Retrospectiva 2024: Sauber vive ano trágico e foca em futuro com Hülkenberg e Bortoleto
A Sauber ligou o 'modo sobrevivência' e passou a temporada 2024 da Fórmula 1 apenas aguardando a chegada da Audi, que toma controle total das operações a partir de 2026. No entanto, as primeiras peças do tabuleiro já foram movimentadas, e além das chegadas de Nico Hülkenberg e Gabriel Bortoleto, alguns nomes importantes foram contratados para compor o corpo técnico
A Sauber passou 2024 inteiro contando os dias, as horas, minutos e segundos para o fim da temporada. À espera da Audi, que assume o controle total das operações do time de Hinwil em 2026, Guanyu Zhou e Valtteri Bottas sofreram para extrair qualquer desempenho do C44 e, juntos, conseguiram somar apenas 4 pontos na classificação do Mundial de Construtores. No fim, ambos acabaram sendo descartados do projeto.
Depois de cinco anos indo à pista com uma pintura vermelha e branca e sob o nome de Alfa Romeo, os suíços fecharam um novo acordo de patrocínio e mudaram totalmente o visual para o último campeonato. Embora o preto e o verde limão tenham chamado atenção pelo design peculiar, a performance ao longo das 24 corridas não poderia ter sido mais discreta. O foco estava realmente nos bastidores, em tentar arrumar a casa para que a nova dona encontre um ambiente minimamente organizado quando, de fato, tomar as rédeas da situação.
Sem ter sequer um chefe de equipe, Alessandro Alunni Bravi continuou na função de representante da Sauber no pit-wall e viu desde o início os primeiros sinais de que a temporada 2024 seria mais do mesmo — na verdade, até pior do que o certame anterior. No GP do Bahrein, que abriu o campeonato, a escuderia até se colocou à frente da Alpine em questão de ritmo e quase somou o primeiro ponto por lá, com Zhou cruzando a linha de chegada na 11ª posição.
A passagem pela Arábia Saudita serviu mesmo só para turismo, já que tanto Bottas quanto Guanyu tiveram um fim de semana absolutamente terrível e fecharam o domingo com os dois últimos lugares na classificação. O mesmo, porém, não pode ser dito do GP da Austrália. Em Melbourne, a dupla estava em boas condições de tirar proveito dos abandonos de Max Verstappen, da Red Bull, e de Lewis Hamilton e George Russell, da Mercedes, para capitalizar os primeiros tentos do ano, mas dois pit-stops tenebrosos jogaram tudo por água abaixo. É bem verdade que as paradas nos boxes foram o principal pesadelo da Sauber nos primeiros meses, inclusive.

A história se repetiu no Japão, desta vez com Bottas, que teve de se contentar com o 14º lugar mesmo com um bom desempenho. Duas semanas depois, no GP da China, o único ponto que realmente vale qualquer tipo de menção é a festa que a torcida local fez para Zhou, único piloto do país a ter competido na F1 ao longo da história. O ritmo da Sauber em Xangai indicava que era possível terminar no top-10, mas nenhum dos competidores conseguiu tal façanha.
Enquanto que, nas pistas, o time de Hinwil continuava na busca miserável por performance, as peças do tabuleiro da Audi começaram a ser movimentadas nos bastidores. No dia 26 de abril, pouco antes da equipe embarcar para o GP de Miami, Nico Hülkenberg foi anunciado como reforço para 2025 e além, já que o objetivo do alemão é ajudar os compatriotas a dar os primeiros passos da maneira certa quando o novo regulamento entrar em vigor, daqui a pouco mais de um ano.
A partir daquele momento, Bottas e Zhou começaram um duelo interno para ver quem seria capaz de provar que merecia o segundo assento. Nas etapas na Flórida e na Emília-Romanha, o chinês conseguiu ser melhor que o companheiro, mas nada muito digno de destaque, pois mesmo quando a dupla dava sinais de que poderia desempenhar bem, o carro só perdia ritmo em relação às rivais e acabava com qualquer fio de esperança. Para se ter uma ideia, com os 2 pontos conquistados por Alexander Albon no GP de Mônaco, a problemática Williams somou os primeiros tentos do ano e deixou a Sauber amargando, zerada e solitária, a última posição na classificação após oito corridas.
O restante da temporada 2024 foi mais do mesmo. A única exceção, de fato, foram os 4 pontos alcançados por Zhou no GP do Catar, penúltimo do ano. Em uma prova repleta de incidentes, o #24 conseguiu ficar longe de problemas e cruzou a linha de chegada na oitava posição. Bottas também foi bem no circuito de Lusail e ficou muito perto de acompanhar o colega no top-10, mas um toque de Liam Lawson atrapalhou demais o finlandês, que terminou em 11º. O resultado não tirou os suíços da lanterninha da tabela, mas as atualizações tardias e a melhora visível no C44 deixaram a escuderia com uma perspectiva um pouco mais positiva para 2025.

