Retrospectiva 2023: Williams lava honra com Albon, mas derrapa ao insistir em Sargeant
Em processo de renovação, a Williams teve de encarar as fraquezas expostas e aceitar que a realidade de 2023 seria lutar para fugir da lanterna. Contudo, empurrada por um aguerrido Alexander Albon, lavou a honra ao terminar em sétimo lugar, mas terá de torcer para Logan Sargeant ao menos parar de dar prejuízos para sonhar com um 2024 melhor
Já fazia tempo que a Williams não sabia o que era terminar uma temporada da Fórmula 1 sem ser no penúltimo ou no último lugar. Mais precisamente 2017, quando a equipe de Grove alcançou um convincente quinto com Felipe Massa, em sua temporada derradeira na categoria, e Lance Stroll, hoje na Aston Martin. Eram outros tempos, ainda sob o comando da família Williams antes do grupo de investimento Dorilton Capital assumir o controle, em 2020.
Tempos que também já passavam longe, muito longe da glória atingida nas décadas de 1980 e 1990. A verdade é que aquela Williams, definitivamente, ficou perdida em algum lugar do passado. É por isso que o sétimo lugar obtido no Mundial de Construtores da temporada 2023, a melhor posição desde aquele 2017, foi tão significativo para a esquadra inglesa.
Relacionadas
Foi preciso, porém, trocar algumas peças, a começar pelo comando. Saiu Jost Capito para a entrada de James Vowles com a alcunha de nada menos que ex-diretor de estratégia da Mercedes. E por mais que o projeto de 2023 já estivesse pronto, o britânico foi pouco a pouco promovendo uma das mudanças mais importantes quando se busca resultados: a de pensamento.
“Ele tem sido grande parte disso. Na verdade, com o carro em si, muitas coisas, muitas atualizações foram projetadas no ano passado, antes mesmo de ele entrar para a equipe. Então, o que se vê agora são pequenos detalhes em que James está trabalhando, estratégia, os pneus, o motor, a experiência na redução de peso que ele teve com a Mercedes, tudo isso tem sido um grande benefício para nós”, contou Albon ao GRANDE PRÊMIO durante a passagem da F1 por Interlagos, em novembro.
Assim que chegou nas instalações na Inglaterra, todavia, um susto: mesmo com toda a tradição no grid da categoria considerada a elite do automobilismo mundial, a infraestrutura da Williams era tão obsoleta que não foi possível sequer acompanhar o desenvolvimento gradativo da própria classe. 2022 trouxe de volta o efeito-solo, tornando o assoalho um dos itens principais no trabalho da aerodinâmica do carro. Pois eis que uma batida no TL3 da Espanha revelou ao mundo parte da razão para a completa falta de competitividade do FW45: um fundo tão simplório que praticamente concretizava o termo “inadequado” usado por Vowles ao se referir aos softwares de Grove.
“Estamos claramente carentes de detalhes em relação aos nossos concorrentes. Mas você não precisaria ver a parte inferior do assoalho para saber disso, você pode ver pelos tempos. Isso é fundamentalmente uma característica do equilíbrio e do desempenho do carro, e do efeito-solo ao mesmo tempo. E grande parte disso tudo é gerado pelo assoalho”, disse o chefe da equipe na ocasião.
“Entender o que seus concorrentes fazem ao obter uma imagem disso e simplesmente copiar não ajudará. Pode dar uma vantagem instantânea, uma compreensão de onde você deve estar avançando, mas se você não entender a ciência e o raciocínio por trás disso e a dinâmica de fluxo, você terá apenas um instante no tempo ao invés de uma ideia de como desenvolver consistentemente para se tornar não apenas tão bom quanto eles, mas melhor”, acrescentou.
Há quem defenda que, na vida, não existem coincidências, porém a Williams partiu para o tudo ou nada no Canadá, etapa seguinte à Espanha, adiantando uma atualização preparada, vejam só, para o assoalho! Mas acontece que a aposta foi mais que acertada. Alexander Albon cruzou a linha de chegada em sétimo, repetindo a posição de Nicholas Latifi na Hungria, em 2021.
E duas corridas depois, lá estava novamente o tailandês na zona de pontuação. Ao todo, foram oito idas ao top-10 que catapultaram a Williams para o sétimo lugar no campeonato das equipes.
“Sinto que, no momento, quando temos uma chance de marcar pontos, assim fazemos, temos ido muito bem no ano. Não acho que tivemos sempre um carro para marcar pontos, mas quando as oportunidades surgem, abandonos ou mudanças nas condições climáticas, temos estado sempre lá para capitalizar. Equipe e piloto, nós não somos um sem o outro. Então, no final das contas, equipe e carro melhoraram muito desde o último ano. E isso me ajuda a marcar esses pontos. Obviamente por ser um pouco mais previsível, sinto que posso extrair um pouco mais de performance do carro com a pilotagem, mas também há mais downforce comparado ao último ano”, acrescentou Albon ao GP.
Mas se por um lado, a Williams podia confiar que Albon resolveria a parada quando houvesse a menor oportunidade, o resultado final só não foi melhor porque a equipe ficou completamente a mercê de um único piloto. O time inglês viu uma discrepância sem igual entre os seus competidores, pois do outro lado, Logan Sargeant, pupilo da academia, foi jogado à cova dos leões por conta do desespero da Fórmula 1 atual em ter um prodígio norte-americano para conquistar de vez o exigente mercado dos Estados Unidos.
A promoção de Sargeant à F1 depois de apenas um ano completo na Fórmula 2 foi cruel. Primeiro porque o americano em nenhum momento mostrou ser um grande fenômeno para justificar tal movimento, mas fez um campeonato decente no ano que coroou Felipe Drugovich como campeão da categoria. Uma segunda temporada, portanto, certamente o levaria para as cabeças e ajudaria a criar mais casca, só que nada disso foi respeitado. E o risco de uma estreia na F1 totalmente fora de hora é que ela não perdoa.
Além da lavada que tomou de Albon tanto nas classificações quando nas corridas, Sargeant ainda fechou o ano como o piloto que mais prejuízo deu à sua equipe: US$ 4,33 milhões (cerca de R$ 21,2 milhões na cotação atual). Em dado momento, quando a inevitável pressão por resultados frente aos pontos do companheiro apareceu, Logan entrou numa espiral de erros sem fim, com batidas em ao menos alguma sessão do final de semana. Só nos Estados Unidos, em Austin, é que o novato enfim conseguiu concluir um GP após dois abandonos seguidos, e ainda contou com as desclassificações de Charles Leclerc e Lewis Hamilton para somar o tão perseguido pontinho.
Foi, aliás, a desculpa perfeita para a Williams empurrar goela abaixo a renovação do #2. Sim, Sargeant subiu cru para a F1, mas a permanência foi injustificável. Nessa, quem sobrou foi Drugovich, que admitiu ter chegado bem perto da Williams, assim como outros pilotos, porém perdeu a vez para o antigo rival de F2.
Em 2024, dificilmente o cenário vai mudar. Albon só melhora com a experiência, tanto que desponta para ser um dos pilotos mais concorridos da próxima silly season. E será mais uma vez ele a carregar uma equipe ainda em processo de renovação nas costas. Se Sargeant não bater, já será um progresso e tanto para a Williams num todo.
▶️ Inscreva-se nos dois canais do GRANDE PRÊMIO no YouTube: GP | GP2
▶️ Conheça o canal do GRANDE PRÊMIO na Twitch clicando aqui!