Retrospectiva 2024: Norris sofre derrota acachapante e bota imagem em xeque na F1
Perder faz parte, mas Lando Norris foi engolido por um Max Verstappen que não teve nem o segundo melhor carro do grid por boa parte da F1 2024. Sem respostas para a força implacável do tetracampeão, o britânico fez as vezes de menino e levantou dúvidas sobre quais facetas terá à disposição para mostrar daqui em diante
O domínio de Lando Norris no GP de Abu Dhabi que encerrou a temporada 2024 da Fórmula 1 deixou o inglês com uma imagem positiva na ida para as férias. Com uma classificação sólida, o piloto da McLaren manteve a liderança em uma primeira volta caótica e praticamente não viu os adversários no caminho para a vitória. Lembrou, inclusive, Max Verstappen em seus melhores dias. A questão é que, quando realmente precisou, Lando não repetiu o modus operandi. E só o futuro vai dizer se a imagem de 2024 é a que vai pairar para sempre sobre ele.
Vivendo uma Fórmula 1 completamente dominada pela Red Bull, Norris entrou na temporada com a sensação de que todos seriam coadjuvantes em mais um título mundial de Verstappen. E o campeonato começou assim mesmo, com vitórias do neerlandês em Bahrein, Arábia Saudita, Japão e China. Das cinco primeiras, só não levou na Austrália — quando o motor quebrou e Carlos Sainz venceu.
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A partir de Miami — portanto, sexta rodada de 24 na temporada —, tudo mudou. A primeira vitória da carreira de Norris foi circunstancial, é verdade, com uma entrada de safety-car maluca que acabou prejudicando Verstappen. O fato, entretanto, é que o inglês assumiu a liderança e abriu vantagem com autoridade até a linha de chegada. A possibilidade de um desafio ao reinado de Max era real.
No GP da Emília-Romanha, uma etapa em que as ultrapassagens são escassas, o talento de Verstappen na classificação fez a diferença. No fim da prova, porém, Norris cresceu de ritmo e passou a descontar vantagem volta a volta. Ficou claro que a McLaren já tinha um conjunto melhor, mas o número de giros impediu o ataque. Ao menos, deixou a sensação do ‘será?’, em um esporte que conviveu com domínios avassaladores nos últimos anos.
Após o tedioso GP de Mônaco vencido por Charles Leclerc, o GP do Canadá manteve a sensação de que a McLaren tinha todas as possibilidades de vencer. E é aí que entra a história sobre a imagem de Norris: o inglês demonstrou todo tipo de dificuldades para tal a partir deste ponto.
Até Monte Carlo, era justo dizer que Norris ainda estava se adaptando a uma nova situação — a primeira vez na carreira em que esteve em posição de buscar a taça. A partir do Canadá, porém, as desculpas foram embora. Com o melhor carro do grid, o inglês simplesmente não conseguiu superar Verstappen, que extraiu tudo de um conjunto que claramente ia se perdendo a cada prova.
Por um lado, a Red Bull implorava para que as pistas urbanas não aparecessem; por outro, a McLaren se encaixava em todo tipo de traçado e colocava Norris constantemente em posição de buscar poles e vitórias. Foram oito largadas da posição de honra em 2024, mas só três delas convertidas em triunfos. Sem perder o posto na volta 1, apenas duas.
Em uma corrida maluca, em que até George Russell teve chance de vencer, Verstappen levou no Canadá. Duas semanas depois, na Espanha, mais um triunfo do então tricampeão. Na Áustria, Norris tentou ‘levantar a voz’ pela primeira vez. Foi para o embate com o amigo na pista e descobriu que disputar com Max é assunto de gente grande: lidou com uma defesa fortíssima do rival, foi tocado e abandonou. Mesmo punido, o neerlandês foi quinto e aumentou de novo a vantagem. Depois da corrida, reclamou, falou até em “perder o respeito” pelo rival e indicou uma mudança de postura — que nunca ocorreu de fato.