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Mas há muito mais a ser analisado fora dos limites de pista. Após o anúncio da chegada de Hülkenberg, as primeiras mudanças no comando do projeto se desenrolaram de maneira forçada e davam um tom dramático ao que estava acontecendo. Contratado para assumir a função de CEO, Andreas Seidl acabou sendo demitido juntamente com Oliver Hoffmann, ex-presidente do conselho de administração da empresa, pois os dois se envolveram em uma guerra interna de poder. Além disso, o fracasso do ex-McLaren em não conseguir atrair Carlos Sainz para 2025 pesou na decisão de Gernot Döllner, diretor-executivo da marca das quatro argolas.
Para suprir as saídas dos dois dirigentes, a Audi surpreendeu e anunciou Mattia Binotto para os cargos de diretor-operacional e diretor-técnico. Longe da Fórmula 1 desde que deixou o posto de chefe de equipe da Ferrari, em 2022, o italiano já chegou com a responsabilidade de escolher o companheiro de Nico para os próximos anos. Apesar de conhecer Sainz de outros carnavais, a amizade entre as partes não foi o suficiente para convencer o espanhol de que a Audi seria um caminho melhor a seguir do que a Williams, com quem assinou contrato.
De qualquer maneira, Binotto também ficou responsável por ocupar a função de chefe de equipe até julho do próximo ano, enquanto a Sauber aguarda ansiosamente pelo ingresso de Jonathan Wheatley, diretor-esportivo da Red Bull nos últimos 16 anos. O experiente dirigente será responsável por comandar a performance da equipe, o lado operacional na categoria e representar publicamente o time.

Por fim, mas não menos importante, aconteceu a decisão final sobre o segundo piloto para 2025. Depois de muitas especulações, que levantaram nomes como os de Álex Palou — estrela da Indy — e Mick Schumacher, e que, inclusive, colocaram Bottas como grande favorito à renovação de mais um ano do acordo, a Sauber esperou o GP de São Paulo passar para anunciar, no dia 6 de novembro, a escolha por Gabriel Bortoleto. Depois do sucesso na Fórmula 3 e Fórmula 2, o brasileiro chegou a um consenso com a McLaren e foi liberado para assinar com a Audi para os próximos anos.
De fato, foram poucos os momentos de alegria em 2024. O próprio Binotto, inclusive, chegou a criticar o modus operandi da Sauber ao longo do certame, dizendo que os suíços adotaram uma “mentalidade de sobrevivência” ao decidir esperar por dias melhores no futuro, mas não fazendo nada no presente para tentar reverter o atual quadro. Mas muitas mudanças ainda são esperadas em 2025, considerando que a montadora alemã deixou claro por diversas vezes a intenção de adquirir 100% das ações do time ainda em janeiro e, desta forma, adiantar alguns passos no processo de tomada de decisões.
Apesar de uma temporada completamente esquecível nas pistas, as escolhas feitas no corpo técnico indicam que a mentalidade está mudando aos poucos, embora os contratados ainda precisem se provar. Ao mesmo tempo, optar por Hülkenberg e Bortoleto deixou a impressão positiva de que a meta está no médio para longo prazo, mas sem esquecer que os primeiros passos no novo regulamento são importantíssimos para não ficar muito atrás das rivais.
A Fórmula 1 agora está oficialmente de férias e dá adeus a 2024. A próxima atividade é exatamente a sessão única de testes coletivos de pré-temporada, marcada para os dias 26, 27 e 28 de fevereiro, no Bahrein. A temporada 2025 começa com o GP da Austrália, nos dias 14-16 de março.

