a performance começou a aparecer e para ambos os pilotos, porque Piastri também passou a receber as novidades. Norris conseguiu um quarto lugar no Red Bull Ring e ainda ficou com a segunda posição nos GPs da Inglaterra, marcado por uma belíssima largada, e da Hungria. Na Bélgica, foi sétimo depois de fazer uma corrida de recuperação e apostar em uma errada configuração que não lhe permitia alcançar altas velocidades nas retas.

Já Oscar aproveitou o novo pacote e o fato de conhecer melhor as pistas europeias para também crescer no ano de estreia, que vinha um pouco aquém — embora seja justo pontuar que o carro deixou a desejar nas provas iniciais. Com as atualizações em Silverstone, o piloto #81 passou a brigar por pódios, liderou a corrida sprint em Spa-Francorchamps e somou 27 pontos em três corridas – marca que poderia ser maior não fosse o incidente com Carlos Sainz na primeira volta do GP da Bélgica.
Neste ponto do campeonato, pouco antes da pausa das férias, a ascensão da McLaren ainda era vista com alguma reserva, apesar de impressionante. O problema é que a F1 acompanhava uma espécie de montanha-russa de performances de equipes de ponta como Mercedes e Ferrari, além da sensação Aston Martin. As três se revezavam no posto de ‘melhor do resto’, uma vez que a Red Bull e Verstappen seguiam firmes e fortes à frente.
Mas essa sensação não durou muito após o retorno dos trabalhos. A McLaren continuou crescendo e chegou a um patamar muito interessante em termos de desempenho. Entrou em uma disputa franca e aberta com a Ferrari em Singapura, depois de duas etapas em que poderia ter feito mais, como na Holanda, em que enfrentou problemas de estratégia. Depois, no Japão, também se apresentou forte, especialmente com Norris nas duas ocasiões. Já no Catar foi Piastri quem brilhou ao vencer a sprint em um fim de semana muito forte do time laranja. Mas ambos foram ao pódio na corrida principal.

A reta final da temporada consolidou a esquadra inglesa, mas também deixou evidente os pontos que vão precisar de atenção em 2024, se o time quiser realmente encarar a Red Bull. Embora talentoso, rápido e líder da equipe, Norris deixou escapar a chance de vitória em pelo menos duas oportunidades. Ambas por hesitar em uma briga direta com Verstappen. Aconteceu nos EUA e também em São Paulo.
Ainda assim, conquistou pódios importantes, o que ajudou a McLaren a escalar o pelotão até a quarta colocação — curiosamente a meta estabelecida por Zak lá no começo do ano, quando o cenário ainda era incerto. Também é importante dizer que o time poderia até ter ido mais longe, mas a demora em engrenar em 2023 tirou uma chance de ouro. Isso é fato.
E mesmo que as duas provas finais tenham se mostrado aquém da capacidade da esquadra laranja, o ano dos ingleses de Woking foi altamente positivo e deixou a impressão de que, se os ajustes funcionarem, a McLaren tem tudo que é preciso para encarar a Red Bull em 2024, em nova reviravolta.
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