As oportunidades perdidas se acumularam a partir daí. Na Inglaterra, um carro claramente melhor não foi capaz de bater a Mercedes de Lewis Hamilton e nem o ritmo de Verstappen, que estava longe de ter o melhor carro — mas foi mais inteligente, leu bem a corrida e escolheu trocar os pneus no momento certo.
O GP da Hungria é um capítulo à parte — e deixa claro como Norris não estava preparado para ser campeão. Em meio a uma patacoada da McLaren, que parou o inglês primeiro e provocou um undercut sobre o companheiro Oscar Piastri, Lando foi ordenado a devolver a posição e demorou uma eternidade para tal. Provavelmente esperando um safety-car, o inglês poderia simplesmente deixar o australiano passar e, então, buscar a vitória sob o argumento do campeonato. É claro, poderia também se recusar e repetir o que tantos outros campeões — ou não — fizeram no passado. Não fez nem um, nem outro. Viu o novato celebrar a primeira vitória e, mais uma vez, não aproveitou a chance de somar 15 pontos a mais que Verstappen.
A história, a partir daí, se repete. Péssima largada na Bélgica, derrota acachapante para Piastri e Ferrari na Itália e problemas na classificação do Azerbaijão, alternados com triunfos em Países Baixos — perdendo a primeira posição na largada e recuperando depois — e Singapura.
Na perna americana, a batalha tomou outro rumo. Já em condições difíceis para desbancar Verstappen, Norris mudou de postura e foi para o embate no GP dos EUA, novamente com derrota: Max usou o regulamento até o limite, forçou o inglês a ultrapassar por fora e só esperou a punição ao rival. No México, atacou com grosseria, empurrou Lando de novo e acabou punido, mas impediu que o inglês buscasse a Ferrari de Sainz para vencer.
No Brasil, uma imagem que simboliza a temporada: na relargada final, enquanto Verstappen parte para cima de Esteban Ocon e o ultrapassa em uma pista encharcada, Norris roda na curva 1. Um símbolo de um piloto que é, sim, rápido e promissor, mas que não está nem perto do nível do tetracampeão mundial.
A imagem que Norris deixa após a batalha de 2024 é de alguém que, além de não estar pronto para o título da Fórmula 1, não está pronto nem para brigar pelo título da Fórmula 1. Não se pode negar a velocidade do inglês, mas erguer uma das taças mais cobiçadas do esporte mundial exige uma gama de habilidades que Lando simplesmente não mostrou: pragmatismo, arrojo, capacidade de tomar decisões difíceis e algum tipo de resposta à genialidade de Verstappen — inegavelmente, um dos maiores de todos os tempos.
Entrar em uma batalha pelo título pela primeira vez com alguém como Verstappen é duro, e isso precisa ser citado. O neerlandês passou do ponto em várias situações ao longo do ano, e Norris não conseguiu responder à altura. Enquanto Max se defendia, inclusive faltando com respeito aos comissários em determinados momentos, Lando lambia as próprias feridas, admitia a superioridade do rival e o elogiava constantemente. Definitivamente, não é esse o caminho para superar o competidor mais implacável do grid.
Para 2025 e além, Norris certamente vai em busca de mudar a imagem pintada este ano. Com um carro que muito provavelmente vai permitir sonhar com vitórias desde a primeira corrida, o inglês tem tudo para avançar casas. Porém, não custa lembrar que a vitória em Miami veio na sexta de 24 rodadas, e o primeiro vislumbre de competitividade foi na China — em que Lando entregou mais uma na largada da sprint.
A chance estava posta, o carro permitia sonhar, mas havia um Verstappen no caminho. Norris não encontrou meios de superá-lo, foi repetidamente derrotado e finalizou o ano sem demonstrar que teria sequer a capacidade de competir realmente. Ficou a imagem de um menino guerreando com um homem. Para o futuro, a melhor forma de extinguir essa visão é aprender com o que aconteceu em 2024 e colocar tudo em prática na pista. Sem o melhor carro, Max foi capaz de superá-lo constantemente e até de desmoralizá-lo em alguns momentos. Que Abu Dhabi tenha sido um divisor de águas para o Norris de 2025.
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